XIX

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       Na manhã seguinte, Jimin estava na cozinha preparando uma receita que Namjoon criou. O mesmo também estava na cozinha obsrvando tudo que o menor fazia.

     — Não é pra bater os ovos desse jeito! – Reclamou. Jimin fazia o que estava ao seu alcance para agradar esse homem, mas ele nunca estara satisfeito. — Você é muito desajeitado. Cuidado! Um animal faz melhor que você.

      Um pouco de farinha caiu na bancada. Ele gritou e disse que Jimin estava demorando muito. Animais, o bolo... Jimin fazia o melhor que podia - mas, não importava o que fizesse, nunca era suficientemente bom para ele -. Até o garoto não aguentar mais aquela gritaria desnecessária.

     — Se você está achando ruim, então porque você mesmo não vem fazer sua própria comida?! – O menor disse num tom alterado.

      Então foi no que deu. Ele bateu em Jimin como se fosse uma criança rebelde, jogou a tigela com a massa no chão e o empurrou contra a mesa da cozinha. Então arrastou o garoto até o cativeiro e o trancou como sempre.

       Era dia claro do lado de fora, mas Namjoon não permitia luz alguma para ele. O cara sabia como torturar Jimin. O mesmo deitou na cama e balançou, em silêncio de um lado para o outro. Não conseguia chorar nem imaginar longe daquilo. A cada momento, a dor das contusões e dos hematomas gritavam em Jimin. Mas ele continuava calado, deitado na escuridão absoluta, como se estivesse fora do tempo e do espaço.

      Namjoon não apareceu mais. O despertador fazia seu tique-taque baixinho e assegurava Jimin que o tempo passava, e como passava... Ele acabou cochilando e até sonhou. Sonhou com sua liberdade, ele corria por uma estrada vazia, porém transmitia felicidade e libertação, Hoseok e sua família corriam ao seu lado. Ele podera sentir o vento tocar sua face e bagunçar seu cabelo e o sol queimar sua pele. Era um sentimento de dissolução absoluta dos limites, uma intoxicação com a sensação de estar vivo.

      Quando Jimin acordou, ainda estava escuro, o despertador continuava com o seu tique-taque, era um sinal de que o tempo não parava. Jimin sentiu uma onda de tristeza invadir seu peito, foi um sonho tão bom. A escuridão durou o restante do dia. Namjoon não apareceu à noite e nem veio na manhã seguinte. Jimin sentia fome, seu estômago roncava e lentamente começaram cólicas. Ele ainda tinha uma garrafa d'água no cativeiro. Mas beber água não ajudava. Jimin só conseguia pensar em comida, teria feito qualquer coisa por uma fatia de pão.

      Durante o dia, começou a perder o controle sobre seu corpo e seus sentimentos. Sentia dor no estômago, fraqueza, tinha certeza de que agora Namjoon lhe deixaria morrer de fome e, era isso que Jimin queria... Morrer. As cólicas moviam todo o seu corpo e ele sentia como se seu estômago estivesse se devorando. A dor que a fome pode causar é insuportável. Ninguém pode compreender isso se acha que fome é apenas quando a barriga ronca.

      Jimin já se sentia muito fraco, mal podia erguer o braço, a pressão baixava e quando ficava em pé, sua visão escurecia e ele desmaiava. Namjoon o alimentava lentamente até que ele estivesse forte o suficiente para voltar a trabalhar.

       A pior coisa, era ter que cozinhar quando estava faminto. Um dia, Namjoon pôs no balcão um pacote com pedaços de bacalhau. Jimin descascou as batatas, passou o bacalhau na farinha, separou os ovos e mergulhou os pedaços de peixe na gema. Em seguida, passou o peixe na farinha de rosca e o fritou. Como sempre, Namjoon se sentou na cozinha e comentou:

     — Não está vendo que o óleo está ficando muito quente?! Seu vadio estúpido. E não descasque a batata assim. Desse jeito você desperdiça.

       Namjoon só sabia reclamar, e isso poderia irritar qualquer um. O cheiro de peixe invadiu a cozinha deixando Jimin maluco. Ele tirava as porções da frigideira e as colocava sobre o papel toalha para secar. 

      A boca do pobre garoto enchia de água. Havia peixe suficiente para um jantar. Ao mesmo tempo Jimin pensava: “será que eu posso comer umas três porções? E um pouquinho de batata também?”

        Jimin ainda não sabe o que fez de errado aquele dia, pois Namjoon levantou da cadeira num pulo enfurecido e tomou o prato do menor que iria levar para a mesa.

     — Você não vai comer nada hoje! – Disse num estranho jeito enfurecido.

     — Por favor!  Eu não como há três dias. Por favor me alimente! – Implorou o garoto.

     — Já disse que não vai comer nada! – Namjoon dizia com firmeza, ele realmente não iria lhe dar nem que fosse um pedaço minúsculo de batata.
     
       Nesse momento, Jimin perdeu o total controle. Ele sentia tanta fome que poderia matar alguém por um pedaço de peixe. Agarrou o prato com uma das mãos, pegou um pedaço de peixe e tentou enfiá-lo inteiro na boca. Mas Namjoon foi mais rápido e o tirou de sua mão. O garoto tentou pegar mais um pedaço mas o Kim segurou seu pulso, o apertou tanto que ele acabou soltando. Nesse momento, Jimin abaixou para tentar pegar os pedaços que haviam caído no chão durante a briga. Tentou pôr mais um pedaço na boca, mas Namjoon imediatamente lhe segurou pela garganta, o ergueu e arrastou até a pia, e empurrou sua cabeça. Com a outra mão, afastou seus dentes e o estrangulou para que ele cuspisse o peixe proibido. Em seguida, o arrastou de volta ao cativeiro. Abriu a porta e empurrou Jimin com tudo fazendo ele cair brutalmente no chão. Em seguida, o garoto ouviu a porta ser fortemente fechada fazendo um estrondo derrubar alguns objetos no cativeiro. Jimin então se encolheu e permaneceu no chão, ele estava com fome, com dor e sozinho... 

     Namjoon lhe mantinha fraco usando esses métodos, o prendia em uma mistura de dependência e gratidão, não se morde a mão de quem o alimenta. Para Jimin, havia apenas uma mão para lhe salvar da fome. Era a mão do mesmo homem lhe retirava a comida.

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