Capítulo VII

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Ao ver-se confinado com Charlotte no diminuto espaço, Sidney sentiu-se um idiota. O maior deles.

Mas que diabos estava se passando por sua cabeça ao concordar com aquela tortura?

Eles estavam sentados cada um em um banco do interior da carruagem, tendo Charlotte naturalmente escorregado para a ponta oposta à dele mas, ainda assim, era simplesmente impossível deixar de sentir a maneira como o perfume dela exalava, flutuava e fundia-se ao ar.

Um aroma fresco, tão específico, tão dela, que era capaz de fazê-lo automaticamente voltar a sentir o sabor de seus lábios, a maciez de sua pele, de seus cabelos e...

Sidney desviou imediatamente o olhar, assim que ela levantou os olhos para si. Sequer havia reparado há quanto tempo a observava até então. O fundo de sua racionalidade, entretanto, mostrava-se ainda presente, fazendo ao menos ter a decência de dissimular que não a consumia em sua observação saudosa.

Charlotte sentia a pele queimar e sabia que poderia ser tudo obra de sua imaginação, tendo os pensamentos confusos e embaralhados pela presença dele, que tornava-se ainda mais imponente através do perfume que invadia seus sentidos. Mas era capaz de jurar que tal sensação tinha algo relacionado ao provável olhar que Sidney lançava sobre si. Entretanto, ela não poderia erguer os olhos para confirmar isto, e não poderia por duas razões: a primeira é que duvidava muito que saberia o que fazer ou dizer se o visse com aqueles olhos absurdamente intensos sobre si; e a segunda, é que não desejava cometer a indiscrição de ser ela a ser flagrada lançando-lhe um olhar indevido, principalmente por saber que talvez (ou bem provavelmente) não seria capaz de desviá-lo antes de ser pega, ficando sem saber onde enfiar a face de tanta vergonha.

O problema era que, mesmo levando em conta tais considerações, ela sentia-se tomada por uma curiosidade absurda em descobrir se, realmente, ele a observava há tanto tempo quanto imaginava. A curiosidade sempre fora uma das características mais irrefreáveis existentes em si, e Charlotte temia o dia em que a levaria à mais completa perdição. Lembrava-se que, desde criança, fora sempre a responsável por enfiá-la nas maiores emboscadas...

... Mas também, a proporcionar-lhe as melhores emoções.

A própria mente fora responsável em criar o contra argumento, a traidora.

E, conforme Charlotte havia imaginado que seria impossível evitar, logo estava ela movimentando rapidamente a face para tirar de vez a infeliz dúvida.

Ela fora discreta, ao menos considerou estar sendo, mas quando finalmente seus olhos pousaram sobre a figura dele, viu um Sidney bastante compenetrado em observar a paisagem dinâmica oferecida pela janela, enquanto um misto indevido de alívio e decepção a tomavam ao fundo do peito.

Parker notou que ela havia erguido o olhar para si, provavelmente sentindo que ele a observava, e havia virado-se para a janela com bastante habilidade. Entretanto, logo fora ele a ser capturado pela sensação de que o olhar de Charlotte pairava insistentemente sobre si.

Uma vontade irresistível de pegá-la em tal situação o atingiu.

Ele pegou-se imaginando sobre o quão adorável seria o rubor que veria aflorando-se na face inocente de Charlotte.

Virou-se para ela.

O olhar dela voltou a cair, mas o fizera com alguns segundos de atraso.

— Eu vi. — Ele não resistiu em provocá-la.

Charlotte mordeu a parte interna da bochecha.

— Perdão? — Ela então o ergueu a face, com uma expressão bastante determinada de incompreensão.

Sanditon - Segunda Fase (Fanfic)Onde histórias criam vida. Descubra agora