Capítulo 33 - Estevão.

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Dor, é isso o que senti

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Dor, é isso o que senti.

Dor e nada mais.

Assim como o Capitão Chang havia dito aconteceu. Além da salivação a dor foi minha companheira por alguns dias. Ouvia a voz de Miguel ao longe falando algo que não entendia. Fiquei tentando assimilar algo, mas não conseguia me concentrar. A única coisa que sentia era dor, meus músculos pulavam devido a agressividade do veneno em meu corpo.

Estou internado em um dos hospitais em Ho Chi Minh, antiga capital do Vietnã do Sul. Estive consciente boa parte do tempo, mas em grande parte estive imerso em dor que quase me enlouqueceu.

Após ter meu dedo picado pela cobra coral, senti um formigamento, um adormecimento como se estivesse recebendo naquele momento centenas de picadas em minha pele principalmente nos braços, pernas, mãos e pés. A sensação era a mesma de quando durmo em cima do braço ou quando fico muito tempo sentado com as pernas cruzadas. Logo, passei a sentir uma dor horrenda que ia do meu dedo e irradiava até meu peito. Passei a suar frio e a sentir como se meus músculos fossem rasgados, torcidos e passei a vomitar. Mesmo depois que o Capitão aplicou o soro antiofídico não conseguia ter um raciocínio lógico, real. Era como se ocorresse um blecaute. Via Miguel e o Capitão me segurando, mas eu não conseguia falar devido a paralisia do véu palatino. Eu só queria voltar a respirar direito, só queria para de sentir tanta dor. Além da visão turva como se estivesse saído de um exame oftalmológico, senti meus braços e pernas paralisarem e meus músculos enfraquecerem, tentei me por sobre meus pés, mas fui ao chão. Não consegui manter as pálpebras superiores abertas, elas caíram como se estivessem inchadas e recobriram a parte maior da córneas.

Como fui vacinado ainda na floresta, isso ajudou bastante, mas não ausentou todos os sintomas. Precisei tomar dez ampolas de soro antielapídico chamado de SAE, via intravenosa. Dizem que em todos os casos de acidentes por coral com manifestações clínicas devem ser considerados como potencialmente graves, por isso a grande quantidade ministrada.

– Parece que hoje você sairá daqui tenente. Achei que perderíamos você meu amigo. – Miguel diz sentando-se em uma cadeira que está no quarto. Hoje faz dois dias que acordei de fato. Foram seis dias dentro desse lugar e mesmo não me sentindo muito bem devido as manifestações do veneno, não via a hora de sair daqui. Confesso que isso me deixa aliviado, mas ao mesmo tempo desesperado. Mesmo estando acamado eu estava mais próximo de Maria. Sabia que mesmo não podendo estar ao seu lado eu estava ali.

No dia em que acordei Miguel estava no quarto comigo. Ele precisou avisar minha família sobre meu estado de saúde e eles como toda e qualquer família quiserem vir me ver, mas Miguel os acalmou deixando-os a par de tudo sobre minha saúde. Após acordar e me sentir mais forte sem as dores e contrações musculares liguei para casa e pude conversar com todos. Minha família é meu esteio e devo tudo a eles.

– Eu também pensei que não conseguiria sobreviver. Confesso que senti muito medo quando vi que havia sido picado e que talvez não tivesse tempo de ter o atendimento adequado. – Digo me ajeitando sobre a cama. Miguel se levanta e me ajuda a sentar. – Obrigado. – Agradeço.

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