37 ➳ Relacionamento

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Kalmia não tem certeza do que ouviu. Anda tomando muitos remédios e alguns alteram em partes os seus sentidos. Por um instante, acha que não ouviu bem o que ele disse.

– O que foi que você disse? – chocada com o que o homem dissera, o tom soa vacilante, pra não dizer incrédulo.

Enquanto não tem sua resposta, Kalmia sente o próprio coração palpitando em suas têmporas, o mesmo enjôo que sentiria no dia de seu parto, mas agora tem certeza que é por Ákira e Satoru, não pelo seu bebê.

Engolindo em seco, meio temeroso do que disse - mas não do que fez -, Kakashi repete, ainda em baixo som: – Satoru e Ákira estão presos em...

– Tsc – o estalar de língua dela e o interrompe, sua cara o xinga de idiota, o chama de coisas que nem em sua morte Kalmia seria capaz de pronunciar.

– O que você quer? – o jeito que ela não olhava, e como afastou a xícara de chá, passando a língua nos dentes, enojada, dizia tudo pra ele.

Mesmo assim, Kakashi precisava de uma resposta completa e objetiva. – Você sabe o que eu quero – diz, seco, tentando lhe falar, sem muitas palavras, o que queria arrancar dela. Kakashi quer que ela decida o que ele deve fazer e:

– Você não pode exigir uma decisões dessas de mim – Kalmia esbraveja, vermelha de raiva, mal gesticula tamanha é sua indignação. – É completamente egoísta, imaturo e insensível...

– Are! – Kakashi usa um tom parecido com o dela, desdenhoso, para se defender. A irrita profundamente: – Talvez eu devesse ter feito antes, assim eles teriam o que merecem!

O tom da voz dele só não é pior do que o que ele diz aos ouvidos dela. Mas quando ele empurra a cadeira, se erguendo na cozinha, Kalmia não vê outra alternativa senão brigar.

– É assim que você é? – Kalmia o ataca, curiosa. – Vingativo? – Kakashi nunca o foi. – Irresponsável? – "nós temos um filho, porra!" - é o que ela pensa.

E logo Kalmia vê que pensou alto - inclusive o palavrão -, quando Kakashi devolve:

– Bem – apenas isso poderia ter sido o suficiente pra inflamar toda a raiva nela. – Quando os capturei eu não tinha.

– Você está me culpando por ter um filho? – imediatamente, ela rebate. – Você está dizendo que seu filho é sua única justificativa pra não fazer uma coisa dessas? Não, não, espere, essa justificativa eu dei pra você e...

– Eu não estou dizendo que...

– Se não fosse rápido demais teria dado tempo de você me ferir?

– Sim – Kakashi diz. – O quê? Não! – corrige imediatamente, indignado. – Te ferir? Que diabo está falando? Por que eu iria querer ferir você, Kalmia?

Ele junta as sobrancelhas, cruzando os braços em frente ao peito, parecia muito mais calmo do que realmente estava.

Já Kalmia estava ofegante, trêmula, erguia os olhos marejados para o alto, sentada na cadeira. Acha que se olhar na cara dele agora, explodirá.

– Então o que está tentando – ele se atém ligeiramente à ela ao ouvir o som trêmulo da voz brava e chorona. – Se a única coisa que me acontece ao ter os dois tão perto de nós é que eu me sinto humilhada – por um instante, o coração dele pára. – Impotente, medíocre e medrosa – acrescenta. – E agora, por causa de Kakeru, me dá vergonha e um medo maior que eu, de que algo possa acontecer com ele...?

– Porque você se sente assim eu queria ainda mais os ferir – leva meio segundo pra rebater, os braços ainda cruzados, o tom grave e pesado.

– Eu não me importo com o que acontece com eles, Kakashi – é a resposta final dela. – Entendo seu ponto de vista e como você se sente, mas até o fato de você se preocupar comigo me faz sentir mais culpada – Kalmia não resiste e deixa uma espessa lágrima solitária cair, secando-a em seguida.

GRITE - Hatake KakashiOnde histórias criam vida. Descubra agora