"Achei um 3×4 teu e não quis acreditar que tinha sido há tanto tempo atrás um exemplo de bondade e respeito do que o verdadeiro amor é capaz"
- Legião Urbana"Hoje acordei com vontade de ouvir Legião Urbana, a nossa banda favorita, só para trazer você um pouquinho de volta para mim."
Eu disse para o Rafa, como se ele ainda pudesse me ouvir. Lá estava eu sozinha no cemitério, em mais uma tarde ensolarada de domingo, sentada ao lado da sepultura do meu namorado falecido nas primeiras horas do dia 01 de Novembro de 2005.
Talvez você também vai achar que eu sou louca, mas esse era o meu lugar favorito, eu não tinha medo das pessoas mortas, elas não podiam mais nos fazer mal. Não acreditava em almas perdidas, em fantasmas ou em qualquer dessas baboseira. Para mim a morte era o fim, mas como minha mente era insana, eu tinha medo do inferno. Sei que não faz sentido, mas não vou discutir isso agora.
O fato é que neste lugar fúnebre, me sinto perto do Rafael, mesmo que eu saiba que ele não está mais nesse mundo e que nesse buraco só restam os seus ossos, seus dentes e seus lindos cabelos negros. Gosto de enganar a mim mesma, de fingir que sinto a sua presença e quando o vento toca o meu rosto é um sinal de que ele está aqui comigo.
Há uma lápide com epitáfio que diz:"Descanse em paz pequeno Fael, filho amado! Você se foi cedo de mais".
Uma frase tão triste, provavelmente escrita por sua mãe, Dalva. Se eu pudesse ter escrito um epitáfio para a lápide do Rafa, com certeza seria uma frase do Legião Urbana.
"É preciso amar as pessoas como se não houvesse o amanhã, porque se você parar para pensar na verdade não há."
E eu sei que ele ficaria mais feliz.
A vida errou com o meu namorado, ele merecia mais tempo, com certeza teria feito coisas maravilhosas, seu futuro não seria menos que brilhante. Rafael era um rapaz como poucos, sua mãe dizia que o nome de anjo refletiu na personalidade dele, e essa era uma das poucas coisas nas quais, a gente concordava. Filho exemplar, nunca faltava com o respeito aos pais, o "xodó" das irmãs mais velhas e o melhor aluno de sua classe.
Eu tenho certeza que tive o melhor do Rafa, ele estava sempre preocupado com meu bem estar, era carinhoso e sincero, ele não foi apenas o meu amor, foi também o meu único e melhor amigo. O nosso relacionamento foi perfeito nos primeiros meses, nós quase nunca brigávamos, até que eu comecei a ficar enteada, não sei bem o porque, uma coisa levou a outra e mesmo sem intenção, acabei tornando a vida dele um inferno.
Havia um desejo auto destrutivo em mim, e por mais que eu quisesse não havia maneiras de controlá-lo, e como o Rafa era a minha pessoa mais próxima, foi inevitável não arrastá-lo.
"Helena, eu não deveria pegar o carro do meu pai, ainda não me sinto seguro!"
"Não seja covarde Rafa"
"Não é covardia, isso se chama prudência"
"Nossa... parece a sua mãe falando"
Se eu me sentia culpada pela morte do Rafa?
Sim, todas as vezes em que eu respirava!
E como punição era preciso suportar a saudade e o amargo desejo de fazer o tempo voltar."A estrada está muito escorregadia, quase não enxergo nada com toda essa chuva, pega uma flanela no porta luvas, e tenta limpar um pouco o vidro Helena, o pára-brisa já não tá dando conta!"
"Para de reclamar, e foca na estrada, só mais uns minutos e já estaremos na escola"
"Você diz isso porque não está no volante, eu estou preocupado com as nossas vidas"
Eu e o Rafa éramos amigos de infância, desde quando me entendo por gente a família dele morava em frente a minha casa. Sempre que Clarice precisasse fazer alguma coisa na rua, era lá que ela me "largava", a mãe do Rafa tinha pena da gente, julgava minha mãe uma mulher aguerrida, por cuidar da filha sozinha e por isso me aturava. E foi assim que nasceu a nossa amizade, embora eu sempre tivesse dificuldade de relacionamento, com aquele menino de sorriso fácil e olhos puxados, eu me sentia segura para ser quem eu era.
Essas foram as melhores tardes da minha infância, pois nós brincávamos de Lego, jogos de tabuleiro e assistíamos desenhos animados na TV. A mãe dele fazia um delicioso bolo de chocolate e lá também sempre haviam muitas bolachas para gente comer a vontade. Mas, a melhor parte, era quando entrávamos no quarto das irmãs dele e eu podia admirar a imensa prateleira repleta de bonecas "Barbie", meu sonho de consumo na infância, eu podia ficar horas só olhando e ainda assim, eu não me cansava. O pai de Rafael, era um homem muito gentil, mas como trabalhava muito, eu pouco o encontrava. Enfim, Rafael e sua família, eram ricos de tudo aquilo que me faltava.
Com o passar do tempo, eu fui ficando mocinha, os jogos de RPG (role-playing game) e todo aquele universo foi perdendo a graça para mim, até mesmo perdi o interesse por admirar as bonecas. E em uma dessas tardes na casa do Rafa, quando veio o meu primeiro período, decidi que aquela amizade de criança havia chegado ao fim.
Nós ficamos três anos sem nos falar, mas um dia na escola sem razão alguma, eu descobri que ele olhava diferente para mim, e pela primeira vez eu olhei de forma diferente para ele. Sua beleza asiática despertou em mim a paixão, e seu coração bondoso o amor. E foi no verão daquele ano que o Rafa voltou para minha vida, sim era dessa volta a qual eu me referia, quem me dera que fosse o Rafa de uma outra dimensão, ou que eu tivesse conseguido voltar o tempo. Mas não, eu estava apenas fazendo menção ao momento no passado, em que começamos a namorar.
No início a família dele não concordava, mas depois acabaram por acostumar, excerto Dalva que dedicava muito do seu tempo a me odiar; questionando minhas roupas, o meu comportamento e a minha existência, com certeza desejava uma garota menos esquisita para o filho dela. Clarice não tinha opinião formada sobre o nosso namoro, mas gostava do Rafael, afinal quem não gostava?
Lembro-me com ternura das tardes de piquenique no parque, de quando ficávamos no quarto dele ouvindo música, ou de quando subíamos no telhado para admirarmos a lua e as estrelas, lá perdíamos a noção do tempo.
- Eu sempre vou amar você! - disse o Rafa.
- Promete que nunca vai embora?
- Aonde eu poderia ir?
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O Tempo
Mystery / Thriller"Jamais poderemos entender os mistérios do tempo" O Tempo é uma viagem cronológica cheia de suspense e mistério através de uma mente perturbada. Helena não era uma adolescente como as outras da sua idade e todos seus defeitos e qualidades a faziam...