34 ➳ Lucidez

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Olha quem está com o celular bommm!
Olha quem vai publicar que nem loucaaa!
Olha quem está completamente de voltaaa!
Vamos de capítulo sofrido?
Boa leitura, meus bichinhos!















Kalmia sente como se pequenas faíscas de um meteorito em decomposição caíssem em direção aos seus olhos. Não conseguia abri-los, nem erguer a cabeça, é como se toda gravidade tivesse a sugado, e ela não tem força o suficiente pra simplesmente respirar.

Ela luta. Por longos segundos. Até que seus olhos, dolorosa e gradativamente se abrem.

Kalmia acorda no hospital.

Olha em volta, com muita claridade no rosto, sente os olhos arderem, mexendo muito vagarosamente a cabeça.

Vê o pé metálico da sua cama, depois sobe o olhar pela coberta cinza. Há bandagens firmes espremendo seus pulsos, e quando os olha, sente dor.

Sua dor não é maior que o medo, o pavor histérico que lhe atingiu ao perceber-se amarrada à cama, na cabeça dela, como um animal.

Um som estrangulo ecoa de sua garganta, a faz avisar que está chorando, muito assustada.

Kalmia não entende de imediato, mas esta era uma maneira eficaz de impedir que ela tentasse - novamente - machucar a si mesma durante a noite. Kakashi se odiou, mas não conseguiu negar tal tratamento, pensando que isso pudesse ser o melhor pra ela.

Imediatamente, quando a percebe acordada, o homem levanta da cadeira em que dormiu, completamente dolorido e estressado, engole em seco por ter os olhos cansados e confusos dela acompanhando seu movimento rápido de abrir os cintos que a prendiam como num manicômio.

Kalmia pisca, perturbada. Depois sobe os olhos pra ele.

- Onde ele está? - Kakashi sente que todo o peso que carregava nas costas desde o momento que ela foi para o hospital, prestes a dar a luz, cai de seus ombros quando Kalmia quer saber do menino.

- Por que eu estou aqui? - antes que Kakashi se recompusesse, Kalmia pergunta, a voz meio grogue, os olhos escurecidos.

Quando ouve sua segunda pergunta, Kakashi solta a respiração, sentando-se cuidadosamente em sua frente. Ele cai em si e percebe que Kalmia não lembra o que aconteceu - como os médicos lhe disseram que provavelmente seria -, não lembra o que fez, não se recorda de ter tentando asfixiar a criança.

Kakashi precisa pensar rápido.

Tremia entre lhe falar, lhe conscientizar, fazê-la enfrentar o mal que causou ou omitir, fazê-la nunca lembrar, ignorar que aquilo de fato aconteceu.

- Ele está em casa, com Hinata - Kakashi decide, mentindo, beija sua testa com tristeza. O menino ainda estava recebendo tratamento hospitalar, já haviam combinado com o Sexto que poderia levar o menino pra casa um dia antes da alta de Kalmia.

Mesmo que tenha se sentido aliviada, bastou perceber outra fez os pulsos enfaixados para senti-los doídos, como tivessem dilacerados.

- O que é... - Kalmia o afasta, minimamente, apertando um dos pulsos com a mão.

Kakashi engole em seco.

Isso ele poderia esconder? Seria certo esconder? Ah, o que ele está fazendo? Como se ele soubesse o que é certo nessa cena completamente conturbada... Como se ele fosse bom o suficiente pra escolher o que ela deve ou não saber...

- Amor... Você... - Kalmia se arrepia quando ele para, engolindo em seco, toda a atenção lúcida dela sobre sua fala. E com muita dificuldade nos nós da garganta, o homem lhe conta: - Você tentou suicídio, Kalmia...

Dopada de remédios, Kalmia sorri.

- Por que eu faria isso? - pergunta, achando graça do que ele falou.

Quando percebe que Kakashi não brincava, permanece sério e até com uma feição entristecida, Kalmia chora. Um som estranho escapa dela, envolto do seu riso, misturado ao susto do que ele lhe dizia.

- Por que eu... Logo agora, com você, com o bebê, logo agora que eu tenho uma família - ela ri nervosa. - Não faz sentido...

Kakashi passa a mão enluvada pelo contorno do seu rosto pálido, afagando-lhe os cabelos meio presos, meio soltos, bem bagunçados.

Ele não consegue lhe responder.

Se sente um covarde, mas não tem coragem de contar que ela está doente.

E mesmo que ele não tenha respondido nenhuma de suas perguntas até agora - Kakashi se odeia por não saber responder -, Kalmia insiste em lhe trazer ainda mais questões.

- Como está... Meu bebê? - ah, ele sabia que ela iria quebrá-lo desse jeito.

Kakashi baixa a cabeça, engolindo sua maldita comoção por debaixo da máscara que subitamente parecia sugar seu oxigênio. Quando Kakashi pensa que não pode se sentir pior, dolorosamente, Kalmia acrescenta:

- Eu... Não lembro de conhecê-lo... - quando ouve seu sopro sentido, Kakashi chora.

E isso assusta Kalmia.

- Por que... Você está assim, amor? - ela o puxa pela mão, encostando a testa dele em seu ombro.

Kakashi estava cansado. Se sentia exausto, entorpecido.

Só consegue reagir ao vê-la preocupada, tirando os tubos de oxigênio, puxando como fosse uma figurinha animada a agulha de soro cravada em sua veia.

- Pare - ele tenta segurar sua mão. - Pare, pare - Kakashi não a deixa tirar, cada gesto dela o deixava mais e mais deprimido.

- O que você tem? Vamos embora... - ela sussurra, nervosa, confusa.

Kakashi a vê dopada. Totalmente dopada.

- Nós não podemos - ele diz. - Você... - se corrige, atrapalhado. - Você não pode sair, minha flor - Kakashi acaricia seu braço, a faz perceber que não estava em um quarto de maternidade.

- Kakashi... - sabendo o que viria agora, Kakashi ofega. Fecha os olhos tentando com que a falta de visão o impeça de senti-la chorando. Mas, chorando, Kalmia pergunta: - Onde eu estou?

Por um longe segundo, ele lhe deu silêncio.

Estava tentando, bravamente, desde que ela acordou, não assustá-la mais, não fazê-la sofrer, impedir que a verdade arrasasse com sua mente. Mas, merda... Sua reação estragou tudo.

Ele não conseguia mais ser forte.

Não depois de tudo o que aconteceu nos últimos dias.

Ele só queria estar com ela, em casa, dormindo abraçados ou implicando um com o outro pela casa. Não queria ter caçado Saturo, nem queria que ela estivesse grávida. Não queria vê-la doente e não suporta a imagem de tê-la asfixiando o menino.

- Onde eu estou? - quando ela enfatiza a pergunta, Kakashi arrepia-se.

- Na ala psiquiátrica - diz, lamentavelmente. - E precisamos ficar, por mais alguns dias...

Kakashi lhe dá um instante para assimilar. E antes que o instante acabe, o ninja ergue o baldinho de metal pra ela vomitar toda a medicação, os analgésicos, os antidepressivos, e tudo o que comeu no último dia. E mesmo sem os remédios musculares, ela não sente dor nas pernas, isso porque não sente o próprio corpo.

- Merda - Kakashi pragueja, afastando-se o suficiente para gritar. -Enfermeira! - chama.

Kalmia nem sente seu nariz sangrar, mas isso foi mais do que suficiente pra alarmar Kakashi que grita outra vez:

- Enfermeira! - imediatamente ele é educadamente expulso da sala, não antes de ver Kalmia apagar.

Depois desse quadro, a medicação dobrou, então, ela não ficou mais cinco minutos acordada.

Agora já são seis dias em que ela está internada. Recebe tratamento psicológico, medicação regulada e apenas dez minutos de visita por dia. O isolamento total do menino ajudou na recuperação emocional, e a conversa que Kakashi teve com o psiquiatra, acordando que nenhum dos dois falasse sobre o ocorrido, adiantou o acompanhamento em quase 100%. Em dois dias ela estaria liberada.

Ele poderia, finalmente, ter sua família em casa.

GRITE - Hatake KakashiOnde histórias criam vida. Descubra agora