— Você tem que me chamar de "meu senhor" – Ele exigia
Era absurdo que Namjoon, cuja posição de poder óbvia, fosse tão dependente de demonstrações verbais de humildade.
Quando Jimin se recusou a chamá-lo de “meu senhor”, ele gritou e se enfureceu, e uma vez, até bateu no menor por isso - não era novidade Jimin apanhar -. Mas com a recusa, Jimin não apenas mantinha um pouco de dignidade pessoal, mas também encontrava a alavanca que poderia ser útil. Mesmo que tivesse de pagar por isso com uma dor incomensurável.
— Ajoelhe-se! – Ele exigiu.
— Não... Eu não vou fazer isso. – Jimin respondeu firme e forte.
Namjoon levantou de um pulo com raiva e empurrou o garoto para o chão. Jimin fez um movimento rápido para cair de bumbum no chão em vez de cair de joelhos. O maior não teria a satisfação de ver o garoto ajoelhado diante dele.
Namjoon o agarrou, girou para o lado e dobrou as pernas do menor como se ele fosse um boneco de borracha. Pressionou suas panturrilhas contra as partes de trás da coxa, erguendo o garoto no chão como um pacote atado de cordas e tentou empurrar o menor novamente para que ele se ajoelhasse. Jimin jogou todo o seu peso do corpo para baixo e girou desesperadamente para se libertar. Namjoon chutou o garoto mas no final, o mesmo levou a melhor e não deu ao seu "senhor" a satisfação de se ajoelhar diante dele.Talvez fosse mais fácil se ajoelhar, porque assim teria evitado levar alguns socos e pontapés. Mas naquela situação de total opressão e completa dependência em relação a Namjoon, ele tinha de preservar certo espaço de manobra. Jimin foi aprendendo a lidar com aquele homem desequilibrado que Namjoon era.
~ Duas semanas Depois ~
Mesmo em dias que Jimin parecia ter desistido de si mesmo, sentindo-se completamente desesperado, não podia demonstrar fraqueza. Em dias assim, ele costumava se distrair com a leitura, mas isso foi acabando aos poucos quando Namjoon foi retirando os livros do cativeiro. Cada vez que o garato não lhe obedecia - como se ajoelhar - ele retirava alguma coisa do cativeiro, e isso continuou até Jimin não ter mais nenhum livro para ler. O menor já sabia que isso poderia acontecer, então escondeu um livro embaixo de seu colchão.
Quando Namjoon tinha ataques de raiva e lhe batia com socos e pontapés, não havia o que fazer. Do mesmo modo, se sentia imponente para fazer qualquer coisa em relação ao trabalho forçado, a ser trancado ou passar fome e às humilhações que sofria enquanto limpava a casa.
Precisou de tempo para Jimin entender que Namjoon queria fazer dele o companheiro que nunca tivera. Mulheres “reais” estavam fora de questão. Seu ódio pelas mulheres tinha raízes profundas, era irreconciliável e explodia de vez em quando em pequenas observações. Talvez seja pelo modo de como sua mãe lhe criou ou coisa do tipo, mas Namjoon, tinha ódio mortal do sexo feminino. Jimin não sabia se Namjoon já tivera contato com mulheres antes, ou até mesmo uma namorada - mas com essa revolta toda, acredita-se que não -.
Enquanto Jimin estava preso no cativeiro, ele não recebia notícia alguma do bebê que um dia deu a luz e para ele era melhor assim, não queria saber de absolutamente nada que envolvesse a criança.
Uma das poucas vezes que Jimin encontrava o pequeno ser, era quando Namjoon lhe forçava a dormir com ele. Deitado no berço com roupinhas e luvas azuis, o bebê dormia. Pelo menos pra cuidar de uma criança, Namjoon tinha jeito. A criança era bem tratada e alimentada pelo homem que Namjoon era. Em algumas vezes Jimin pensava: se eu conseguir fugir, levarei a criança comigo, mesmo que eu não queira criá-la, eu não posso deixá-la crescer com esse monstro. Posso deixá-lo num orfanato onde será bem cuidado.
Jimin estava parado em frente ao berço vendo o bebê dormir. Em nenhum momento Jimin sentiu vontade de pegar o bebê em seus braços, cheirar sua pele macia ou pelo menos tocar no pezinho. Jimin não obtia sentimento algum pelo pequeno ser. O garoto sentia-se um pouco incomodado com isso, mas para ele era melhor assim. Mesmo assim, os olhos de Jimin não deixavam de brilhar ao ver o bebê, o mesmo tinha traços com ele, por mais que Jimin não aceitasse, não teria como negar que a criança era um fruto dele, seus traços são incrivelmente idênticos. Os olhinhos do bebê abriram e o pequeno olhava apaixonado para sua “mãe” um olhar como quem pedisse colo.
De repente, Jimin sentiu Namjoon puxar seu braço e lhe guiar até a cama. Jimin deita rígido de medo na cama de Namjoon. O mesmo trancou a porta e colocou a chave em um armário tão alto que só alcançava se ficasse na ponta dos pés. Jimin não conseguiria alcançá-lo. Namjoon se deitou ao seu lado e prendeu seu pulso junto ao de Jimin usando algumas algemas de tiras plásticas.
Jimin poderia gritar quão dolorosamente paradoxal era sua situação. Mas ele não podia emitir nenhum som. Deitava ao lado do maior e tentava se mexer o menos possível. Suas costas, em geral, estavam cheias de hematomas. Doíam tanto que ele não podia deitar direito e as algemas cortavam sua pele. Jimin sentia a respiração de Namjoon em seu pescoço. Permanecia algemado a ele até a manhã seguinte. Quando queria ir ao banheiro, tinha de acordá-lo e Namjoon ia com ele com o pulso ainda algemado. Quando o mais velho dormia do seu lado, Jimin pensava em como quebrar as algemas - mas logo desistiu -. Quando ele virava o pulso e enrijecia os músculos, o plástico não cortava apenas o seu braço, mas o de Namjoon também. Inevitavelmente ele acordaria e perceberia sua tentativa de fuga. E essa foi mais uma noite agonizante de muitas.
Na manhã seguinte, Namjoon decidiu dar alguma coisa para Jimin comer, o mesmo havia acordado com uma fraqueza tão forte que tinha de caminhar se apoiando em todos os objetos da casa que encontrava em sua caminho. Em algumas ocasiões quando não aguentava mais a fome, Jimin fingia fraqueza só para poder comer, mas dessa vez, ele realmente estava fraco. Apesar de alimentá-lo, era isso que Namjoon queria, ver sua vítima fraca para que ele não tivesse forças suficientes e pôr um suposto plano de fuga em ação, por mais que não ouvesse nenhum plano no momento. Depois de tantos maus-tratos, o simples som de uma porta abrindo pode causar pânico e você não consegue nem respirar direito, quem dirá correr. Como o coração dispara, o sangue pulsa nos ouvidos, e então subitamente algo no cérebro é acionado e você não sente nada, a não ser paralisia que o deixava incapaz de agir e de raciocinar. A sensação de medo mortal marca inegavelmente sua mente, e todos os detalhes da época em que você sentiu medo pela primeira vez. - os cheiros, os sons, as vozes -. Não é fácil explicar o que o isolamento, as surras e humilhações fazem com a pessoa.
Quando ficava preso no cativeiro, o medo mortal de Jimin se tornava cada vez mais incontrolável. Os passos que ouvia quando Namjoon se aproximava. O som que ouvia quando as portas do cativeiro eram abertas, o zumbido do ventilador. A escuridão, a luz forte, o cheiro no andar de cima da casa. O deslocamento de ar antes de a mão de Namjoon lhe atingir, seus dedos em sua garganta, a respiração em seu pescoço. Nosso corpo é programado para sobreviver e reage por meio da paralisia. Chega um momento em que o trauma é tão grande que o mundo exterior não produz alívio, mas se torna um terreno ameaçador associado ao medo.
Numa manhã qualquer, Jimin lavava a louça. Namjoon estava sentado numa cadeira à sua frente para vigiá-lo.
— É melhor lavar direito! – Ordenou enquanto batia levemente a mão contra sua perna como quem espera pacientemente. E era assim os dias de pura pressão me Jimin. "Não deixe cair, não deixe cair" essas palavras ecoavam em sua mente.
Quando percebia as alterações de humor de Namjoon, Jimin era capaz de evitar uma surra. Ao apelar cada vez mais para a consciência dele, talvez, Namjoon tenha poupado o garoto de coisas piores.
VOCÊ ESTÁ LENDO
The Desire
HorrorPark Jimin é um universitário que decidiu passar suas férias em Gwangju ao lado de seu namorado Jung Hoseok. O jovem teve que viajar de volta ao receber a triste notícia de que sua avó havia falecido. Mas antes mesmo de chegar em sua terra natal, el...