Capítulo II

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Ao entrarem no aconchegante escritório, Charlotte convidou Lady Susan para sentar-se a seu lado no único estufado do recinto, de tons azulados.

Olhando com sinceridade à mais jovem e segurando-lhe com carinho nas mãos, a dama não demorou a tocar no assunto que mais desejava.

— O que houve exatamente em Sanditon, minha querida?

Charlotte remexeu-se, um tanto desconfortável.

Não seria inocente a ponto de ignorar que esta seria a motivação de Lady Susan em desejar conversar de forma privada consigo mas, ainda assim, compreender que teria de voltar a falar sobre o que havia acontecido à si no litoral, falar sobre Sidney, a deixava inquieta. Tratava-se de tocar em feridas ainda muito frescas, pouco ou quase nada cicatrizadas. No entanto, sabia também que sentiria-se melhor se tivesse alguém com quem compartilhar tudo aquilo que se passava em seu interior, tendo sido através desta última reflexão que decidiu que deveria fazê-lo.

...

Charlotte não havia chorado em nenhum momento durante o relato, por mais que, em diversas vezes, tivesse sentido um ardor característico percorrer-lhe a parte de trás dos olhos. Ainda assim, a compaixão com a qual Lady Suzan a observava a deixava nítido que a mulher conseguia compreender a magnitude que os fatos que lhe contava possuíam sobre seus sentimentos e sobre si.

— Oh, Charlotte... — A mulher uniu as sobrancelhas, penalizada, acariciando-lhe as mãos. — Sinto muito por tudo isto, minha querida. — Soou sincera. — Se ao menos tivesse ciência de tudo o que aconteceu em minha ausência, teria tido a decência de escrevê-la quando penso que fizeram-lhe falta palavras amigas.

Charlotte sorriu.

Lady Susan era sempre tão delicada ao tratar sobre si.

— Temo que tenha sido eu uma péssima amiga, visto que não a informei sobre nada. — Buscou realizar um comentário humorado, amenizando o clima.

— Se o tivesse feito, poderíamos ter trocado missivas com palavras nada agradáveis sobre ele, o que, em minha opinião, é um ótimo exercício neste tipo de situação.

Trocaram um riso travesso, de amizade sincera.

— Mas sabe, apesar de tudo, peço para que não faça um mau julgamento sobre o Sir. Parker... Creio que tenha feito justamente o correto, por motivos que deveria considerar, e não há como dizer que tenha omitido de mim qualquer verdade. — Pediu a mais nova, buscando ser justa.

Charlotte não havia compartilhado com Susan o fato do dote de Lady Eliza ter sido o fator decisivo na proposta de casamento realizada por Sidney mas sabia que, dada a situação que encontrava-se a família Parker, seria esta a conclusão à qual qualquer um chegaria.

— Sidney Parker não seria o primeiro nem último homem a propor casamento possuindo interesses financeiros como norte, minha querida. — À sua maneira, Lady Susan a tranquilizou. — Além do mais eu, mais do que muitos, lhe estaria sendo hipócrita se dissesse que desaprovo tal artimanha social. — Ergueu delicadamente uma sobrancelha à Charlotte, deixando claro que a própria história não era isenta de infortúnios e escolhas difíceis. — És dona de um coração imenso, Charlotte por, apesar de tudo, ainda preocupar-se com aquilo que irei pensar sobre ele.

A moça permaneceu silenciosa por um momento, baixando o olhar, um tanto encabulada. Sabia que sua atitude deixava claro um reflexo daquilo que ainda sentia em seu coração em relação ao cavaleiro em questão. Em seguida, concluiu simplesmente, com apenas uma fração de todas as concepções que possuía sobre ele sendo compartilhada:

— Trata-se de um bom homem...

— Imagino que sim. — Susan concordou, voltando a sorrir-lhe com delicadeza. — Charlotte, gostaria de poder ajudá-la de alguma forma.

Sanditon - Segunda Fase (Fanfic)Onde histórias criam vida. Descubra agora