IX

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O silêncio se fez presente novamente. Eu sabia que por trás de seus olhos vidrados no céu durante algumas noites que eu pude presenciar, tinha algo. Tinha uma história. Tinha um porquê. Como ele mesmo disse, para tudo tem um porquê e agora ele acabou de dizer o porquê sempre observou o céu, o porquê ninguém veio visitá-lo desde quando colocou seus pés pela primeira vez aqui.

Eu estava imóvel. Intacto. A respiração falhando a cada vez que sua frase se repetia em minha mente. Parecia não ter mais chão para eu poder pisar. Parecia tudo estar girando e não passava de um sonho. Eu queria que fosse apenas um sonho ruim.

Mas não.

"Meu pai na terra e minha mãe no céu."

As frases que minha mente criava, simplesmente não conseguia sair por meus lábios. A realidade não batia com o que eu tinha planejado e parece que um grande sonho foi destruído. Tanto meu, quanto o de Louis.

—E-eu...

—Eu sei. Você sente muito. É o que todo mundo diz.—Louis jorrou as palavras ainda de costas para mim, com a cabeça levemente abaixada, observando as rosas a sua frente.—Ninguém sente...—Dessa vez ele se virou para mim com os olhos marejados e vermelhos.—Até realmente perder.

—Eu sinto...Da mesma forma que você sente. Também tive uma perda grande...Você sabe.

Ficamos nos encarando, até que uma lenta e dolorosa lágrima escorreu por sua bochecha. Louis não se movia. Louis nem sequer limpou-a de seu rosto. Eu não tive outra ação, senão abraçá-lo. Abraçá-lo de forma protetora, de forma carinhosa. Eu achei que de primeiro Louis ia me afastar, mas pelo contrário, ele retribuiu o abraço e parecia que ele sentia falta disso. Sentia falta de alguém ali para suportar ele, dizer que ele poderia ir em frente sem medo pois teria alguém para apoiá-lo. Louis parece sempre meio inseguro, meio perdido em relação às pessoas a sua volta, os assuntos que escuta, os lugares onde poderia ir...Exatamente tudo.

E foi ali, nos meus braços que Louis chorou. Chorou de verdade. Chorou baixo porém sentido. Tomlinson provavelmente está botando para fora o que guardou desde quando sua mãe morreu. Desde a notícia que está doente chegou em seus ouvidos. Naquele dia, aquele triste dia, ou melhor, noite, Louis chorou também, mas ele tinha Dacre para secar suas lágrimas, tinha Dacre para abraça-lo e dizer que iria ficar tudo bem, mas agora...Agora ele não tem ninguém, tirando seu pai que está em algum lugar do mundo.

—E-eu sinto tanto a-a falta dela...—O mesmo disse entre soluços enquanto apertava seu pequeno corpo contra o meu. Suas lágrimas estavam molhando sem piedade o meu jaleco, mas aquilo não importava. Aquilo era o de menos.

—Eu sei que sente querido.—Louis não disse mais nada, apenas chorou, chorou e chorou muito. Não tive outra escolha senão deitá-lo na cama e tentar acalmá-lo.

Louis não parava de soluçar, não parava de chorar e seus soluços iam ficando cada vez pior. Em algumas vezes sua respiração parecia parar e ele puxava o fôlego com dificuldade. Aquilo estava me preocupando tanto que eu estava quase arrancando meus próprios cabelos. Pedi para que Jade trouxesse um calmante e assim ela fez, entrando no quarto assustada com o estado de Tomlinson e saindo rapidamente. Louis se sentou na cama e pegou o copo de minha mão trêmulo, bebendo devagar e tomando certos cuidados com os soluços.

O mesmo foi se acalmando aos poucos. Passavam-se das oito da noite quando Louis adormeceu. Ele parecia um anjo. Nicholas entrou furioso no quarto e quando ia começar sua ladainha, eu coloquei meu indicador em frente aos meus lábios, fazendo sinal de que ele não falasse um "A" sequer. O mesmo soltou um suspiro parado na porta com as mãos na cintura e olhou para Louis dormindo sereno. Grimshaw me chamou com um indicador e saiu do quarto pisando fortemente contra o chão, como se fosse explodir qualquer pessoa que ousasse cruzar seu caminho. Revirei os olhos e chequei se estava realmente tudo ao estado normal de Louis, e para minha alegria, estava. Levantei da cama, onde observava Tomlinson dormir e saí do quarto, já me preparando para escutar o discurso de Nicholas.

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