Capítulo XIV

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Na tarde anterior, antes de despedirem-se, Esther convidara Charlotte para caminhar pela cidade na manhã seguinte, assumindo para a donzela que, por vezes, sentia falta de poder conversar com outra mulher. Apesar de notá-la claramente sem jeito para falar de modo claro, Charlotte percebia que o que Lady Babbington tencionava lhe contar é que sentia falta de ter uma amiga. E ela, apesar de contar com a estima de Lady Susan e Mary, por vezes, também sentia-se assim desde que afastara-se de Georgiana e deixara Alisson em Wellington. Mary passava a maior parte do dia desprendendo cuidados à suas crianças, e Susan, apesar de ser uma amiga extremamente solícita, não raras vezes, mantinha-se um tanto reclusa, em ocasiões em que Charlotte sabia que buscava, secretamente, suspirar por seus lamentos amorosos, dos quais jamais tencionava queixar-se. Não era fácil para Lady Susan ser quem era e, principalmente, com quem era, mas ela havia aprendido a, ao longo dos anos, forjar ferramentas que a ajudavam a manter-se bem, como válvulas de escape necessárias, às quais Charlotte sabia que deveria respeitar.

Sendo assim, não eram raras as manhãs em que a primogênita dos Heywood entretinha-se somente com seus livros, o que de qualquer maneira poderia pela manhã seguinte esperar pois, naquele dia, resolveu aceitar o convite de Lady Babington, estando as duas logo nas primeiras horas da manhã a caminhar pelas ruas com cheiro de maresia, orvalho e pão fresco.

Os passos eram tranquilos, enquanto as saias leves dos vestidos diurnos e claros roçavam-se nos pedregulhos que cobriam as ruas e elas observavam as vitrines das lojas que começavam a abrir.

Apesar de ter realizado o convite para o passeio antes de voltar a ver o marido, Esther não imaginava que seria tão difícil fazê-lo sem poder dizer sequer uma palavra do que, na noite anterior, havia descoberto. Obviamente, Lorde Babington sequer tentou manter a conversa que tivera com Sidney em segredo, tendo compartilhado com ela toda a resolução que, juntos, haviam encontrado. Admirada com a postura do marido e com a generosidade que a mesma demonstrava, a ruiva lembrava-se de ter pulado em seus braços, o agradecendo por ter auxiliado na resolução daquela triste situação na qual ela, desde aquela tarde, não havia conseguido deixar de pensar. Em resposta, o lorde apenas a elucidou o quanto a amizade de Sidney significava para si, assim com era capaz de, apenas após tê-la em sua vida, reconhecer que um amor verdadeiro não se poderia deixar escapar. Ela então o abraçara com ainda mais ternura, envolvendo-o em seguida em beijos apaixonados, dos quais ele apenas afastou-se por um único instante para pedí-la que não dissesse nada à Stra. Heywood até que Sidney o fizesse.

— Não direi uma única palavra. — Prometera a dama solenemente, logo em seguida sendo novamente beijada de forma apaixonada, até deixarem-se outra vez tomados pela paixão, que os comandava desde o casamento.

— Que lindo chapéu. — Charlotte comentou, observando a senhora de meia idade que trocava o item disposto no mostruário.

Desperta de suas lembranças, Esther piscou algumas vezes, observando em seguida o item com o olhar crítico que lhe era nato, deixando-se concordar em um aceno de cabeça.

— De fato, mais bonito do que todos os outros que já vi aqui. — A ruiva cessou os passos, observando-a com os olhos iluminados. — Porque não o compra? Creio que combinará muitíssimo com seu rosto.

— Oh, não! — Charlotte rapidamente afastou a possibilidade. — Comprei um há apenas dois dias para ir ao chá de vossa tia, e devo confessar que não disponho de recursos suficientes para comprá-los apenas por diversão. — Sorriu, sem vergonha alguma ao admitir, voltando a entoar um caminhar leve, fazendo Esther seguí-la. — Além do mais, mesmo se os tivesse, penso que utilizaria para outros fins como prioridades... — Observou ao céu claro, sonhadora.

— E estes seriam...?

— Gostaria de conhecer o mundo. — Charlotte respondeu enquanto lhe sorriu com os olhos, apertando-os graciosamente. — Ao menos a parte dele em que é permitido que as mulheres o faça. — Deu ombros.

Sanditon - Segunda Fase (Fanfic)Onde histórias criam vida. Descubra agora