Capítulo 6 - Maria Clara.

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Se tem algo que eu amo fazer é atuar como médica

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Se tem algo que eu amo fazer é atuar como médica. Mesmo agora sendo mãe e esposa e sabendo que as responsabilidades duplicam ou melhor triplicam eu me sinto realizada. Algumas vezes eu paro para ver no que me tornei e eu amo ver quem sou. Eu não mudaria em nada de tudo o que aconteceu em minha vida. Aprendi que os erros nos levam a ter novas chances de acerto e isso tem sido um aprendizado muito grande para mim.

Com todo este aprendizado eu me vi amando uma nova profissão a de ensinar, a profissão de mestre e professor. Me vi adorando isso ao ter que aprender a me comunicar com meu filho que não sabia nada em nosso idioma. No início foi bem complicado nossa comunicação. Augusto e eu falamos em português em casa, mas fora dela é no idioma do país ou em inglês e francês, alguns aldeões mais velhos ainda falam o dialeto do local, mas nada que uma mímica e um tradutor não funcionem. Foi vendo esta dificuldade que decidimos ensinar nosso filho nosso idioma e foi aplicando esta técnica que me vi amando a profissão e mais ainda ao ver como isso nos fez ter uma afinidade muito grande com nosso filho, nosso Júlio e vê-lo e ouvi-lo falando em nossa língua foi algo maravilhoso. Hoje ele se comunica fluentemente conosco. Ainda continuamos com a mesma técnica falamos nosso idioma em casa e fora dela usamos outras.

Como estamos a alguns anos no país, aprendemos a língua nativa que a vietnamita e com isso decidimos ensinar quem tivesse interesse em aprender a nossa língua e nossa escrita. Vimos que outras pessoas se interessavam por aprender algumas palavras em nossa língua,  e por isso passamos a atuar como professores para aqueles que querem aprender nosso idioma e nossa escrita. Dou aulas para algumas crianças na aldeia e para Júlio em horários de descanso ou em minhas folgas. Ele, além de ter as aulas comigo, também está matriculado em uma escola para aprender sobre sua cultura, sua língua e a história de seus país, por isso, contratamos junto a ONG um professor vietnamita para dar aulas aos nossos pequenos que moram no vilarejo para que eles aprendam a ler e escrever em sua própria língua de origem, a língua oficial do povo vietnamita.

A única profissão que eu me imaginava e queria para minha vida era ser médica, mas hoje eu posso me ver com uma nova profissão: a de professora. Sei que os profissionais desta área não são reconhecidos como devem ser o que é uma pena, pois ser educador vai além de ensinar o B-A- BA, você se torna amigo, conselheiro, e muitas vezes atua como pai e mãe para direcionar o pequeno ser que ficará em sua responsabilidade por algumas horas a escolher o certo, a fazer o bem e ser uma pessoa melhor, mesmo não sendo a sua responsabilidade.

Augusto desde o começo mostrou-se empolgadíssimo como professor. Ele prepara as aulas um dia antes e sempre passa tudo com Julinho ou comigo. Este por sua vez é um excelente ouvinte e um aluno exemplar nos deixando cada dia mais apaixonados por ele.

Fiz uma pesquisa, e cerca de oitenta e sete por cento da população da República Socialista do Vietnã falam a língua mãe que é o vietnamita e os outros vinte e três por cento falam chinês, khmer, inglês, francês ou dialetos locais. A principal religião deles é o budismo que é a prática religiosa original do próprio Vietnã e o cristianismo que também está presente. A maior parte da população mora em zonas rurais e em aldeias nas regiões dos deltas que é onde estamos com nosso centre de saúde e moradia. Moramos muito próximo ao centro do vilarejo por conta de locomoção e para facilitar quando há alguma ocorrência.

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