Sanditon - Segunda Fase (Fanfic)

Capítulo I

[Um mês após o retorno de Charlotte para Wellington - Último episódio 1x8]

Ela sentia falta do mar.

Do ar salgado que permeava a cidade, da luz do Sol que penetrava com tonalidades diferentes as nuvens da manhã. Tinha saudades de caminhar pela areia, colher conchas curiosas e refrescar-se em meio às ondas de borbulhas tão alvas.

Sentia falta de Sanditon.

Das pessoas, dos lugares, das conversas e experiências.

Sim, das experiências. E, lembrando-se delas...

Sentia falta de Sidney.

Por mais que tentasse negar a si mesma, era sempre esta a falta que mais se fazia presente, principalmente, nos momentos em que ficava sozinha, imersa em seus pensamentos.

É verdade que, com tantos irmãos residindo na mesma casa, não eram momentos assim muito recorrentes. Mas de qualquer maneira, quando estes existiam, era sempre o mesmo destino que tomavam suas reflexões: Sidney Parker.

Como era possível a lembrança de um único nome causar tanto rebuliço dentro de si?

Charlotte engoliu seco, a respiração lhe faltava. Sentia-se incorreta, praticamente imoral ao pensar de tal forma sobre o noivo de outra mulher, mas sabia ser incapaz de evitar.

Como poderia, tendo ainda tão frescas em suas memórias as palavras de carinho que ele a ofertara? Sendo capaz de ainda sentir nos próprios lábios o gosto do homem que a dera seu primeiro e único beijo...

— Não, Charlotte! — Ao repreender-se, a moça se levantou, impaciente consigo mesma.

Empurrou a banqueta da penteadeira com força, tirando-a de seu caminho, e resolveu caminhar pelo quarto que dividia com a irmã, Alisson.

Sua mente, com toda certeza, precisava de ar, atividade, movimento.

Assim como no mar, em seus pensamentos, a calmaria lhe possibilitava enxergar com profundidade, e ela sabia que nada de bom poderia surgir-lhe se fizesse isto.

Ele estaria lá.

Seu olhar profundo a consumiria, a lembrança do perfume intenso a arrebataria, e as memórias que tinha do bramido único de sua voz a conduziriam à uma realidade já impossibilitada de existir.

Uma na qual ele a chamava pelo nome. Na qual ele a tocava, acariciava e...

— Charlotte?

O tom de Alisson fora sutil, mas suficiente para fazê-la despertar dos novos devaneios aos quais, apenas então, notava que havia voltado a ter-se entregue.

— Ah...! — Limpou a garganta, percebendo que o tom de surpresa estava altamente comprometedor. — Pois não, minha querida? — Soou com maior tranquilidade desta vez, aproximando-se da porta.

— Mamãe pediu para que lhe chamasse... Me parece que acaba de chegar uma senhora que deseja visitá-la.

— A mim? — Os olhos de Charlotte esbugalharam-se.

Quem poderia desejar vê-la?

— Bom, foi o que compreendi. — A mais jovem esclareceu. — Talvez seja uma amiga que fez no litoral...

O coração de Charlotte irradiou-se.

Seria possível receber a visita de Georgiana?

A presença da amiga em Wellington certamente faria a cidade voltar a ser capaz de entusiasmá-la de alguma maneira já que, passado um mês desde seu retorno, sentia-se incapaz de encontrar ali o encanto que anteriormente a mantinha cativada.