I

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Eu estava caminhando pelo extenso corredor, ajeitando meu jaleco rapidamente enquanto apertava os passos por entre os pacientes e médicos. Passei meus dedos pelos fios de meu cabelo úmido, sentindo um leve cheiro de shampoo.

Sempre ouço; "Um médico lindo desse, solteiro no auge dos seus vinte e seis anos, sem nenhuma namorada é um grande desperdício.".  A verdade é que eu nunca fui capaz de me apaixonar por ninguém. Não que eu não quisesse, mas a questão é que nunca apareceu alguém que me encantasse de verdade, que mexesse comigo de uma forma absurdamente estranha. Assim como acontece nos filmes.

Ed, um de meus melhores amigos, está nesse hospital a quase um ano. Nós somos amigos desde quando tínhamos por volta de uns quatorze anos. Sempre saíamos juntos, acobertávamos um ao outro, fazíamos tudo juntos. Quando Ed me contara sobre sua doença, por mais adulto que fosse, eu chorei.

Chorei como um bebê.

Eu queria deitar e chorar o resto da minha vida, mas ao mesmo tempo queria passar cada segundo ao seu lado, como sempre fizemos. Por mais que fosse difícil mas não impossível, eu tentaria salvá-lo dessa. Ele vai conseguir sair disso.

X

—Então...

—Eu não estava ouvindo, me desculpe.—Falei balançando a cabeça, enquanto apertava meus dedos contra minhas pálpebras, me sentindo um tanto exausto.

—Perguntei se nós talvez pudéssemos sair hoje, sei lá...Relaxar um pouco. É sexta-feira, o pessoal vai em um Pub aqui perto, vamos?—Outros boatos que vive rondando esse hospital é que Ashley tem uma queda por mim, porém, não. Apenas não.

—Não dá para eu relaxar com meu melhor amigo numa cama de hospital...

—É por isso que você tem que sair Har...—Levantei meu dedo indicador, interrompendo-a e olhando para meu relógio de pulso.

—Tenho mais coisas para resolver, aliás, você deveria fazer o mesmo.

Eu particularmente não gosto de tratar as pessoas rudes. Trabalho com o público e um público que precisa de carinho e atenção, mas nesse caso, Ashley não precisa de atenção, muito menos de carinho. Não da minha parte. Se ela estiver carente, no Pub tem vários caras que estão atrás de uma nova namorada.

O dia estava lindo e iluminava boa parte dos extensos corredores da UCLH (University College London Hospitals). Lindo para nós que não temos nenhum problema, lindo para as pessoas que estão nessa clínica, porque apesar de passar pelo o que passam, eles permanecem com esperanças e estão sempre sorrindo.

São as pessoas mais fortes que eu já conheci na vida. Amo muito cuidar de cada um como se fossem minha vida.

Às vezes fico pensando se as pessoas talvez tenham razão de eu arrumar alguém para viver comigo. Ter alguém para me confortar quando fosse preciso. Eu conforto muitas pessoas praticamente todos os dias, mas não tenho ninguém que possa me confortar.

Não quero ser desesperado e sair atirando anúncios por jornais e tv, dizendo o quanto preciso de um romance. Quero que apareça alguém naturalmente.

Me assusta um pouco pensar que já tenho vinte e seis anos e nada de aparecer alguém que realmente me interesse.

Balancei minha cabeça acordando para a vida quando fui cutucado de leve. Soltei um longo suspiro e me virei, encarando um par de olhos castanhos me olhando curioso.

—Me desculpa interrompê-lo Doutor, mas seu paciente o chama no quarto de número vinte.—Dei um leve sorriso assentindo.

—Sem problemas, Jade!—Bati de leve minha mão em seu ombro e ela sorriu me acompanhando.

You left longingOnde histórias criam vida. Descubra agora