Colegas, é isso o que somos.
Colegas, isso pode ser, mas amigo não. Vai demorar para que isso aconteça novamente.
Depois da conversa que tive com Estevão, há dois dias, eu tenho sido eu mesmo, conversei com ele nas raras vezes em que nos esbarramos. Nossas conversas foram sempre sobre o âmbito profissional, fora isso, nada mais foi dito, não há assunto. Não temos intimidade para tal. Ele não é em nada aquele moço que conheci. Estevão está muito diferente e eu também, com o passar dos anos eu mudei bastante. Tenho medo de confiar de novo nas pessoas, por conta disso quase não tenho amigos. Posso dizer que tenho quatro: Augusto, José Carlos, Olívia e Moisés, os outros considero meus colegas, por mais que eu goste deles, eu não confio em mais ninguém, não me sinto confortável.
Estou na sala de aula arrumando as carteiras para logo mais iniciarmos as aulas. Juntamos um grupo grande de pessoas para separamos os materiais didáticos para as crianças. Fizemos uma espécie de mochila e colocamos dentro alguns cadernos, caderno de desenho, caixa de lápis de cor, giz de cera, lápis de escrever HB número dois, borracha e até tinta guache nós conseguimos. Foi uma surpresa enorme para todos que trabalham com as crianças e adultos para a alfabetização. Recebemos doações de roupas na sua grande maioria para nossas crianças o que veio em boa hora. Separamos tudo, fizemos uma sacola com os mantimentos e fomos de casa e casa fazer as entregas. Júlio foi conosco e foi até engraçado vê-lo segurar as mochilas dos coleguinhas e as entregar com um semblante sério. Fui questioná-lo e ele disse que os soldados não podem sorrir quando executam o trabalho, eles são pessoas sérias e como ele será um soldado ele já estava treinando para isso. Fiquei sem reação, Augusto deu de ombros e continuamos as entregas que durou até quase oito da noite. Em cada casa que parávamos tinha alguma coisa para comer ou beber. O povo vietnamita é muito hospitaleiro e amável e não nos deixaram sair com o estômago vazio, se não aceitássemos seria uma desfeita muito grande e não seria legal.
Termino de limpar a lousa totalmente distraída. Sento-me e começo a dar uma última olhada no material para dar início a aula. Leio tudo e levanto-me, pego um giz branco e passo a escrever a data.
– Boa noite. – Uma voz grave me saúda. Assusto-me levando a mão ao peito.
– Que susto! – Vejo Estevão erguer o cenho e logo sorrir.
– Me perdoe Maria, não foi a minha intenção te assustar. Me perdoe por favor! – Ele diz vindo em minha direção. Meneio a cabeça.
– Não precisa se desculpar, eu estava distraída. Fique tranquilo. – Dou um sorriso fraco e logo ele sorri. Estevão tem um sorriso lindo. Quantas vezes eu dizia algumas coisas sem noção só para vê-lo sorrir. Sua gargalhada era a melhor eu amava tudo nele. Hoje, não mais. Tire meus olhos dos seus e vou até a mesa e pego o material que será ministrado na aula. – Você precisa de alguma coisa? – Finjo organizar as folhas para não ter que dar muita atenção a ele.
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A Procura.
RomanceO que você faria se a pessoa que um dia você traiu precisasse de sua ajuda, mas ela deixou bem claro há anos que não o queria por perto? Como se redimir depois de tanto tempo e como fazer isso depois de grande sofrimento? Será que mesmo depois de an...