Capítulo XIII

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Diferentemente do que Charlotte imaginava, Esther mostrou-se extremamente compreensiva sobre sua situação e, mais ainda, solidária. A moça de cabelos rubros não teceu sequer um comentário afetado ou ofensivo em relação à situação comprometedora na qual a havia flagrado com Sidney Parker, mas também não buscou conversar sobre frivolidades enquanto caminhavam de volta ao jardim, como Charlotte sabia que faria, caso tivesse realmente acreditado na desculpa que inventaram.

— Agradeço pelo companhia, Lady Babington. — Charlotte sabia que as bochechas ainda deveriam estar coradas e, por esta razão, limitou-se a agradecer com a face levemente baixa assim que chegaram na porta dos fundos da mansão.

Ela sequer esperou que senhora lhe respondesse, já virando-se para caminhar em direção ao jardim, quando sentiu Esther segurá-la levemente pela mão.

— Se desejar, terá uma amiga aqui, Charlotte. — A ruiva falava baixo, tomando cuidado para não ser ouvida por nenhum dos convidados que caminhavam à certa distância. — Mais do que ninguém, conheço o quão difícil pode ser á nós, mulheres, escaparmos das armadilhas que, por vezes, nossos corações constroem.

Charlotte não desejava que fosse assim, mas ainda estava demasiadamente sensível pelos últimos acontecimentos e sentiu que seus olhos umedeceram com os dizeres.

Unindo os lábios, Esther a observou com uma expressão penalizada, acariciando de leve a mão da moça, com o polegar.

— O que acha de ficarmos mais um tempo aqui dentro antes de retornarmos ao jardim?

— Seria ótimo. — Charlotte a respondeu com um misto de sinceridade e alívio, enquanto levava a mão enluvada a secar a lágrima que já escorria.

Juntas, caminharam em direção à uma sala discreta e privada onde, depois de muito tempo, Charlotte voltara a abrir para alguém seu coração acerca de Sidney Parker e tudo aquilo que (infelizmente) ainda sentia pelo cavalheiro em questão.

...

As paredes pareciam movimentar-se de maneira torpe e os passos de Babington ecoavam pela mente de Sidney à uma altura que o estava deixando exageradamente enfurecido.

— Pelo amor de Deus, homem, pare de caminhar! — A súplica fora feita em um rugido mal humorado e rouco, enquanto Parker tinha as mãos espalmadas na robusta mesa de carvalho que ficava ao centro do cômodo.

— Não é minha culpa se bebeu mais do que o indicado para dado horário do dia. — Babington deu ombros com forçada arrogância, dando a volta na mesa, sentando-se de frente para o outro. — Bebia por ela, verdade? A Srta. Heywood.

— Não diga tolices. — Sidney o ergueu o olhar, sem alterar a postura. — E desde quando trata-se de um guardião dos bons modos e etiquetas sociais? — o acusou. — Pelo que me lembro, na maior parte das vezes, era você o primeiro de nós a encontrar-se embriagado logo pela manhã, em grande parte dos dias que compartilhávamos em Londres.

— Ora, mas isto foi antes. — Babington riu com algum humor ao lembrar-se de sua vida boêmia. — Finalmente tornei-me um homem, Parker.

— Das bênçãos, do casamento... — Sidney o retornou em tom desdenhoso, voltando o olhar para a mesa na qual apoiava o corpo.

O amigo, então, o encarou silencioso mais uma vez, antes de prosseguir.

— Devo dizer que poucas vezes estive com um noivo tão entusiasmado para contrair suas bodas.

— Não faça isso, Babington. — Novamente, Sidney apenas erguia o olhar para ameaçá-lo.

— Não faça o quê?— Ele ergueu as mãos com as palmas para cima, em um gesto forçado de inocência.

Sanditon - Segunda Fase (Fanfic)Onde histórias criam vida. Descubra agora