Capítulo 14 - Estevão.

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Continuo deitado no alojamento que fica localizado a alguns metros de distância de onde foi montado o cinema para o povo do vilarejo

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Continuo deitado no alojamento que fica localizado a alguns metros de distância de onde foi montado o cinema para o povo do vilarejo. Daqui, consigo escutar a música de fundo do filme e algumas falas dos personagens. Estou com meus pensamentos a mil, não consigo organizá-los, estruturá-lo em minha mente confusa para ter uma conversa coerente com Maria. Hoje terei a chance de me explicar e pedir seu perdão. Sei que não será fácil para nenhum dos dois ouvir e falar o que sentem, relembrar o passado nos causa dor. Cutucar a ferida é sempre dolorido demais, mas precisamos retirar a casca infeccionada, limpar o ferimento e deixá-lo cicatrizar tapando-o para que nada venha contaminar novamente.

Suspiro e olho para o relógio em meu pulso e decido me levantar. Não me alimentei e sinto meu estômago reclamar por falta de alimento. Levanto-me, ajeito a cama e saio trancando a porta. Me encaminho até onde as pessoas estão, ouvindo os risos fáceis das crianças que estão correndo brincando de pega-pega ou algo do tipo. Vejo ao longe que o filme já terminou, e colocaram alguns clipes de cantores famosos para tocar enquanto as pessoas conversam e se confraternizam. Vou me aproximando e fico ao lado do tenente Silva que além de ser um excelente profissional é meu amigo dentro e fora do batalhão. Foi ele quem me avisou sobre as fugas de Emília quando ainda estava em Barra Branco. Silva ou para os íntimos, Miguel é um cara gente boa, centrado e brincalhão -as vezes- além de ser um grande amigo.

– Como vai tenente Mordok? – Ele pergunta assim que me aproximo. – Não te vi por aqui, aconteceu alguma coisa? – Miguel me olha desconfiado. Vou até a mesa onde estão as comidas e pego um copo preenchendo com suco, pego um prato e coloco algumas das iguarias que estão dispostas sobre a enorme mesa, volto e fico ao seu lado e passo a comer.

– Eu não estou bem Miguel. – Sento-me em uma das cadeiras espalhadas e Miguel faz o mesmo. – Você conhece toda a minha história, todo o meu passado. – Mastigo e engulo um bolinho que por sinal está delicioso. – Desde o dia que chegamos aqui eu encontrei meu passado, aquele que te contei há algum tempo. – Miguel arregala os olhos.

– Não me diga que... – Anui e ele meneia a cabeça e leva a mão à boca em total surpresa. – Cara que droga! – Ele coça a cabeça e fica com as mãos sobre os cabelos. – Quem é ela? – Miguel me pergunta curioso. Pego o copo com o suco e bebo de uma vez. Estou uma pilha de nervos. Abaixo a cabeça meneando-a e dou um sorriso anasalado.

– Cara, eu nunca imaginei que um dia na minha vida encontraria com ela novamente e o pior aqui, AQUI fazendo o que sempre sonhou. – Sorrio ladino me lembrando com tristeza de nossas conversas. Miguel ainda me olha com expectativa. – É a doutora Maria Clara. – Digo e ele ergue o cenho admirado. – É eu sei! Fiz a maior burrada da minha vida, hoje eu tenho consciência disso. Na época eu achava que o que estava fazendo era o certo. – Ele abaixa a cabeça enquanto volto a comer. Passa a mão na boca e volta seu olhar para mim.

– Então é por isso que tenho notado que está agitado, distraído, quase não tem dormido direito. – Ele solta o ar de forma ruído pelas narinas e meneia a cabeça. – Mordok, você está muito ferrado! – Ele exclama e ri da minha cara e dá um tapa em minha perna.

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