44 ➳ Viagem

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Kalmia tinha certeza de muitas coisas na sua vida, mas havia também, muitas dúvidas sobre ela. Já tem alguns dias que se pergunta como fará isso, porquê o fará, porquê quer tanto e porquê está com medo. Percebe assim, que sua incerteza na verdade, não passa de uma expectativa, uma ansiedade gostosa que bate asas em seu estômago, deixando-a três vezes mais distraída.

– Merda! – ela resmunga ao pôr o peixe gelado na frigideira fervente, sobe muita fumaça e respingos perigosos de óleo, queimando um pouco seus dedos.

Passando por suas costas, Kakashi ri.

Não se achava um pingo de incerteza na cabeça dele. Ele sabia o que precisava fazer. O que tinha de ser feito e ele faria, um dia, ele faria. Quando percebesse o momento certo, talvez.

– Você vai destruir essa cozinha – o homem brinca, ganhando um olhar fulminante, de morte, que o faz achar a situação ainda mais engraçada.

Ele gosta da comida de Kalmia, sempre gostou, mesmo que ela diga que não é uma das suas especialidades. Todo o processo doloroso que ela arrisca, pra fazer todos os pratos mirabolantes que gosta de apresentar, faz da cozinha divertida, perigosa pra ela, mas ainda assim, divertida.

– Baka – ela resmunga pra ele, toda corada, como tivesse passado por uma batalha com o salmão. – Põe a mesa pra mim!

Isso foi durante a manhã, recém começando a parte da tarde. Depois Kakashi se certificou de que haviam bandanas extras em sua mochila, seu colete e como a Comissão obriga, qualquer coisa que o identificasse formalmente como o Sexto Hokage de Konohagakure, fora da Vila Oculta da Folha.

Kalmia fecha a mala para três ou quatro dias fora do País, primeiro certificando-se de que Kakeru tinha fraldas, leite, mamadeiras e roupas o suficiente. Deixando pro Hatake lembrar onde guardou a certidão de nascimento do pequeno. Depois reabre a sua mala, algumas blusas, calça, shorts, dois vestidos. E bem no fundo da mesma, escondido num fundo falso, as duas etapas do presente de aniversário dele.

– Pegou casaco? – Kalmia dá um pulinho no lugar, assustando-se com o tom da voz que invade o quarto enquanto Kakashi põe apenas metade do corpo para dentro do cômodo

– A-arigatou – diz, um pouco embaralhada. – Vou pegar agora.

Kakashi franze o cenho pra ela, balançando a cabeça em seguida, volta para a sala onde Kakeru balançava freneticamente sua bandana nas mãozinhas gordas.

– Ai Kakashi, pelo amor de Deus – Kalmia reclama, apontando o garoto que lambia o ferrinho da bandana com o símbolo de Konoha.

– O quê? – ele pergunta divertido, erguendo-se de onde enrolava os tornozelos em fitas brancas. – Deixa o garoto criar anticorpos – brinca, arrancando um riso dela, mas não lhe dá tempo para ficar brava com ele, Kakashi tira a bandana no menino, torcendo o lábio numa careta ao tocar o pano todo babado.

Kakashi guarda a bandana no bolso e deixa pra Kalmia procurar o mordedor, já que foi idéia dela deixar Kakeru aos berros sem o objeto do pai.

Para o Hatake, o neném crescia rápido demais. Foram os dois meses mais longos de sua vida, e mesmo assim parece que passaram-se voando, trazendo uma criança falante, que briga quase todas as noites, chorando por atenção quando Kakashi só queria poucos minutos com sua mãe.

E estes poucos minutos, desde que ela retornou da clínica, parecem cada dia mais distantes, mais e mais inalcançáveis entre os dois.

Ainda há muita coisa entre eles.

E recentemente a decisão de Kakashi em não fazer nada a respeito de Ákira e o outro maldito tem sido um pequeno empecilho para ele tocar na alma de Kalmia. E quanto à ela, sua expectativa crescente quanto aos próximos exames psicológicos depois da viagem em família... Ah, remoeu parte de sua atenção nos últimos dois meses.

GRITE - Hatake KakashiOnde histórias criam vida. Descubra agora