Capítulo 29

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Dia - desconhecido

Os dias passaram-se rapidamente, mas a dor da perda, o luto, pairava sobre o ar me sufocando cada vez mais.

Naquela noite lutei com todas as minhas forças, mas não consegui proteger meus amigos novamente. Eu não era um herói, nem se quer chegava perto disso. Eu sou só um cara comum com seus vinte e poucos anos no meio de um maldito apocalipse zumbi.

A dor em meu peito era insuportável, as lágrimas lavavam meu rosto sujo, desciam queimando, minha garganta dolorida, a boca seca e parecia ter um tambor tocando sem parar em minha cabeça.

Levou horas e horas para a horda de mortos-vivos se dispersar. Por um milagre sobrevivi me escondendo no matagal e enfrentando os mortos sem parar. As horas se arrastaram lentamente, exausto, ferido, e derrotado, cheguei ao topo da colina onde ficava a cabana que usariamos de ponto de encontro. Não restava mais ninguém lá.

Tranquei as portas como pude e me joguei no chão já sem forças, deixado para trás, sozinho. No fundo, sentia que essa era a minha punição divina. Uma penitência dolorosa que deveria aguentar para pegar pelos meus erros que tirou a vida de tantas pessoas.

Acordei horas depois, assustado, completamente desorientado. As lembranças invadiram a minha mente como um.soco certeiro bem no meio da minha face. A imagem de Jorge ensanguentado, o helicóptero partindo com Alex desacordado, Luiz  morto. Tudo rodava na minha cabeça e me assombrava. A ânsia de bonito veio forte e não consegui conter.

Levantei e comecei a explorar a velha cabana. Encontrei em um dos cômodos uma mensagem gravada na parede:

"NICK, SOBREVIVA! VOLTAREMOS PARA TE BUSCAR."

As letras riscadas as pressas denunciavam a caligrafia de Lukas. Alguns enlatados e água deixados para trás próximo a parede, era o suficiente para eu sobreviver por alguns dias.

Meu corpo inteiro doia, mas ainda assim fui até a casa escondida em que o corpo de Jorge estava. Precisava enterrar ele, não podia o deixar apodrecer ali.

Levei um dia quase inteiro, mas consegui levar o corpo para a clareira no topo da colina. Com o auxílio de ferramentas que encontrei no clube de tiro cavei uma cova, embora não muito profunda, era o enterro mais digno que podia ofertar a ele. Mesmo sozinho prestei minha última homenagem, fiz orações a alma de Jorge que agora deve descansar em paz. Gravei o nome dele em um crucifixo improvisado. Ali seria o fim de sua jornada, mas também seria eternizado em minhas lembranças.

Também enterrei o corpo de Luiz.  Embora ele tenha culpa por tudo que aconteceu e que levou a morte de Jorge, eu não me sentiria em paz comigo mesmo deixando seu corpo apodrecer e ser devorado pelos abutres ali.

Retornei a cabana, esperei por mais um dia, mas nenhum sinal do retorno dos outros. Estava quase partindo quando eles apareceram. Eu estava sujo, machucado, fraco, mas feliz por reencontra-los.

Lukas foi o primeiro a me abraçar. Em  lágrimas, sorria e falava sem parar, perguntava inúmeras coisa que eu mal conseguia entender. Apenas a sensação de alívio por eles estarem bem acalmaram minha mente, corpo e alma.

Ana apareceu por entre os abraços caloria de Lukas, Helena e Martins. Preocupada, correu me examinar e cuidar dos meus machucados. Eu senti aos poucos minha visão ir escurecendo e apaguei. Acordei um tempo depois.

Lukas foi o primeiro a romper o silêncio e perguntar:

— Nick, você está bem? O que aconteceu?

— Estou bem, são só uns arranhões — sentia minha garganta seca e arranhando — já estou pronto para enfrentar mais zumbis.

— Nem pensar, você vai descansar por dias, no mínimo uma semana — Ana falou me entregando uma garrafa de água — está desidratado, apresenta lesões por todo corpo. É um milagre ainda estar vivo.

— Você também está muito machucada, também deveria estar descansando.  — respondo.

— Eu sei me cuidar, deveria aprender a se preocupar mais com você, vai acabar se matando desse jeito.

Não consegui segurar as lágrimas. Não sabia explicar, apenas comecei a chorar.

— Nick? Está tudo bem? O que aconteceu depois que saímos, nós vimos os túmulos então...

Lukas, cabisbaixo e com um semblante tristonho,  foi o primeiro a perguntar o que todos ali presente no fundo desejavam saber.

— Naquela noite depois que vocês saíram eu segui com o Alex de refém até uma casa escondida no meio da floresta — respirei fundo, tomei mais um gole de água antes de prosseguir — Jorge estava caído no chão, Luís estava com ele de refém, discutimos. Eu tentei chegar em um acordo, eu tentei todas as opções que tinha, mas...

— Nick, você não precisa falar agora se não quiser, tá tudo bem. — Ana falou com um meio sorriso.

— Não, preciso contar tudo que sei. Luís e Alex não eram mais aliados. Aquela casa era usada como um dos pontos de encontro de negócios sujos do pai do Alex. Luís tentou me matar, mas Jorge pulou na frente e morreu me protegendo. Ele foi um grande amigo e herói até o último minuto. Eu e Luiz entramos em confronto. Foi difícil, mas eu consegui vencer. — fiz uma pequena pausa.

Todos me olhavam em silêncio, atentos a cada palavra que saia da minha boca. As chamas da pequena fogueira que iluminava a noite escura a nossa volta trêmulava. O criptar das chamas era o único som audível naquele curto momento.

— Eu matei o Luís, atirei em seu peito. Retornei a cabana, mas Jorge não resistiu aos ferimentos. Escondi o corpo dele para não ser devorado, e fui atrás do Alex.  — aquela era a parte estranha que eu ainda não compreendia — segui ele até o tipo da colina. Tem uma pista de pouso para helicópteros lá, parece que esse lugar era palco de um esquema criminoso dos grandes, mas que se foda, isso não importa mais.

— Então não estávamos loucos, era mesmo um helicóptero naquele dia? — Martíns perguntou.

— Sim! Tinha uns caras estranhos, parecia que usavam uniformes militares, não consegui entender sobre o que conversavam, mas eles apagaram o Alex e o levaram. Acho que o pai do Alex mandou o resgate, mas não para o Alex, estavam atrás de algo maior. Mas a multidão de zumbis estragou os planos. Pelo menos é o que eu acho.

— Mas o que será que tem aqui que eles correriam esse risco para conseguir? — Lukas pergunta.

— Eu não sei, mas acho que não iremos descobrir.

— Então tem mais gente viva. Deve ter grupos de resgate ou assentamentos resistindo, o governo deve mandar ajuda. — Martíns disparou, se enchendo de esperança.

— Acredito que sim, mas não sabemos aonde, talvez na costa ou próximo a capital. — respondo tomando o último gole de água daquela garrafa.

— E agora? O que vamos fazer? — Lukas perguntou me encarando.

— Ainda preciso ir à casa dos meus pais e encontrar respostas, preciso saber se sobreviveram ou não antes de partir em busca de um lugar mais seguro. — Falei desviando do olhar de todos.

— Eu o entendo, iremos te ajudar Nick, estamos todos juntos nessa. — A voz suave e calma de Helena atravessou o recinto.

— Obrigado!

— Não precisa agradecer, Nick. Você nos salvou, agora é nossa vez de te ajudar. — Ana falou exibindo mais um de seus gentis e calorosos sorrisos.

                             ***

Alguns dias se passaram, nos despedimos de Jorge que agora descansava em seu túmulo e seguimos viagem em direção a chácara dos meus pais. Pasamos no bar abandonado e pegamos o restante das armas e munições que havíamos guardado e seguimos em frente. Os zumbis eram uma ameaça constante, mas já estávamos ficando bons em exterminar eles. Nada mais impediria o nosso avanço.

Faltava pouco, em breve eu encontraria respostas, boas ou ruins, eu finalmente teria as respostas que buscava. Só mais um pouco, espere só mais um pouco meu irmão, estou chegando.

  

O Dia Z: O Prelúdio Do FimOnde histórias criam vida. Descubra agora