As mãos de Ákira apertam seu pescoço e Kalmia sente a falta de oxigenação machucar seu cérebro. A sensação da agressão é viva, real, seu instinto que a faz tatear o chão atrás da haste de ferro tateia a cama vazia ao seu lado, até que, sem sentir nada, Kalmia pula sob as cobertas, respirando com dificuldade e com a pele toda suada.
Tentando controlar a própria respiração, Kalmia fecha os olhos e os abre devagar, a cabeça pende gradativamente para o ombro até fitar o relógio digital sobre o bidê. Três horas da manhã.
Ao olhar outra vez para seu lado, Kalmia entende que a realidade estava, na sua cabeça, se fundindo ao pesadelo. Kakashi dormia pesadamente sobre o travesseiro, meio coberto, meio exposto. Os cabelos prateados bagunçados sobre a fronha branca da cama.
Sentindo uma leve dormência nas pernas, Kalmia sorri para ele.
Depois afasta as cobertas, com muito calor. Kakashi se mexe minimamente e Kalmia congela os próprios movimentos, não queria acordá-lo. Nem explicar o que estava sonhando ou sentindo.
O mal estar latente a leva ao banheiro, a faz perceber a banheira cheia, cheirosa. Kalmia baixa a cabeça, sorrindo pelo gesto que ela desperdiçou ao dormir involuntariamente. Às vezes se preocupa querendo saber se ele sempre vai ser assim. E se ela sempre vai ser assim. No fundo, tem medo que as coisas mudem.
Um pouco angustiada pelos tormentos de seus pesadelos, Kalmia tira suas roupas no banheiro, sente muita dor, nas pernas, na coluna, nas costelas. Hoje mesmo pedirá à Sakura que mude sua medicação. Os efeitos colaterais tem desregulado completamente seu sono, seu apetite, seu humor.
Agora por exemplo, Kalmia afunda-se na água com vontade de morrer.
Lembra como tivesse acabado de assistir, seu irmão enforcado ao lado de sua cama.
Há muito tempo Kalmia não chora por seu irmão. Há anos talvez. Ela sempre pensou que quando mais chorasse, mais lembraria, já sabendo que quanto mais lembrar, mais dor teria em seu peito.
Seu irmão foi egoísta.
Ela precisava dele e ele a deixou.
Não, ele estava doente. Ela doente de atrofia, mas ainda assim, ele estava tão doente quanto ela.
Kalmia derrama um pouco de xampu na palma de sua mão, contraindo sua perna esquerda em uma dor que começa em seu pé, subindo e se agravando latentemente em seu estômago.
- Merda - ela chora, mordendo o lábio para aplacar a dor e as lágrimas. Acordá-lo agora estava fora de cogitação.
Então, resistindo ao incômodo terrível, Kalmia lava os cabelos longos, sentindo-os ficar pesado e sua cabeça. Ela estava se sentido tão mal, tão estúpida e preocupada com tudo. Seus medos recentes lhe deixavam com fome, e ter tanta vontade de comer lhe fazia querer chorar.
- Ah! - Kalmia chora, deitando na banheira até cobrir-se completamente d'água.
Meio segundo segurando a respiração é tudo o que ela consegue. Quase sufocada, Kalmia se ergue até sair da banheira. Leva mais um tempo para de recompor e secar o corpo, enrolando-se no roupão macio e indo se pentear na sala.
Erguer o braço dói. Desembaraçar aquele emaranhado negro e grosso doía ainda mais.
Depois da luta contra os fios enormes do próprio cabelo, Kalmia volta ao quarto escuro pra guardar a escova em suas penteadeira, olhando, com curiosidade, o livro sobre o dibê ao lado esquerdo da cama, onde Kakashi dormia.
Kalmia se aproxima sem acordá-lo e pega o livro, talvez aquilo curasse por hora sua insônia.
E foi o que aconteceu.
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GRITE - Hatake Kakashi
Hayran Kurgu#1 lugar em Kakashi - 09/08/2020; #1 lugar em Naruto - 28/11/2020; Kalmia, com um nome tão peculiar, mas uma história muito comum e monótona. Tentando recomeçar sua vida que havia acabado antes mesmo de estourar a Quarta Guerra Ninja, se muda para K...