Sanditon - Segunda Fase (Fanfic)

Capítulo XVI

Na manhã seguinte, um fino sereno caía enquanto Lady Susan preparava-se para entrar na carruagem, em frente de sua residência, quando uma voz familiar a chamou.

— Ah, bom dia, Sr. Stringer.— A dama voltou-se para o rapaz, realizando uma delicada vênia, com sua sombrinha lilás em mãos.

— Bom dia, milady. — Stringer correspondeu a formalidade. — Não tinha a intenção de atrapalhar, mas gostaria de saber se... — Lançou olhares bastantes significativos em direção à casa.

— Oh, sim. — Susan rapidamente compreendeu. — Ela está melhor. — Respondeu em tom afável, sabendo que ele buscava notícias de Charlotte. — Em realidade, peço que sinta-se à vontade para entrar, se desejar vê-la.

James mordeu os lábios, esfregando a ponta da bota no chão coberto por pedregulhos que começavam a tornar-se úmidos.

— Creio que ainda não seja a hora certa. — Ofereceu um leve riso de resignação à dama. — Pretendo deixar que Charlotte escolha o momento para voltarmos às visitas. — Ergueu ligeiramente os ombros. — Desejo que ela se sinta confortável. Em realidade, era quem eu pretendia ver quando resolvi caminhar até aqui. — Confessou. — Imaginei que poderia me ofertar algum parecer sobre ela.

Susan o observou com olhos de completa admiração.

— É muito gentil de vossa parte desejar esperar pelo tempo de Charlotte, Sr. Stringer.

Um tanto encabulado, James abaixou a face, sorrindo sem jeito.

— Por favor, me chame apenas de Stringer. — Pediu.

Era curioso, e ligeiramente indevido, ele sabia, mas sentia-se verdadeiramente à vontade próximo dela. Lady Susan era aquele tipo de pessoa que transbordava gentileza e boa vontade, e isto, para James, explicava a sensação.

— Como desejar... Stringer. — A dama sorriu ao pontuar o nome, mas o fez com extrema polidez.

— Bom, se me der licença, creio que devo seguir meu caminho agora, antes que o sereno torne-se mais denso. — O rapaz comunicou, segurando a borda do chapéu para despedir-se.

Lady Susan observou que ele começava a caminhar na mesma direção em que pretendia ir, e sequer pensou duas vezes, oferecendo-o uma carona.

— Agradeço a gentileza, mas não é necessário preocupar-se, Lady Susan...Não pretendo atrapalhar. — Stringer disse, prontamente.

— Não o fará, eu lhe garanto. — Susan o estimulou, apontando para a carruagem com os dedos cobertos por sua luva cinzenta. — Além do mais, pelo que noto, seguiremos ambos pela mesma direção.

Stringer considerou por alguns instantes mas, na sequência, acabou caminhando de volta até ela, ostentando um sorriso de verdadeira gratidão.

— Ao menos dê-me a honra, milady. — Ele esticou a própria mão para ela, ofertando-se para ajudá-la a subir no veículo.

Susan aceitou o gesto cavalheiresco, bastante impressionada, segurando-se na mão do rapaz para auxiliá-la enquanto subia.

Stringer poderia não ter um sobrenome abastado, fortuna ou terras, mas tornava-se inegável para ela que possuía mais honra do que muitos dos homens detentores de tudo aquilo, que em sua longa vida conhecera.

...

Mesmo com nuvens baixas e ar frio, o dia parecia fazer à Charlotte um convite para que fosse até a praia. A moça sabia que arriscava-se em tomar uma possível chuva, mas a verdade era que as paredes da casa pareciam fechar-se ao seu redor, prestes a sufocá-la, fazendo-a ter certeza de que precisava de sair ao ar livre. Precisava sentir os cabelos embaraçando-se pela brisa, o ar salgado acariciando sua pele e, se fosse sincera consigo mesma sobre os próprios anseios, os pés molhados pela água fria do oceano.