Até que a Morte nos Separe - Parte I

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O sol não estava forte, mas a claridade cegava meus olhos, minha mente estava confusa, no peito o estranho sentimento de que o tempo havia parado, era como se eu estive em outra dimensão ou em um universo paralelo ao meu.

O lugar era familiar, embora eu não lembrasse dele com clareza, não sabia como eu havia chegado lá, mas meus pés descalços e minha camisola branca, revelavam que não fora uma visita planejada.

Caminhei pelos corredores de minha antiga escola, entre todos os adolescentes que iam e vinham em movimentos elásticos, mas minha fantasmagórica presença, parecia não incomodar.

De repente, fui arrebata por um rosto que há tempos os meus olhos não viam, um rosto conhecido para mim em todos os seus detalhes: dos olhos puxados ao cabelo preto "espetado"... o rosto invulgar de Rafael.

Meu coração parou de bater, assim como o relógio na parede não movia os ponteiros. Por Deus, tudo eu eu mais queria era ver aquele rosto novamente, minhas mãos trêmulas ansiavam por tocá-lo. Fui sugada para perto dele em frações de segundos, mas minhas mãos não respondiam ao toque, era como se eu fosse um ectoplasma e minha matéria não pertencesse à aquele tempo.

Ao focar na expressão daquele rosto, antes por mim tão amado, logo percebi que algo estava errado, Rafael não era mais o menino de riso fácil de quem eu me lembrava, agora parecia tenso e preocupado. Atentamente observava duas estudantes que conversavam fora dos portões da escola, me aproximei das garotas a fim de desvendar a construção daquela cena enigmática.

Primeiro, descobri que uma delas era Milena: a vadia viciada que outrora havia me dopado, mas a outra garota me causou ainda maior estranheza; diante de meus olhos, lá estava eu, com dezesseis anos outra vez. Foi tão difícil lembrar de mim daquele jeito: a Helena que era triste, mas que ainda sequer conhecia o verdadeiro significado do sofrimento.

Não era como todas as outras vezes, onde me encontrei com minhas outras Helenas, e houve uma interação enigmática, dessa vez eu era uma mera espectadora de mim mesma. Eu estava atônita, porém tentei me concentrar em ouvir a conversa:

- Tem certeza de que quer fazer isso Helena?
- Vai perguntar um milhão de vezes?
- Então faça tudo como eu disser, esses caras não são de brincadeira!
- Eu sei cuidar de mim mesma!
- Olha o carinha no portão te vigiando! É o seu namorado?
- Rafa! - ela (eu) disse olhando na direção de Rafael - Preciso ir falar com ele!
- Não demora, ele deve chegar a qualquer momento.

Então a jovem Helena, correu para Rafael e quando dei por mim, eu já estava à frente deles.
- O que você tá fazendo lá fora Helena? Vai matar aula de novo?
- Não fica me regulando Rafa! Eu faço o que quero da minha vida!
- Amiga nova?
- É só uma garota que conheci, a gente vai dar uma volta!
- Estranho, normalmente você não faz amizades com tanta facilidade!
- Não somos amigas, ela vai me arrumar uma "parada"!

Rafael segurou o braço de Helena com força.

- E você acha que eu não sei que parada é essa? Você enlouqueceu de vez Helena!?

Helena puxou o braço e afastou-se de Rafael.

- Estou apenas flertando com a loucura!!!
- Você acha isso tudo muito engraçado, não é mesmo? Aonde você quer chegar? Quer virar uma viciada?
- Viciada?! Nada pode me viciar Rafael, não me apego a nada!

Um carro estacionou do outro lado da rua, então Milena gritou de repente:
- Helena!!

Rafael fitou Helena, seus olhos negros suplicavam.

- Pensa bem no que está fazendo com sua vida!
- Quando você deixar de ser o garotinho da mamãe e virar um homem de verdade, me avisa!
- Você está arruinando a sua vida Helena, não espere que eu arruine a minha junto!

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