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  Após a conversa franca com o Ricardo, eu tinha quatro coisas em quê pensar. A primeira, ele se preocupava comigo e com o meu relacionamento com seu filho. A segunda, que ele era um bom pai. A terceira, eu poderia relaxar em relação a Alexia e o contrato pois esse assunto estava acabado. E a quarta, ele tem um quarto filho a qual mencionou mas não me apresentou em seu pequeno relatório decorado sobre seus filhos. Saí dos meus pensamentos quando a porta do escritório se abriu novamente e agora o Mikael vinha acompanhado do pai.

- Espero que ele não tenha te apresentado motivos para não ficar comigo. - Eu ri. Pelo contrário, ele tinha me dados motivos para não fugir; Não verbalizei o pensamento. Ele se aproximou de mim enquanto o Ricardo fechava a porta.

- Eu pensei em te denunciar. - Ricardo começou falando e eu o olhei. - Mas sei que isso vai causar balbúrdia, ao investigar os estudantes, irá chamar atenção para a faculdade e eu não quero isso. Apesar de que ser justo com você, seria fazer exatamente isso. - Mikael cruzou os braços enquanto ouvia atentamente ao pai. - Já havíamos conversado antes, umas semanas atrás.. - Ele se recordou. - E eu precisava de você, em Minnesota. - Mikael o encarou. - Seu castigo é passar a próxima temporada lá, olhando de perto os negócios. - Mikael me olhou por uns instantes. - Sei que a Megan vai te amar igualmente, mesmo que você passe um tempo fora. Esse é seu castigo e dessa vez não tem como ser do seu jeito.

- Tudo bem. - Mikael respondeu enquanto segurava minha mão. - Farei os negócios alavancarem em Minnesota e cumprirei meu castigo.

- Ótimo. - Ricardo sorriu satisfeito. - Preciso saber como está a outra parte. - Provavelmente ele estava falando da Mel. - Por favor não divirtam-se no meu escritório. - Senti minhas bochechas corarem, enquanto o Mikael revirou os olhos e ele saiu dando gargalhadas da sua piada.

- Ele vai te matar de vergonha. - Mikael me alertou após o pai ter saído da sala. - Tudo bem pra você eu ficar longe?

- Não. - Fui sincera. - Não queria ficar longe de você. - Ele me abraçou. - Mas esse castigo é melhor do que ser preso. - Ele riu.

(...)

    A casa era realmente belíssima e todos os cômodos tinham uma decoração única, como se a pessoa que decorou fosse minimamente detalhista e tivesse pensado em cada cômodo como um projeto a parte. Enquanto andávamos notei que havia uma sala mediana com instrumentos então voltei três passos. Mikael parou e me olhou sem entender, enquanto eu me distanciava dele e entrava na sala sem pedir licença. Ver um piano me causou felicidade e tristeza. Amava em partes o convento, mas odiava o que deixavam a Rita fazer comigo.

- Gosta..? - Mikael entrou na sala logo atrás de mim e eu apenas balancei a cabeça positivamente, enquanto afastava os pensamentos sobre o convento. - Qual você curte?

- Curto todos. - Ele riu. - Os sons são diferentes e lindos, eu gosto muito de música. - Ele cruzou os braços me olhando.

- Temos muito o que conhecer um do outro... - Ele pegou o violino. - Quando éramos crianças, precisávamos escolher duas aulas artísticas ou esportivas. - Ele se sentou em um banco aveludado enquanto me olhava. - Eu escolhi, basquete e violino.

- Eu aprendi a tocar um pouco de tudo... - Toquei no piano branco, que havia me hipnotizado. - Sempre achei as celebrações sem graça quando não havia sons, então tratei de aprender. - Ele me olhou surpreso. - E ensinar as crianças.. - Eu ri ao me lembrar delas. - Há um orfanato perto do convento, quero ir passar o natal lá, ver a boneca de pano que a Clara está fazendo a muito tempo concluída, e o Billy finalmente fazer sua apresentação no piano.

- Você é uma caixinha de surpresas, Megan. - Eu sorri. - Deveria me mostrar o que sabe fazer..

- Será uma honra. - Estava animadíssima com a ideia de tocar piano novamente depois desses longos meses fora do convento. Sem dúvidas, todas as vezes que estava triste, magoada, sozinha, confusa e dolorida pelos castigos, o piano era minha alegria, meu consolo, minha companhia, minha direção, meu bálsamo. Deus sabia que eu ia sofrer, me deu o piano e todos os outros instrumentos, para que eu aguentasse tudo o que fosse passar, e depois dos conflitos recentes, eu precisava sentir um pouco de paz de novo. Me sentei na banqueta que tinha seu estofado preto, era retangular, e um pouco maior onde caberia duas pessoas, diferente do meu banquinho improvisado no convento. O piano branco e de cauda, era perfeito. Respirei fundo antes que permitisse que meus dedos tocassem em um das teclas, Mikael chamou minha atenção.

- Alguma música especial?

- Ah, não.. - Eu não havia pensado em nada.

- Gosto de if ain't got you. - Eu o olhei e em seguida franzi o cenho. Não me lembrava de nada por nomes, apenas pela melodia. Ele se levantou de seu lugar e mexeu nas partituras até encontrar a que queria. Sentou-se novamente e me olhou. - Eu te acompanho. - Ele posicionou o violino no ombro e arrumou a postura. Eu sorri para ele, e assim que meus dedos começaram a deslizar sob as teclas, senti felicidade. Conforto. Segurança. A medida que a intensidade da música aumentava, eu a cantarolava em minha mente, enquanto o som magnífico do violino fazia um contraste perfeito com o piano. Fechei os olhos e passei a sentir toda a emoção da música, enquanto a transmitia através das minhas mãos. Quando a música acabou abri meus olhos e ele os dele, e então ambos sorrimos. - Você toca muito bem.

- Igualmente. - Me levantei da banqueta e ele do seu banco, posicionando seu violino em um local seguro. - Realmente foi uma surpresa você saber tocar. - Ele riu e em seguida me abraçou.

- Algumas pessoas querem anéis de diamante. - Ele começou a falar e me olhou. - Algumas apenas querem tudo. - Ele estava citando a música e eu sorri. - Mas tudo significa nada.. - Eu continuei o olhando, e ele era tão lindo. - Se eu não tiver você.

Tudo estava indo tão bem... Mas sempre após um dia ensolarado, vem as tempestades, e isso pode ser um pensamento muito pessimista, porém eu não consigo imaginar tudo acabando bem, eu sentia que não era o fim, e é como se eu fosse um personagem dentro de um livro, e o autor da minha vida, simplesmente não gostasse de mim... Mas mesmo com esses pensamentos, me contentei em sorrir e naquele momento admirar o Mikael.

- Nada nesse mundo tem significado. - Eu completei a música e ele sorriu enquanto encarava minha boca. - Se eu não tenho você... - Puxou-me pela cintura e iniciou um beijo caloroso, o qual eu amo.

(...)

Losin Control (Concluído) Onde histórias criam vida. Descubra agora