Capítulo 14

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Dia 26 - parte 3

- Parece que estamos com sorte. – Jorge fala, enquanto se aproxima girando uma chave de carro em seus dedos. – A picape branca 4x4 estava com a chave na ignição e a porta destrancada, pelas marcas de sangue na porta e no banco, diria que algum riquinho se deu muito mal e virou comida de zumbi.

- Mas como vamos tirar ela daqui? O portão está cheio dessas coisas. – Lukas perguntou.

- Pensamos nisso depois, temos que pegar suprimentos lá dentro, principalmente água, a minha já acabou. – Falo enquanto tomo um último gole.

- Será que ainda tem mais deles lá? Só temos uma lanterna. – Ana fala enquanto retira de sua mochila a lanterna que eu havia com ela.

- Provavelmente lá deve ter mais na secção de eletrônicos. - Alex falou encolhido no canto e tremendo de frio.

- Ana, quero que fique aqui fora com o Alex e vigiem a entrada. Por segurança fiquem escondidos atrás das lixeiras ali. – Aponto para as lixeiras próximos a entrada do supermercado. – Se os zumbis romperem o portão, grite para nos avisar. Você virá conosco para levar um dos carrinhos com o Lukas. – Explico para a garota sem nome – Eu e Jorge faremos a proteção. Vamos eliminar qualquer ameaça enquanto vocês pegam os suprimentos que puderem. Precisamos ser rápidos para sairmos daqui o quanto antes.

Todos assentem com a cabeça concordando. Era hora de por em pratica o nosso plano. Ana e Alex se esconderam, Lukas e a garota vinham atrás da gente. Eu iluminava o caminho, as marcas de combate e sangue se espalhava dentro do Supermercado. Uma mancha vermelha indicava que alguém havia sido arrastado. Giro o feixe de luz lentamente examinando o local. Tudo estava revirado, os produtos estavam espalhados pelo chão, e pouquíssimas coisas restavam nas prateleiras da entrada. Lentamente vamos adentrando pelos corredores do supermercado. O breu que nos devorava ia se dissipando aos poucos pelo único feixe de luz emitido pela lanterna. Embora fraca, a luz do feixe era nossa única aliada neste momento.

O medo de esbarrar em uma horda de zumbis ali dentro me fazia treme e arrepiar até meu ultimo fio de cabelo. O ar gélido da madrugada não nos favorecia, nossa situação só se complicava cada vez mais. Avançávamos lentamente na tentativa de evitar barulhos, um estalo me faz girar rapidamente o feixe de luz da lanterna na direção do barulho. Tomo um susto ao dar de cara com um corpo encostado a uma das prateleiras. Um machado estava cravado na cabeça daquele homem, um dos olhos pendia fora da face e sua boca estava aberta e por ela escorria um liquido avermelhado. A ânsia de vômito bateu forte, me seguro contendo o refluxo, aquela imagem iria rodar na minha cabeça por semanas em meus pesadelos, tenho certeza. Retiro o machado que estava cravado na cabeça daquele corpo e o levo comigo.

Prosseguimos nosso caminho e encontramos algumas lanternas lacradas, que estavam jogadas no chão. Encontramos outra na prateleira, um total de quatro lanternas. Pegamos baterias e dali em diante nós nos dividiríamos. Eu seguiria para pegar água e comida, Lukas e Jorge para pegar remédios e o que julgassem necessário. Era um plano razoável até o momento.

Não havia qualquer sinal da presença de mortos-vivos dentro do supermercado, tudo estava silencioso e tranquilo demais, uma sensação estranha me preocupava. Pegamos várias garrafas de água, alguns garrafões grandes e enchemos o primeiro carrinho com água e enlatados que achamos, a maior parte do estoque havia sido saqueado, então não tínhamos muitas opções. Ouço um barulho de algo caindo, um estalo seco, mas não vejo nada próximo. A lanterna começa a piscar, novamente o barulho se repete, o mesmo "tum". A lanterna se apagou de vez e ficamos totalmente no escuro. O barulho de algo arrastando-se aproxima cada vez mais. Bato várias vezes na lanterna tentando fazer ela pegar, porém sem resultado. O Barulho vai ficando cada vez mais forte e mais próximo, os batimentos acelerados no meu peito, consequência do medo, soam como um tambor em um ritmo agitado.

Finalmente a lanterna acende, contudo o barulho já estava muito perto. Quando elevo feixe de luz para frente, a criatura se joga sobre mim sem me dar chances de defesa. A dor provocada pelo impacto da queda faz minha visão ficar turva por um instante. A criatura sobre mim emitia um grunhido alto e ameaçador, um liquido estranho gotejava em meu rosto. Ele me apertava com fúria tentando me morder. A lanterna rola pelo chão, enquanto luto para me desvencilhar daquele abraço mortal. Minhas costas doíam pelo impacto e minhas forças estavam se esvaindo, eu estava exausto. O machado havia caído e aquele monstro estava com os dentes cada vez mais próximos do meu rosto, suas unhas começavam a arranhar a minha pele.

Algo acerta a cabeça da criatura provocando um som de "chomp" e o sangue começa a escorrer em cima de mim. Um machado tinha sido cravado na cabeça daquela criatura. A garota sem nome, ela me salvou. O velho zumbi vai perdendo suas forças até que o empurro para longe de mim.

– Obrigado... é... – Não sabia a quem agradecer ou como.

– Helena, meu nome é Helena. – Ela me entrega o machado.

– Obrigado Helena, você me salvou. – Ela apenas assentiu.

Lukas e Jorge chegam correndo onde estávamos, a luz de suas lanternas em meu rosto me deixaram sem enxergar por alguns segundos, ou apenas vendo múltiplas bolinhas.

–Ouvimos um barulho daquelas coisas e viemos correndo. O Que aconteceu? – Jorge pergunta quase sem fôlego.

– Essa coisa me atacou, mas a Helena me salvou. A nossa lanterna falhou quando ele apareceu.

– Mas você está bem? Está cheio de sangue. – Lukas parecia nervoso e preocupado.

– Estou, acho que ter um crânio partido em cima de você deve contribuir para esse sangue todo em mim. – Brinco com a situação.

Continuamos levando tudo que podíamos do supermercado para a picape. Enchi minha mochila de salgadinhos, chocolates e refrigerantes. Aqueles Doritos apimentados estavam me chamando, finalmente posso comer um desses Doritos gigantes sem reclamar do preço. Jorge pegou cervejas, acho que vale a pena se embriagar quando encontrarmos um lugar seguro, passamos por muita coisa e esse pesadelo mal começou. Bom, estava na hora de sair daqui e ir para bem longe dessa cidade. O próximo passo do meu plano seria ainda mais arriscado, espero consigamos sair vivos daqui.

O Dia Z: O Prelúdio Do FimOnde histórias criam vida. Descubra agora