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[Eu não sei até que ponto isso é gatilho, mas vou deixar aqui de qualquer forma :)
Aviso de Gatilho: violência física e verbal]

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Então, as coisas aconteceram de uma forma realmente estranha.

Eu não sei o que Perrie estava pensando de mim agora, eu realmente gostaria que ela tivesse visto enfrentar meu pai em outra situação. Na realidade, eu gostaria que ela nunca encontrasse esse monstro, ninguém mereceria respirar o mesmo ar que ele na vida. 

Ela nunca tinha me visto enfrentá-lo. Nunca viu as vezes em que gritei com ele, me coloquei à frente da situação e não abaixei a cabeça. 

E sinceramente, eu não me importava. 

Por mais que eu tentasse passar a ideia de que eu era forte e nada me abalava, não funcionaria. Eu estava tremendo, estava experimentando uma sensação que nunca tive antes.

A vontade assustadora de proteger alguém.

Eu nunca tive medo do meu pai.

Antes que eu mal soubesse falar, eu já sabia o que está ter as marcas das mãos dele no meu corpo. 

Já sabia o que era a humilhação de viver subjulgada a alguém. 

De ter minha mãe me cobrindo de base rosada para esconder coisas hematomas nos domingos em que íamos à igreja.

Sua mão na minha cabeça, me dizendo que eu precisava crescer logo pra proteger a mamãe.

E mesmo assim eu nunca tive medo.

 Apenas ódio.

Mas agora, nessa noite gélida, eu estava com medo.

Como ele tinha chegado até aqui?

Descoberto sobre onde Perrie morava?

Como ele sabia, pra começo de conversa, sobre a existência dela? Quando eu fiz de tudo para mantê-la longe?

Ele havia me avisado. Ele não toleraria. 

Apertei os punhos e cerrei os dentes.

O que mais ele iria tirar de mim?

Era assustador. Eu não vou ser clichê e dizer que nunca esperava que alguém chegaria tão de repente e entraria em meu coração.

Não, mas realidade, eu acho que eu mesma sempre emanei a vontade desesperada de que alguém olhasse pra mim. Jéssica. A garota além das notas vermelhas e hematomas escurecidos. 

Quando essa garota colocou seus olhos azuis sob mim, eu soube que estava perdida. Seja me perseguindo pelos corredores, seja preocupada com minhas anotações em química. 

Eu apreciava e agradecia por ter sua atenção. Mas era isso que eu queria evitar.

Eu… talvez tenha novamente sido egoísta. 

Era o que minha mãe sempre dizia. Que eu era egoísta.

Mas eu acho que agora, era impossível para mim, me afastar dela.

— Ah, Jéssica. Que deus perdoe seus pecados. Que você era uma maldita prostituta, eu sempre soube e enquanto você estivesse trazendo dinheiro pra casa, eu não me importaria. Mas eu te avisei. Te avisei que jamais aceitaria essa profanação do nome da minha família. Você não tem vergonha? — John se aproximou alguns passos. Me coloquei mais a frente de Perrie, esperando que ela não entrasse em pânico.

Bom, eu definitivamente não esperava nada do que aconteceria a seguir.

— Mas que porra você acha que está falando na frente da minha casa? — Perrie driblou minha defesa e avançou para a direção do meu pai. Ela tinha as duas mãos na cintura e um rosto contorcido de algo entre raiva e descrença. — Eu tenho certeza que qualquer prostituta nesse MUNDO é mais ética que um pai que gosta de humilhar a própria filha na frente dos outros. Tome vergonha, homem!

Entre eu e meu pai eu não sei dizer qual de nós dois estava mais em choque. 

Quer dizer, eu nunca imaginaria Perrie, a desmiolada, falando num tom desses com qualquer um, principalmente com um homem que era consideráveis centímetros mais alto que ela.

E meu pai? Nem eu sequer tinha o desfiado dessa forma em minha vida. Eu sempre tive que medir as palavras para impedir que algo acontecesse com minha mãe.

Seus olhos arregalados cerraram aos poucos. 

— Ah, sua vadiazinha de merda, quem você pensa que…? 

Eu não tive tempo de pensar. Meu pai avançou a passos largos até Perrie, que não recuou, a antes que qualquer palavra fosse dita, bloqueei a mão que ele ergueu pra bater nela, desferindo um soco com todo o ódio que e eu tinha acumulado, em seu rosto. 

Sangue espirrou pelo chão. Ele soltou um grito que teria assustado qualquer um, mas eu estava cansada. 

"Respeitai pai e mãe",

um dos dez mandamentos, piscava em vermelho vívido na minha mente, como um sinal gritando para que eu parasse. Eu ignorei. E eu nunca me senti tão feliz por pecar. Chutei seu rosto, de modo que ele novamente cuspiu sangue. Mas como eu melhor que qualquer um sabia, meu pai era um homem fisicamente forte, não demorou para que ele se recuperasse, e eu senti o conhecido peso de um golpe no rosto, seguido por alguns na barriga. 

Tentei olhar por cima da figura dele. Procurei por Perrie, esperando que ela notasse meu intuito e fugisse pra dentro de casa. 

Ela de fato estava no portão, mas não estava entrando.

Por que? 

Era pra ela se esconder.

Trancar o portão. 

Como minha mãe fazia quando eu conseguia chamar a atenção pra mim.

Então por que ela continuava falando com o interfone?

Finquei as unhas nos braços dele, de modo que um caminho de sangue foi deixado por onde elas passaram.

Tantos anos brigando na rua pra extravasar me ensinaram algumas coisas, quando ele acertou meu olho, aproveitei pra segurar e torcer seu braço. Ele gritou de dor 

— Eu vou matar você! — ele deu um grito estrangulado. Eu conhecia essa voz, era o tom de quando ele estava muito perturbado. Eu nunca tinha reagido assim, nunca sequer tinha revidado dessa forma.

Ele segurou meu cabelo, pretendendo me arrastar pra onde quer que ele imaginava. Talvez por um reflexo, procurei Perrie de novo. 

Encontrei seus olhos. Ela assentiu. Tinha um olhar tão caloroso, que eu jamais sonhei poder existir algo assim.

Eu senti como se, embora eu estivesse desviando a atenção pra tentar protegê-la, fosse ela quem estava me protegendo.

Todos os sons pareciam um pouco abafados. Eu já conseguia ouvir o sangue percorrendo meus ouvidos. Mas ainda assim, soube distinguir o som inconfundível de um revólver engatilhado.

Depois, uma voz feminina.

— Solte e saia de perto da garota se você não quiser que eu estoure a porra dos seus miolos.

Antes de desmaiar, eu tive certeza de que essa foi a coisa mais foda que eu já ouvi em toda minha vida.


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Escrever esse capítulo foi um negócio interessante porque ele saiu TOTALMENTE diferente do que estava planejado no roteiro, mas ainda assim eu gostei bastante????

Como vocês estão nessa quarentena?
Não se esqueçam de lavar as mãos, respeitar o isolamento e mandar aquele fulano lá se fuder porque ele só fala/faz merda

Por favor, não se esqueçam de comentar e votar, me deixa muito feliz
Xoxo ❤️

they ask me why I love her ▶▶pesy Onde histórias criam vida. Descubra agora