E ao Acordar eu Estava Grata

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"A vida anuncia que renuncia a morte"
-O Teatro Mágico

Fui encontrada por meus agressores, coberta em meu próprio sangue, uma das garotas da instituição, teve um surto, acordando todos na casa. Dois cuidadores me levaram ao hospital imediatamente. E embora eu tivesse perdido muito sangue, havia tempo para o sopro de vida que ainda existia em mim. Enquanto estava na maca, sendo transportada para sala de cirurgia entre gritos e agitação, tive a sensação de estar "fora do corpo",  parecia que minha alma estava sendo sugada pela distorção da percepção no tempo. Era a segunda vez que olhava a morte nos olhos, mas depois disso houve uma paz total, senti a presença de minha mãe, e algo dentro de mim soube que mais uma vez não havia chegado a minha hora.

E ao acordar eu estava grata, pois dessa vez eu poderia fazer todas as escolhas certas para merecer encontrar Clarisse e Rafael outra vez.

Após minha recuperação, fui transferida para uma instituição apropriada a minha condição mental, onde recebi o devido tratamento, lá permaneci até meus vinte e um anos.

No dia treze de outubro daquele ano, os médicos decidiram que eu estava pronta para ser reinserida na sociedade. Apesar de manter minha mente lúcida ao longo dos últimos anos, a ideia de voltar ao mundo me apavorava. Principalmente porque eu não tinha para onde voltar.

Fui recomendada para um "Centro de Promoção Juvenil", um programa que auxiliava jovens órfãos no processo de autonomia. E através do programa pude alugar um pequeno quarto na pensão da dona Isaura, e ingressar em meu primeiro emprego.

Eu estava disposta a deixar todo o caos que envolvia o acidente do Rafa, Otto, e a "Ordem" para trás. Fechar de uma vez por todas a minha caixa de Pandora, aprisionando todos os meus medos, segredos e mistérios. Mas as cicatrizes em meus pulsos para sempre me denunciariam: Suícida!

Na noite anterior ao primeiro dia em meu novo emprego, não conseguia dormir, deitada em minha nova cama, fazia um enorme esforço mental para me sentir confiante. Era chegada a hora de recomeçar.

"Tentar quando as forças se esvaem..."*

Acordei bem cedo, tomei café na padaria ao lado, não gostava da comida da pensão. Caminhei até o trabalho, afinal eram apenas dois quarteirões de distância. Ao chegar no endereço indicado na carta de recomendação que havia recebido do Centro de Promoção Juvenil, fui recebida por um simpático homem de cabelos brancos e um discreto sotaque do sul.

- Bom dia! "Tu"deve ser Helena...
- Bom dia! - respondi timidamente, eu não era boa em lidar com pessoas.
- Venha comigo vou lhe mostrar tudo!

Era um trabalho bem simples em um "mercadinho" desses de bairro, onde vendia-se um pouco de tudo. Eu deveria atender os clientes e receber o pagamento no caixa. O senhor José Portes era o dono da loja, não haviam outros funcionários, ele e sua família administravam tudo. O salário não era muito, mas dava para comer, pagar a renda do meu quarto e comprar os remédios, para mim isso bastava.

Dois meses passaram-se muito rápido, afinal o tempo "voa" quando é produtivo. O senhor Portes e sua esposa me tratavam com tanto carinho que até me faziam sentir parte daquela família.

E quem poderia imaginar que eu até faria um amigo? Dick, o cachorro dos Portes, transformou-se em um grande companheiro, revelando-me uma grande afeição pelos animais, que nem eu mesma sabia que eu tinha.

E quem poderia imaginar que eu até faria um amigo? Dick, o cachorro dos Portes, transformou-se em um grande companheiro, revelando-me uma grande afeição pelos animais, que nem eu mesma sabia que eu tinha

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