Quarenta Semanas

99 38 153
                                    

Grávida...

O tempo de uma gestação normalmente é calculado em semanas, porque os meses geralmente não tem a mesma quantidade de dias, ou seja alguns tem trinta, outros trinta e um. Além disso, dependendo do ano, o mês de Fevereiro poderá até ter vinte nove ou vinte oito dias. Eu sei que pode parecer um pouco confuso, mas o que não é, quando se trata do tempo?

Minha cabeça girava naquele momento, ainda não haviam passado vinte e quatro horas desde a desconfiança de Guida até o teste de farmácia positivo. Fizemos tudo escondido de Thiago, mesmo depois daquele teste que me deixara atônita, eu ainda precisava ter a absoluta certeza, antes de contar sobre a gravidez para ele. E era por isso que estávamos no consultório do doutor Fernando Pessoa, sim esse era o nome do médico, tal como o nome do poeta.

Deitada na maca, enquanto aguardava que o médico iniciasse o exame de ultrassonografia, eu eu só conseguia pensar que aproximadamente pelas próximas quarenta semanas, dentro de mim provavelmente estaria sendo gerada uma vida.

- Como se calcula a idade do bebê dentro da barriga? Quero dizer, como sabemos a quanto tempo estou grávida?
- Normalmente usamos a data da sua última menstruação para iniciar a contagem. - respondeu o doutor Pessoa de forma bastante concentrada.
- Acho que não me recordo a data exata, eu tenho um ciclo muito irregular...
- Ao calcularmos a idade gestacional baseada na data da última menstruação da paciente, conjecturamos que a ovulação e a concepção aconteceram cerca de quatorze dias depois dessa data. No caso de mulheres que tem o ciclo menstrual irregular ou que não ovulam no décimo quarto dia do ciclo, o cálculo da idade gestacional é realizado com base no primeiro exame de ultrassom realizado, possivelmente é o que faremos no seu caso. Mas não se preocupe, a idade gestacional calculada pelo ultrassom é muito mais fidedigna do que a idade gestacional calculada pela última menstruação!

Senti o médico lambuzando a região inferior de meu abdomem com um gel levemente refrescante, e em seguida ele encostou o transdutor em minha pele, analisando as imagens que eram formadas na tela do computador.

- Aqui está seu bebê! - disse o doutor Fernando Pessoa apontando para um pequeno ponto na tela.

Mas, eu não consegui dizer uma só palavra, eu estava perdida em um misto de sensações impossíveis de serem descritas, olhava para tela tentando entender o que eu sentia. Nunca, nem por um segundo em toda minha vida, eu havia me imaginado naquele momento.

Guida assistia a tudo calada, ela tinha lágrimas nos olhos, estava sinceramente emocionada. Era estranho vê-la através daquela perspectiva; uma mulher sempre enigmática, assim tão sensibilizada, comovida... exposta.

Foi então que ouvi o coraçãozinho do bebê batendo pela primeira vez, aquele dispositivo estranhamente trocava sons com o meu corpo, e as ondas sonoras eram escutadas através dos ecos de sua passagem pelo computador, parecia mágica, mas era apenas a tecnologia.

De repente, entendi o que estava acontecendo... eu seria verdadeiramente a mãe de alguém... haviam dois coração batendo em meu corpo, e aquela vida que estava sendo gerada, era a vida do meu filho.. uma vida que não era propriamente minha, mas que eu deveria proteger, cuidar e amar para sempre. E finalmente descobri porque eu não era mais a mesma Helena.

- Gostou do doutor Fernando? Se quiser podemos procurar um outro obstetra. - disse Guida ao sairmos do consultório.
- Sim, gostei muito dele, e também gosto da ideia do meu filho vir ao mundo pelas mãos de um médico que tem nome de poeta.

Guida sorriu e disse.

- Que bom! Eu gosto da ideia do meu neto vir ao mundo pelas mãos de um médico amigo da família, de inteira confiança.

O TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora