Sanditon - Segunda Fase (Fanfic)

Capítulo XXII

Os lençóis eram macios e de excelente qualidade, mas tal conforto não fora suficiente para ajudá-la a dormir.

Remexendo-se na cama por horas, Lady Susan manteve-se completamente distante das concepções sobre o tempo, não tendo-o notado passar. Seus pensamentos permaneciam presos à apenas um momento e ela revisitava as lembranças pertinentes à este, buscando elencar para si mesma as razões pelas quais os fatos expostos ali não poderiam ser alterados.

As razões pelas quais não poderia, mesmo se desejasse, correr até a casa de James Stringer e dizer-lhe que ansiava mais do que tudo ser ela a tal dama em posse do próprio coração, que seria muito feliz em ofertá-lo.

Susan jamais fora do tipo de mulher que lamentava-se por suas escolhas, ciente de que o passado não se é possível alterar. Entretanto, após beijar Stringer, havia sentido que as escolhas que fizera no seu já não eram as mesmas que poderiam seguir representando aquilo que almejava para si. A vida que há anos levava, já não correspondia àquilo pelo que verdadeiramente suplicava seu coração. O homem que acreditava estar destinada a amar por toda a existência, já não era o responsável por roubar-lhe seus suspiros. Estes agora possuíam outro como causador, um homem completamente diferente, que chegava a ser curiosamente oposto... Um que possuía os olhos e sorriso mais gentis que a dama já pudera admirar, bem como a alma mais bondosa que chegara a conhecer.

Uma para qual Susan então percebia que estaria disposta a entregar a própria, abrindo mão de tudo o que possuía, se pudesse ter certeza de que uma entrega em recíproca também ocorreria.

Como poderia dar um passo tão grande, tão definitivo, se não era possível saber o que Stringer estaria disposto a lhe ofertar?

Ele poderia ter se demonstrado abalado com o beijo, mas ela considerou que seria o esperado a acontecer se o mesmo fosse compartilhado de forma inesperada com qualquer outra. Não deveria iludir-se imaginando que era este um reflexo de sentimentos que apenas então teriam sido despertos no peito dele...

E, mesmo que assim o fosse, o que uma dama como ela poderia oferecer?

A jovialidade já a havia deixado há muito tempo, junto de sua inocência, e eram estes quesitos que um jovem como Stinger, certamente, deveria buscar em uma pretendente.

— Ah, céus... — Suspirou alto, deixando a breve súplica escapar.

Resolvendo que não adiantaria permanecer deitada, a dama se levantou, caminhando pelo aposentos na esperança de que a atividade a ajudasse a pensar.

Se por um lado a mente tentava convencê-la de forma pragmática que o assunto com Stringer já devia ser considerado como resolvido, do outro, aquele era um final que o próprio coração não demonstrava estar disposto a aceitar.

***

Os relógios ainda não haviam marcado nem seis da manhã, mas Charlotte já caminhava pelos jardins da mansão.

Não havia sido capaz de pregar os olhos por sequer alguns minutos naquela noite, tendo dado-se ao trabalho de apenas esperar que a claridade do novo dia se pronunciasse através das cortinas azuis de seus aposentos para trocar sua camisola por um vestido, cobrir-se com um casaco, e descer para caminhar entre as fileiras de ciprestes que rodeavam a área externa.

Além da óbvia ansiedade que lhe percorria o estômago ao considerar que logo estaria junto de Sidney, também imaginava que seria aquele o momento e cenário oportunos para, finalmente, ter uma ideia sobre o que poderia lhe dizer.

Na noite anterior o havia realizado o convite do encontro matinal tanto para conseguir auxiliar Georgiana quanto para se ver livre de ter de responder aos dizeres dele, mas via-se sem conseguir distinguir aquilo que, de fato, desejava permitir que seu coração exteriorizasse.