Capítulo 6

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Dia 20 - Parte 3

Seguíamos em direção a cidade. Ter conseguido falar com meu irmão e saber que ele estava vivo e lutando foi a melhor coisa que me aconteceu hoje, mas mesmo assim minhas preocupações estavam longe de acabar. O ônibus já demostrava sinas de que estava prestes a nos deixar na mão. Ter forçado o ônibus daquela maneira para fugirmos o danificou bastante, sem falar que ele já estava nas últimas.

Notei que todos no ônibus estavam inquietos, temiam o que estavam por vir. O medo de acreditar no surreal os amedrontava. Sempre foi típico de nós, humanos, não acreditar no sobrenatural, sempre achamos que é algo tolo e que já mais acontecerá, que não é real, que não passam de histórias contadas para nos assustar. Esse foi o nosso erro, tudo pode acontecer, graças a aqueles que se acham o dono da verdade e que só acreditam no que veem e no que é explicado pela ciência, criamos uma ilusão de que o sobrenatural não existe. E isso nos levou a ruina.

Estávamos bem perto da cidade, faltavam apenas dois quilômetros, mas um pouco e chegaríamos. Ao menos era o que eu pensava, tivemos que parar. A nossa frente acontecerá um acidente, dois caminhões se chocaram e tombaram na pista, outros dois carros também se envolveram no acidente, era uma cena horrível. Ainda tinha gente presa nas ferragens, ninguém tinha vindo ajudá-los. Pensei em descer do ônibus para ajudar, mas logo ouvi o barulho provocado pelo grunhindo e o andar arrastado "deles". Estávamos presos mais uma vez, apesar de serem poucos, não podíamos arriscar.

- Vamos voltar, conheço um atalho, é uma estrada secundaria de terra, levará mais tempo, mas vamos conseguir entrar na cidade. - Jorge propôs.

- Está bem, não temos outra escolha. - respondi.

Expliquei aos outros que mudaríamos a nossa rota e seguiríamos por uma estrada secundaria contornando a rodovia. Não houve questionamentos e acabamos voltando uns duzentos metros e entramos na estada secundaria. Não me lembrava da existência dela, a maioria das vezes que passei por ali eu estava viajando em meus pensamentos. Era uma estrada bastante esburacada, parecia que tinha sido esquecida pelo tempo. O ônibus balançava e rangia o tempo todo. Vi a luz emitida por lâmpadas de algumas casas ao longe, será que eles sabem o que está acontecendo?

- Nick! Nick!? Você está bem? - Jorge indagou.

- Sim! Só pensando um pouco. - respondi. Estava tão distraído que não o notei falando comigo.

- Fico surpreso pela sua calma, apesar de estarmos tentando sobreviver a um ataque de canibais malucos, você ainda se permite ficar distraído dessa maneira.

- Desculpe, eu não consigo evitar, procuro repostas para muitas coisas e ficar em pânico não vai me ajudar.

- Você tem razão. Nick, você pretende sair em busca de seu irmão quando chegarmos a cidade? - A pergunta de Jorge me pegou de surpresa, mas eu não tinha dúvidas de qual era a resposta.

- Sim! Tenho que encontrar meus pais e o meu irmão, ainda não sei como vou fazer isso, mas eu sei que encontrarei uma maneira de conseguir.

- Também estou preocupado com a minha família. Quando sai hoje à tarde, meu irmão mais novo me deu um abraço apertado e pediu para que eu ficasse com ele. Eu não tenho muito tempo para ficar com ele sabe, tenho que trabalhar e estudar e quase sempre estou fora de casa. Eu não consegui agir como um irmão mais velho para ele, sempre agi como se fosse o pai que ele não conheceu e esqueci-me de cuidar dele com o carinho de irmão.

As palavras de Jorge me comoviam, seu pai morreu em um acidente. Jorge tinha apenas doze anos quando aconteceu, desde então sempre teve que trabalhar para ajudar a sua família e ainda estudar. Ele era uma pessoa admirável, essa foi a história que ele me contou antes de chegarmos a cidade.

O Dia Z: O Prelúdio Do FimOnde histórias criam vida. Descubra agora