39 ➳ Culpa

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- Te busco aqui, às 11h - Kakashi se policia em se jogar afetuoso sobre ela em público, ele ajeita as cobertas de Kakeru no bebê-conforto como fosse um pacotinho e não se despede formalmente de Kalmia, deixando-a medrosa na porta do consultório psicológico.

Kalmia pisca lentamente, querendo saber que diabos ela fazia ali. Por que o deixou convencê-la tão facilmente que talvez fosse bom que ela saísse um pouco de casa?! Na noite passada ela perguntou o que ele achava de ela convidar Sakura para um café, depois pensou em chamar Hinata também, Kakashi disse que parecia bom, faria bem à ela, mas dez minutos depois , de alguma maneira, ele estava convencendo-a que antes de sair de casa, ela devia, ao menos uma vez, fazer uma visita à psicóloga.

Quando, mesmo receosa quanto sair sozinha por Konoha, Kalmia dá um passo para se afastar do local, a porta em suas costas de abre.

- Bom dia, Kalmia-san - a voz enfática e simpática a prende no lugar, a faz dar meia volta, sorrindo forçadamente à mulher.

- Bom dia - Kalmia diz, acatando o gesto da outra que abre a porta para ela entrar.

Na sala de consultório médico, ela percebe um divã cor de creme, duas cadeiras em frente à mesa mediana e atrás delas, ao lado da porta, um sofá de dois lugares, na mesma cor que o divã.

- Sente-se, por favor - Kalmia escolhe o sofá, como quem quer se enfiar dentro da parede, se encolhe toda no canto esquerdo, ao lado da prateleira de livros.

- Nos conhecemos em algumas sessões, antes de você começar o medicamento contra um quadro muito comum de amnésia na sua situação - a loira diz, bem tranquila. - Eu sou a Fith, e eu espero que você queira falar comigo - ri, girando a cadeira para paciente e sentando-se nela, para ficar de frente para Kalmia.

- Como está?

- Bem - a primeira resposta imediata de Kalmia é uma completamente mentira. Ela sabe que é mentira, sua psicóloga também.

E como sabia que era o melhor a fazer para estimular as emoções e a mente de Kalmia, Fith se ajeita na cadeira, olhando fixamente em seus olhos para dizer:

- Se eu passasse a vida toda inválida, mudasse para um lugar estranho, fosse assediada, quase estuprada, precisasse desistir do meu único sonho, tivesse um filho indesejado, depressão pós-parto, tentativa de suicídio, raiva e bipolaridade, bem, eu não diria que estou bem.

Kalmia não sabe quem é aquela mulher. Não sabe o que ela sabe sobre sua vida, ou sobre como ela estava se sentindo, às vezes tinha a impressão de que por mais esforçado que fosse e por mais que a amasse e tentasse, de todas as formas possíveis, nem Kakashi sabia ao certo o que estava acontecendo dentro dela.

Mas depois da retrospectiva de Fith, depois de lembrar tudo o que lhe havia acontecido e gerado aquela sensação de morte - até o ocorrido com o bebê -, Kalmia se deixa levar, se acha estúpida por chorar aos três minutos de consulta.

- Eu sinto como... - a psicóloga comemora internamente, mas age com total naturalidade quando Kalmia começa a falar, se mostra interessada, mas não a pressiona, apenas espera, pacientemente que ela diga: - Como se houvesse um buraco em meu peito - Fith suspira. - Eu... Não sei porque tudo isso está acontecendo...

- Parece que é culpa sua? - finalmente, consegue chegar ao ponto onde Kakashi lhe falou, deprimindo-se em observá-la se sentir cada dia mais culpada.

- Sim... - Kalmia sopra, desviando os olhos para o chão.

- O que exatamente parece culpa sua?

- Eu não sei...

- Alguma vez você quis ir embora?

- Sim...

- E você não pensou em seu filho? Seu marido?

GRITE - Hatake KakashiOnde histórias criam vida. Descubra agora