– Kalmia, corre aqui – Kakashi chama em tom alto, atrapalhando a mulher que não conseguia organizar todas as caixas trazidas na mudança, mesmo depois de quatro meses.
– Esp...
– Corre! Rápido, rápido! – ele enfatiza, fazendo-a largar tudo do jeito que está e correr para a sala, procurando imediatamente Kakeru com os olhos.
– O que fo... Ah, meu Deus! – dá um gritinho, enquanto Kakashi se mantém ajoelhado, cercando com as mãos o corpinho gorducho que se levantava para ficar sentado sobre as almofadas no chão.
– Meu Deus! Meu Deus! Ele sentou, ele sentou sozinho, Kakashi – põe as duas mãos sobre o peito, insinuando um infarto. – Aaaaa, ele vai cair – o homem o segura rapidamente, impedindo a queda da criança.
– Eu tô cuidando, amor – ri, tão animado quanto ela.
Agora não era tão seguro deixá-lo um minuto sozinho. Antes ele só rolava, puxando objetos e pondo na boca tudo o que conseguia pegar. Agora que se levanta, bate a cabecinha nos móveis, pode cair e se machucar, desiquilibrado.
Kakashi não sabia, há pouco mais de um ano atrás, que pudesse sentir essa sensação estranha, amedrontosa e ansiosa que sente, a cada dia que se passa com o filho.
Era diferente do amor arrebatador que ele sentia por Kalmia. E não sabe se é parecido com o que sentia por seu pai. Sabe que nunca houve crianças que ele mais tenha amado senão seus três alunos, mas então... Isso acontece.
– Ba... Ba... Hmn – ele balança a cabeça para o menino deitado em suas pernas, ambos esperando por Kalmia na sala de espera do consultório psicológico.
– Pa... – ele corrige, instigando-o a resmungar. – Pa-pa... – Kalmia o teria furado os olhos se visse aquela traição, mas Kakashi bem sabe que por suas costas, ela tenta fazê-lo dizer "Mama" primeiro.
Sentindo as mãos coçarem para apertar o neném, Kakashi se segura e mexe no cabelo prateado do mesmo, sem conseguir ouvir um resquício sequer de som vindo lá de dentro.
Sentada de frente para Fith, Kalmia fala:
– Aí ele parecia tão chocado, mas tão chocado que eu pensei que fosse desmaiar – abana o próprio rosto, a pele toda ruborizada, aquecida com a lembrança da reação de Kakashi com seu pedido de casamento.
Fith estava encantada, deliciada com a história, o tom de voz da sua paciente era diferente, o jeito desinibido, os olhos brilhavam de uma maneira que, se ela não se cuidasse, estaria com muita inveja.
– Você conseguiu perguntar? O que você ensaiou, todas aquelas frases lindas que nós ensaiamos juntas? – a psicóloga ri, anotando no seu caderno enquanto Kalmia gargalha.
Desta vez, Kakashi consegue ouvir do lado de fora. E minimamente, ele sorri sob a máscara ao ouvir sua risada.
– Claro que não – diz animada, balançando a mão freneticamente rente ao rosto. – Mulher, eu não lembrava nem como era aquela frase... "Você quer casar comigo?" – gargalha, sentindo o coração quente e pulsante em seu peito. – Você tinha que ver, eu quase morri quando ele tirou a mesma caixinha de veludo de detrás de suas costas...
A consulta psicológica se segue por pelo menos mais uma hora. Fith não poderia estar mais perplexa com o resultado.
Kalmia lhe contou sobre a decoração da casa nova, e de como eles se estressaram pra pôr pontas de borracha em todas as quinas dos móveis, planejando já a adaptação de Kakeru ali.
A psicóloga acentuou um pequeno equívoco no comportamento dela, quando ela disse, entre risos como um segredo, que Kakashi não a deixa ficar no escuro, mesmo que propositalmente ela tenha comprado cortinas grossas para o quarto, querendo ficar o mais tempo possível sem a luz do Sol.
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GRITE - Hatake Kakashi
Fanfiction#1 lugar em Kakashi - 09/08/2020; #1 lugar em Naruto - 28/11/2020; Kalmia, com um nome tão peculiar, mas uma história muito comum e monótona. Tentando recomeçar sua vida que havia acabado antes mesmo de estourar a Quarta Guerra Ninja, se muda para K...