VI

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       Jimin estava completamente inconsciente. Seu corpo todo se encontrava anestesiado e havia vários aparelhos de pressão nele. Namjoon tinha tudo sob controle, já tinha toda a medicação para não causar algum tipo de dor. O cara já sabia de todas as doses adequadas para Jimin. Enquanto ele dormia, o cirurgião – talvez não tão maluco assim. – foi capaz de descobrir sua altura, seu peso e até mesmo seu tipo sanguíneo. Uma veia periférica estava sendo impulsionada. O que é óbvio numa cirurgia, Jimin não respirava bem, por isso estava entubado.

        Namjoon já estava prontamente preparado, usava roupas adequadas para cirurgia, luvas, máscaras e uma toca em seu cabelo. Seu plano era mirabolante, ele teve a "brilhante" ideia de transplantar o útero de Yoo-Jun para Jimin. Havia tudo para dar errado, mas como Namjoon se autodenominava um renomado cirurgião especializado em transplantes, os riscos de erros eram quase inexistentes para ele. Apesar de seu comportamento um tanto estranho, Namjoon era muito inteligente. Na escola, sempre tirava boas notas, sempre foi dedicado na realização de seus sonhos e desejos. Tudo o que queria, ele conseguia, sempre com uma boa resposta pra tudo, o homem era um sádico de primeira. Apesar de todas as suas falhas como ser humano, Namjoon tinha uma aparência boa, um homem um tanto bonito, não parecia demonstrar loucura.

       O transplante levou cerca de trinta horas para ser feito. Tudo já estava pronto. O útero se encontrava dentro de Jimin e isso fez seu cirurgião dar um sorriso de orelha a orelha, um sorriso psicopata e vitorioso por ver sua linda obra-prima.

        Namjoon terminou de fechar os pontos de seu paciente, em seguida, ele desligou todos os anestésicos. Jimin já respirava sozinho, sem precisar de todos aqueles aparelhos. Cirurgia feita, Namjoon deixou o menor dormindo na sala e se retirou do cômodo para tomar um banho e descançar, foram longas horas de trabalho sozinho.

                            (...)

       Jimin já estava acordando aos poucos, seus olhos ainda estavam pesados, porém, sua visão estava um tanto boa. A primeira coisa que ele enxergou, foi a florescente no teto que faz seus olhos arderem um pouco. Ele não se lembra de nada do que aconteceu. Uma coberta branca cobria Jimin. O mesmo desvia o olhar e encontra um soro pendurado que estava caindo lento demais. O líquido amarelado penetrava sua veia. Por ainda estar sonolento, seus olhos lacrimejaram. "Jimin. Como se sente?" a voz lhe penetrou os ouvidos e o trouxe de volta ao presente. O garoto então procurou de onde vinha aquela voz não tão grave e familiar. Ele desviou o olhar e encontrou Namjoon sentado numa cadeira branca ao seu lado. Jimin não responde e continua a lhe observar extremamente imóvel.

     — Você deve estar confuso. – Namjoon se pronunciou sereno. O menor não consegue falar e apenas o encara. — Terá de ficar aqui por alguns dias, até que eu retire seus pontos. – A expressão de Jimin demonstra não entender. — Você passou por um transplante, meu amor. – O garoto arregalou os olhos muito assustado. "O que esse maluco fez comigo?! O que ele mexeu em mim?" Pensou. Jimin fez um pequeno esforço para falar.

     — O que você fez?... – Murmura rouco sentindo queimação na garganta que ainda era o efeito de quando ele estava entubado.

    — Agora você tem um útero. – Ele respondeu com sinceridade e Jimin franziu o cenho. Que conversa é essa?! É claro que o menor não acreditou de primeira, afinal, quem diabos vai transplantar um útero para um homem? Kim Namjoon. — Vê aquele soro? – Pergunta e aponta para o mesmo, Jimin segue com o olhar e encontra o líquido ainda mais lento invadindo sua veia. — São remédios para que seu organismo não rejeite o útero. Vou passar uma dieta para você meu bem, logo logo poderá voltar ao seu quartinho e aguardar melhores resultados.

        Jimin só acreditou quando levantou um pouco a coberta e encontrou os pontos abaixo do umbigo. Ele arqueou as sombrancelhas e olhou para Namjoon com um olhar de revolta e tristeza. Foi muita ousadia de sua parte lhe abrir e colocar um órgão feminino dentro de si, sem mais nem menos. É o corpo que PERTENCE à Jimin, como ele teve a capacidade de fazer tamanha loucura?

     — Por que fez isso?! – A voz do menor saiu alta por um milagre. Fez uma careta ao sentir pontadas na barriga.  — Mas que ideia mais idiota! – Namjoon se irritou mas não quis machucar Jimin, afinal, ele acabou de passar por uma operação, não queria estragar tudo.

     — Meu plano não é idiota. – Repreendeu com um olhar frio.

     — Você é um maldito doente. Me deixe ir embora, por favor! Eu prometo que não vou lhe denunciar. Eu só quero minha liberdade de novo! – Pediu mas Namjoon não demonstrou o mínimo de compaixão por suas palavras. — Eu quero encontrar minha família, meu namorado, eu...

     — VOCÊ NÃO TEM NAMORADO! – Namjoon gritou assustando Jimin que se encolheu. – VOCÊ NÃO TEM FAMÍLIA! Eles não ligam pra você!

     — Me deixa ir! – Jimin insistiu mas foi em vão. Então ouve uma longa pausa. Namjoon levantou e saiu da sala sem dizer mais nada. O garoto tentou se livrar do soro, mas um esparadrapo puxava seus pouquíssimos pelos do braço e isso lhe incomodava bastante. — Espere!  Por favor me diga alguma coisa!

       Namjoon não deu ouvidos e se retirou do cômodo cirúrgico. "Não desista, seja forte! Você vai conseguir sair daqui." Essas palavras ecoaram na mente de Jimin. Não adiantava pedir para que Namjoon lhe soltasse, ainda mais agora que o seu "brinquedo" tem um órgão inédito. O homem não enxergava Jimin como uma pessoa normal e sim como uma cobaia para realizar suas experiências malucas, mas será mesmo que este é o motivo no qual Namjoon lhe mantém preso? Todo pedido que Jimin fazia era em vão, não funcionava e ele tinha de se conformar que o cirurgião não lhe daria a liberdade. Nesse caso, Jimin tem que encontrar forças para poder escapar desse maluco.

         O jovem empurrou a cabeça no travesseiro e encarou o teto branco gelo. Tudo que ele mais queria naquele momento, era ir para casa, não lhe importava tanto o fato de ter carregar um útero dentro de si, pois ele daria um jeito nisso, ele só queria encontrar sua família e Hoseok mais uma vez, que logicamente, já pediram resgate. Jimin não fazia ideia do que acontecera lá fora. Será que havia cartazes com sua foto com a legenda "DESAPARECIDO" colado nas ruas? E será também que a polícia lhe procurava? Ele tinha certeza que não iriam desistir tão fácil do garoto que saiu de seu conjunto habitacional para ir ao velório da avó, mas por um gigantesco imprevisto, nunca chegou.

        A porta rangeu e isso chamou a atenção de Jimin. Namjoon entrou no quarto com uma bandeja, ele trazia um pão integral recheado com geleia e um copo descartável com suco de acerola dentro. Ele parou em frente a cama.

     — Você precisa comer não é? – Sorriu sarcástico e Jimin apenas assentiu com a cabeça. Aceitou a comida de bom grado e mordeu o pão de uma forma tão gulosa que lhe fez soluçar. — Estava com fome não estava? – Namjoon perguntou e sentou novamente em sua cadeira. Jimin confirmou em pensamento e não parou de comer. Finalmente um alimento entrou em sua boca. Namjoon aperta o lábio e dá um suspiro meio sem jeito. Ele ainda é um caso sem solução para Jimin. Enquanto devorava seu pão com geleia, o menor ensaiava suas palavras em pensamento, o que ele teria de fazer para ser livre?

The DesireOnde histórias criam vida. Descubra agora