Nos dias seguintes, as surras aumentaram. Namjoon passou a trancar Jimin no cativeiro com mais frequência, e o mesmo deitava na cama coberto de hematomas, lutando consigo mesmo. Jimin não podia se deixar consumir pela dor —o que era isso que Namjoon queria que ele fizera— não podia desistir, não podia se entregar no pensamento de que talvez nunca saísse daquele lugar. Namjoon queria que o garoto se entregasse ao pensamento de que estar aprisionado foi a melhor coisa que lhe aconteceu. Jimin tinha de repetir para si mesmo de que não tinha sorte por estar vivo com o Kim, apesar de ele dizer isso constantemente.
Por incrível que pareça, Jimin se sentia obrigado a rezar para que nada de tão grave acontecesse com Namjoon, não por sentir afeto —o que seria algo impossível dele sentir— mas sim pelo medo de que ninguém jamais o encontrasse. O jovem não fazia ideia se as pessoas no mundo lá fora ainda o procuravam. Querendo ou não, Jimin só tinha à Namjoon, se o mesmo morresse, quem traria comida para o garoto no subterrâneo? Se o cirurgião morresse, quem libertaria Jimin do cativeiro? A polícia não fazia ideia de onde o menor estava. Se o Kim morrer, Jimin morre junto. O mais novo sempre rezava para que Namjoon voltasse bem, porque se acontecesse algo com ele, ninguém acharia Jimin.
As palavras de Namjoon caíam sobre o menor como armadilhas. Sempre que deitava consumido pela dor, sabia que o lunático estava errado. Mas o cérebro humano rapidamente suprime o sofrimento. E, no dia seguinte ficava satisfeito por submeter Jimin à ilusão de que Namjoon não era de todo o mal e por acreditar em seus devaneios.
Mas, se Jimin quisesse escapar do cativeiro, teria de se libertar dessas armadilhas primeiro.
O Park estava na parte de cima da casa passando ferro nas roupas de Namjoon enquanto o mesmo estava sentado numa poltrona à frente lendo um jornal.
— Acredito que você caiu no esquecimento, querido. – Namjoon disse com um tom vitorioso e voltou a ler o jornal.
O maldito dizia coisas assim constantemente para Jimin, na intenção de lhe enfraquecer mentalmente. Dizia várias vezes de que ninguém jamais o acharia e que sua família não se importava com ele. É claro que Jimin não acreditava, mas essas palavras machucavam o garoto, cada coisa dita pelo sequestrador, causava no Park um grande impacto e isso lhe deixava depressivo.Jimin parou de passar ferro por um momento e as vozes ecoando em sua mente surgiram de repente.
"Você não pode desistir. Ele está fazendo isso para te enfraquecer. Você não tem muita escolha, até que um dia encontre uma nova oportunidade. Sabemos que tudo está trancado, mas Namjoon não pode manter as portas trancadas para sempre."
— O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO SEU IMBECÍL!!!
Jimin foi acordado de seus pensamentos com um berro incontrolável de Namjoon. O mesmo o empurrou fazendo Jimin cair fortemente no chão e bater a cabeça contra a escrivaninha, só depois, percebeu o que fez.Por estar pensando tão alto, Jimin deixou o ferro quente em cima do suéter de Namjoon, fazendo a peça queimar. O coração do garoto gelou por isso, veio então um grande receio. Namjoon era um homem que surtava constantemente e de forma desnecessária, mas agora, o homem tinha um motivo maior para espancar o Park.
— Olhe bem o que você fez!!! – Gritou enfurecido mostrando a Jimin seu suéter favorito com uma grande mancha preta soltando fumaça. — Será possível que você não faz nada direito!
E mais uma vez Jimin apanhou e ouviu várias vezes de Namjoon que ele era um inútil, que não sabia fazer nada direito. Os xingamentos chegavam a doer mais do que as surras. Jimin vivera um verdadeiro inferno, apanhava praticamente todos os dias, e por fim, escuridão no cativeiro.
Outras surras ocorreram recentemente, se é que Jimin lembra bem delas e não as reprimiu: uma vez, Namjoon jogou óleo quente em Jimin por ele ter esquecido de pôr sal na carne.
Jimin tinha um corte esverdeado abaixo do tornozelo esquerdo e a pele descascava facilmente. Uma vez, Namjoon jogou uma lata pesada, contra a bacia do menor e ficou com um hematoma marrom-avermelhado. Outra vez, o Park se recusou a voltar para o andar de cima com Namjoon por medo. O mesmo arrancou as tomadas da parede, jogou o temporizador em cima do mais novo e o que mais ele tinha nas mãos contra a parede. Jimin tinha uma marca profunda e vermelha no lado externo do joelho direito e na panturilha. Além disso, tinha um hematoma preto e violeta no braço esquerdo, com cerca de oito centímetros, que o garoto nem se lembra de como conseguiu. Namjoon lhe deu socos e pontapés muitas vezes, até na cabeça. Repetidamente fez seus lábios sangrarem.
Depois de tantas agressões, escuridão no cativeiro mais uma vez, sem comida ou ar. Socos com o punho na parte posterior da coxa e no bumbum e tornozelo. Tapas no bumbum, costas, laterais das coxas, ombro direito, axilias e peitoral, que deixaram pústulas vermelhas.
Esse era o horror de uma única semana, que se repetiu inúmeras vezes. De vez em quando, era tão ruim que Jimin tremia a ponto de poder segurar uma caneta. Choramingando cheio de medo de que as imagens do dia lhe assombassem à noite.
~ Dias Depois ~
Jimin estava mais uma vez sentado na beirada da cama como o mesmo pensamento de sempre. Esperando. Rezando para de que algum dia todo o seu pesadelo tivesse um final feliz. Jimin estava com frebe e dor no corpo, as surras dos últimos dias foram as mais dolorosas, incluindo até mesmo queimaduras feitas por cigarro que Namjoon apagava em sua pele. O monstro nem sequer fumava, apenas acendia o cigarro para simplesmente apagá-lo na pele do menor e vê-lo sofrer. O maluco fazia isso só para ver o Park chorar, assim como sua mãe fazia quando ele era pequeno.
Jimin despertou dos pensamentos ao ouvir um choro de bebê. Choro no qual ele já conhecia. O Park levantou-se e caminhou com dificuldade até parar em frente ao berço onde por fim, encontrou o pequeno ser. O mesmo então parou de chorar só em ver Jimin. Era como se o pequenino sentisse uma energia positiva só em ter o Park por perto.
O bebê fixou seus pequenos olhinhos na pessoa que lhe pôs no mundo, e ao ter seus olhos de encontro aos de Jimin, o pequeno bebê sorriu. Um sorriso tão lindo que só um coração feito de pedra não seria capaz de sentir amor e carinho. Infelizmente, Jimin não era capaz de sentir qualquer tipo de sentimento sobre seu filho que lhe observava com um olhar apaixonado e com um sorriso no rosto revelando apenas um gengiva sem dentes. Jimin não podia negar de que o bebê realmente parecia ser seu filho, seus traços como olhos, boca e nariz eram todos idênticos. Jimin encarava o bebê no berço sem demonstrar um pingo de sentimento ou expressão.
"Aquilo é um fruto do diabo" para Jimin, o bebê era uma maldição em sua vida, era fruto do ódio. O bebê era mais uma armadilha que Namjoon pôs contra Jimin para que o mesmo nunca o esquecesse. Cada vez que o jovem olhava para o pequenino, rápidos flash's passavam em sua mente o motivo dessa criança ter vindo ao mundo.
A porta do quarto é aberta e Jimin encontra Namjoon adentrando no cômodo logo o trancando. O Park então caminha vagarosamente devido todas as dores que lhe perturbavam e senta na beirada da cama mais uma vez. Namjoon anda até a cama sentando-se ao seu lado.
— Eu vi você olhando para o nosso filho. – Namjoon comenta mas Jimin não diz nada a respeito, permanece calado com um olhar frio.
Namjoon então tira a algema do bolso e prende seu pulso junto ao de Jimin. Em seguida, o olha com um olhar sem malícia —o que é um milagre—. O maior suspira um pouco e se move fazendo o Park lhe seguir. Ambos deitam ao lado do outro.
Jimin deita de costas para Namjoon apenas encarando a única janela trancada do quarto. O Kim então apaga a luz do abajur deixando o quarto completamente escuro, em seguida, se aproxima do mais quase colando seus lábios no ouvido dele.
— Se você me obedecer... Eu te deixo dormir sem as algemas.
Mais uma de suas mentiras.
Após dizer isso, Namjoon relaxou os músculos e se ajeitou numa melhor posição para dormir. Jimin nada falou, apenas continuou encarando a janela com uma grande sede de fugir. Sabia que aquela seria mais uma noite em claro.

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The Desire
TerrorPark Jimin é um universitário que decidiu passar suas férias em Gwangju ao lado de seu namorado Jung Hoseok. O jovem teve que viajar de volta ao receber a triste notícia de que sua avó havia falecido. Mas antes mesmo de chegar em sua terra natal, el...