14 ➳ Aquecimento

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A madeira polida do chão brilhava como tivesse uma fina camada de ouro a banhando. Um cheiro de lavanda, um silêncio aconchegante, exceto pela melodia baixinha de um piano.

- Bom dia, senhorita - um rapaz alto, de cabelos pretos e bagunçados sorri para Kalmia.

- O-Oi... - ela sorri meio sem graça, enrolando outra vez as mechas do seu cabelo que se soltavam do coque alto.

- No que posso ajudá-la? - ele pega Kalmia pelos ombros, muito hospitaleiro. Isso a faz sorrir, passeando com ele em frente aos espelhos que cobriam todas as paredes e refletiam as pequenas janelas que traziam luz solar perto do teto.

- Eu quero saber como funciona a matrícula, a mensalidade, a carga horária - o rapaz sorri, apontando para uma salinha.

- Sou Ákira e você?

- Kalmia - eles apertam a mão um do outro. - Watanabe Kalmia.

- Bem-vinda à Academia de Dança e Artes de Konoha, srta. Watanabe. Aqui você escolhe sua carga horária, a matrícula está sempre disponível e a mensalidade depende do estilo que você vai cursar.

- Clássico e local.

- É - ele torce o lábio, fazendo-a rir. - Não são exatamente baratos, mas é um investimento né.

- Sim - Kalmia ri, levando os cabelos para trás da orelha ao sentar na cadeira em frente a dele, lendo o contrato que ele a mostra. - E esta cláusula? Ela é válida em quanto tempo? - se refere à chance de um aluno tornar-se professor ali, que só se efetivaria conforme o empenho e avaliação do diretor-professor-mor.

- Você é o diretor-professor?

- Uma coisa de cada vez - ele descontrai. - Sim, eu sou. Quanto à cláusula de efetivação no corpo de mestres depende do aluno, e da minha aprovação, claro.

- Huum - Kalmia resmunga devolvendo-lhe os papéis assinados.

- Mais alguma coisa? - Ákira pergunta, carinhoso.

- Na verdade, sim - ela encolhe os ombros, fazendo uma carinha estranha ao perguntar: - Tem alguma chance de você não botar meu nome lá fora? É que, bem... Eu...

- É um pouco tímida, né? - Ákira sorri. - Claro que não tem problema, até porque eu tenho algumas dúvidas de que você realmente é aluna nova para ir ao mural de bem-vindos - ela franze o cenho, acompanhando o professor sala à fora.

- Digo, pela maneira que você olha os instrumentos de dança - Kalmia faz um "aaah" inaudível. - E com todo respeito, claro, pela forma do seu corpo... Quer dizer, é bem comum pensar que você já é uma dançarina, ou uma ninja, claro.

- Não, de jeito nenhum - Kalmia gargalha. - Eu sei dançar e brigar, mas não sei dar um soco sequer - Ákira ri.

- Essas são minhas três professoras - ele as apresenta à bailarina. - Tinna ensina crianças e adolescentes, Namira ensina mulheres, Rou ensina homens e eu ensino as três. Namira é a única que faz apresentações fora da Vila, mas isso é opcional.

- Prazer - Kalmia sorri para elas e é abraçada, calorosamente.

- Bem-vinda, mulher - Tinna aperta seus ombros, fazendo se sentir deliciosamente aconchegada.

- Obrigada! Muito obrigada - ela sorri, e Ákira toca seu ombro.

- Se você não se importar, temos um número de apresentação aos mestres na sala de cima, queria avaliá-la.

- Ah, s-sim - ela diz, seguindo-o escada acima. - E-eu...- o professor para no alto da escada quando Kalmia gagueja. - Na verdade... Eu... Bem, eu tenho um pequeno problema musculatório então, eu meio que estou recém retornando, na verdade, hoje é o meu primeiro dia.

O homem faz silêncio. Muitas coisas se passam na cabeça dele, depois ele sorri.

- Não se preocupe com isso - e continua caminhando até um pequeno salão espelhado, onde não havia melodia alguma. - Você é muito corajosa. Depois de qualquer infortúnio muscular, dificilmente um dançarino retorna. Aqui você vai me dizer a sua meta e eu vou fazer tudo o que eu puder pra fazê-la alcançar.

Ákira fecha a porta nas costas de Kalmia.

- No círculo vermelho - o instrutor aponta o centro do local, indicando que a bailarina devia se posicionar ali.

- Eu vou estalar os dedos, assim - Ákira faz, contando "um, dos, três -pára", de novo e de novo, até que ele decida parar. - Você vai apresentar conforme eu quiser, no ritmo que eu estipular, eu posso me meter e aconselhar, mas não vou - ele diz. - Quero conhecê-la por si só.

Kalmia balança a cabeça, sentando-se no chão e apertando bem as sapatilhas. Depois ela se ergue, sente as mãos suadas, ao encarar seu reflexo no espelho, o coração treme, uma espessa gota de suor escorre por sua testa.

- Alongamento com plié... - Kalmia junta seus tendões um no outro, flexionando os joelhos com cuidados e abaixando, cuidadosamente. O movimento consiste basicamente em flexionar os joelhos pra tornar os músculos maleáveis e os tendões elásticos. O simples passo lhe trazia dor fumegante.

- Jeté... - Kalmia respira profundamente, erguendo-se de plié delicado para um salto energético que lhe fazia afastar bem as pernas, jogando-as no ar com um espacato perfeito. Seus pés no chão, os dedos estalando, a respiração dela e a avaliação do professor preenchiam o lugar de forma excitante, a fazia suar.

Mas aquilo não era o suficiente, Ákira precisava conhecer sua resistencia, com ou sem doença muscular.

- Adágio... - em um movimento lento, Kalmia inclina-se totalmente para frente, plantando seu pé planamente no chão e ergue a outra perna, para trás, fazendo tudo doer, mas precisa resistir, e ficar assim, até que ele diga chega.

- Três... - ele conta, rodeando-a. - Seis... - é como se ela ouvisse a melodia que ele canta no fundo da sua cabeça. - Nove... - seus músculos se contraem, ele a vê fechar as mãos com força, mas manter a posição.

- Doze...

- E-eu não consigo... - a voz sai trêmula, as pernas em caimbras de dor.

- Quinze...

- Não... Não con... - Ákira a segura pela cintura quando com muita dor, ela cai, agaichando-se sobre a própria barriga que se contorcia em angústia emocional.

Ákira não fala nada.

Ele a deixa se sentar ao lado de sua perna, e ela deita, as pernas tremendo e a respiração toda entrecortada. Faz Kalmia chorar.

E com os olhos cheios d'água, ela suspira ao vê-lo sobre si, encarando-a até erguer seu pé, girando-o até ouvi-lo estalar.

- Não precisa chorar - ele diz e ela chora ainda mais.

- É normal - Ákira consola, utilizando de sua própria coxa para ajudá-la a se reaquecer. - Não se cobre tanto. Seus passos foram perfeitos e você me disse que estava há 15 anos sem dançar.

Ele troca a perna esquerda dela pela direita, forçando a coxa para sentir a pressão do seu corpo. Kalmia geme de dor.

- Você faz fisio? - o professor pergunta.

- Sim - segura a mão dele, se erguendo.

- Então não se preocupe. Vamos recuperar suas pernas!

GRITE - Hatake KakashiOnde histórias criam vida. Descubra agora