Temos Nosso Próprio Tempo?

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Todos os dias quando acordo
Não tenho mais
O tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo"
                                                  - Legião Urbana


Acordei na manhã do dia seguinte ao casamento, com uma intensa dor de cabeça, a veia no canto superior direito de minha têmpora pulsava de forma desordenada, a impressão que eu tinha era que a qualquer momento minha cabeça explodiria e o  Freddy Krueger sairia de dentro dela. 

Meu coração estava aflito e minhas mãos geladas, tive a sensação de ter tido mais um de meus pesadelos, mas dessa vez eu não lembrava o que eu sonhara.

Olhei para o meu lado e Thiago não estava na cama, sobre o criado mudo, o relógio despertador analógico, indicava pelo movimento contínuo e rotativo dos ponteiros à caminho do sol, que eram 8:00 da manhã.

Onde estaria Thiago?

A ideia de que talvez ele estivesse conversando com o senhor Portes sobre mim, intensificava a ainda mais a minha dor de cabeça.

Como eu poderia suportar o olhar de decepção dos dois?

Queria levantar, buscar um analgésico e um copo com água, mas sentia um desânimo que era capaz de "engolir" a minha alma. Por isso preferi ficar ali deitada, imóvel, olhando para o teto.

Então comecei a refletir sobre os últimos acontecimentos; o ataque de pânico em meu casamento, era um iminente sinal de algo não estava correndo bem em minha mente, e a verdade era que eu andava meio distraída com os preparativos para a cerimônia, havia esquecido minha medicação por diversas vezes.

Em outros momentos, eu apenas deixava de tomar por estar na presença de Thiago, estava cada vez mais difícil esconder os tremores em minhas mãos e eu precisava que eles parassem; quando ele passava a maior do tempo na faculdade, tudo era menos complicado. De qualquer forma eu começaria a administrar as medicações mensais injetáveis, e provavelmente eu ficaria bem, de acordo com o doutor Eduardo.

Voltei minha atenção para o relógio, pois o silêncio no quarto só me permitia ouvir o barulho dos ponteiros, em seu harmônico           "tique-taque...". A Cada minuto que passado, Thiago e o Senhor José estavam mais próximos da minha verdade.

Eu precisava pensar em alguma maneira de remediar aquela situação, pelo menos, eu e Thiago sairíamos em lua de mel naquele dia, o que supostamente, me daria um pouco mais de tempo.

De repente, Thiago entrou no quarto.

- Boa tarde, meu amor!

"Boa tarde?", pensei assustada, olhei para o o mesmo relógio que eu havia olhado há alguns minutos atrás e quase tive uma síncope, os ponteiros ardilosamente marcavam 14:00 horas da tarde?!

O que havia acontecido com a minha concepção do tempo?

- Peço desculpas por ter saído sem te avisar, mas recebi uma ligação do hospital bem cedo, e não quis acorda-la!

Continuei absorta em meus pensamentos, e Thiago logo ficou preocupado.

- Helena está tudo bem?
- Desculpe Thiago, é que estou com muita dor de cabeça!
- Você costuma tomar algum analgésico?
- Já suportei essa dor por bastante tempo, acho que não vale mais a pena tomar remédio!
- Faz muito bem, você sabia que a cefaleia pode ser provocada pelo uso excessivo de analgésicos?
- Não é o meu caso doutor!

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