Capítulo XI

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Uma brisa suave era responsável por refrescar os convidados em uma tarde na qual o sol se fazia mais presente do que de costume para aquela época do ano. Apesar de já não encontrar-se em seu ponto mais alto no céu, o astro também não encontrava-se perto do horário de se pôr, apesar dos raios já brilharem alaranjados por entre as sombras provindas dos altos ciprestes do jardim de Lady Denham. Uma música agradável era entoada ao fundo por um pequeno, mas elegante, quarteto, e os convidados pareciam apreciar muito todo o ambiente, bem como, o evento em si.

— Ah, boa tarde, Lady Denham. — Mary comprimentou a anfitriã assim que a viu caminhar diante de si, com um disciplinado funcionário segurando-lhe a sombrinha.

A seu lado vinha Lady Susan, graciosa como sempre, realizando junto dela uma vênia de perfeita educação.

— Oh, Sra. Parker. — A anfitriã deu um sorriso à mulher de cabelos claros, retribuindo a vênia em um aceno de cabeça. — Lady Worcester. — Retribuiu também à outra, demorando-se um pouco para prosseguir com sua fala. — Admito que não possuía certeza de que aceitaria meu convite para esta pequena recepção em meu jardim.

Mary sabia que Lady D. não referia-se à ela e, desta forma, olhou para Susan, no aguardo do que a dama poderia responder.

— Me senti extremamente honrada com o convite, Lady Denham, posso assegurá-la. — Susan a respondeu com a classe e polidez sempre dignas de si. — Sinto em não ter permanecido o tempo necessário para realizar-lhe uma visita de cortesia da última vez que estive em Sanditon.

Lady D. torceu os lábios, um pouco próxima de repuxá-los em um sorriso, mas sem efetivamente fazê-lo. Havia aprovado o fato de Lady Susan ter notado rapidamente a que se dava a própria modéstia. Afinal de contas não era comum, sequer educado, que um membro da aristocracia visitasse a cidade sem reservar um tempo para vê-la, sendo a figura de maior prestígio e renome.

Para muitos, poderia soar como puro comportamento esnobe mas, para Lady D. tratava-se apenas do correto a ser feito, uma questão de respeito à tradição.

— Não creio que isto tenha efetivamente figurado-se em um pedido de desculpas, mas eu as concedo mesmo assim. — A idosa balançou a mão, em um gesto enérgico. — Pois bem, e onde encontra-se a Srta. Heywood? Soube que ela voltou a cidade como vossa companhia.

— A Srta. Heywood deve estar prestes a chegar. — Adiantou-se Mary, sem sequer perceber que a pergunta não havia sido direcionada à ela. — Está vindo na companhia do Jovem Stringer. — Completou.

— Ora essa, mas isto sim é novidade. — Lady Denham deu um curto riso anasalado. — Finalmente o jovem resolveu agir, já era em tempo de deixar de apenas seguí-la como um cachorrinho babão.

Mary mordeu os lábios, completamente sem jeito, e Susan levou uma mão enluvada à frente da boca, buscando esconder um riso.

— Ora essa, não adianta portarem-se como seu eu tivesse dito qualquer absurdo. Todos eram capazes de ver o quanto o pobre rapaz agonizava frente a falta de interesse dela. — A senhora abanou-se um pouco com o leque para, rapidamente, prosseguir. — Não fosse o pequena distração de seu vistoso cunhado durante a primeira estadia da moça aqui, creio que ele já a teria apanhado.

— Lady Denham! — Desta vez, Mary ficara completamente encabulada.

— O quê? Vai me dizer agora que também acreditava que não havíamos sido todos nós capazes de ver o quanto estavam enamorados? — Deu ombros. — Creio que ela tenha tido sorte dos arranjos matrimoniais dele terem sido estabelecidos com extrema agilidade, antes de entregar-se à tentação... Apenas aquelas que já foram tentadas em algo parecido conseguem compreender o mérito que dou à Srta. Heywood por isto. — Ignorando por completo a boca aberta de Mary, a anfitriã ainda concluiu. — Não concorda comigo, Lady Worcester? — Apertou discretamente os olhos, deixando claro a Susan que, conforme a mulher já imaginava, tratava-se apenas de mais uma a conhecer sua delicada posição.

Sanditon - Segunda Fase (Fanfic)Onde histórias criam vida. Descubra agora