O Efeito Borboleta

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Thiago olhou-me diretamente nos olhos, bem no infinito do meu ser. Era como se ele pudesse enxergar tudo aquilo que apodrecia a minha alma, todos os meus medos, frustrações e desespero...
Senti-me despida, oprimida e acuada...

Então ele abaixou o cabeça por um instante, coçou o queijo de modo introspectivo, e depois voltou a olhar para mim:

- E você achou que por todos esses anos eu não soubesse?

O coração ardeu no peito. Senti a mente em queda livre. Olhei para Hugo em meus braços, ele havia adormecido.

Thiago caminhou até a cama e tocou meu rosto com ternura.

- Eu sou médico, embora a psicologia não seja minha especialidade, eu percebi alguns sinais: alteração de personalidade, isolamento social... os tremores em suas mãos! - Thiago tocou minha mão,  e eu respondi recusando o toque.
- Por que você nunca me disse nada, ou me confrontou sobre a doença?
- Primeiramente porque eu resolvi respeitar sua decisão em não me contar, achei melhor esperar que estivesse preparada, e depois eu sabia que você estava medicada e seguindo o tratamento regularmente...
- Sabia?
- Quantos psiquiatras de nome Eduardo, você acha que existe em Teresópolis? É uma cidade pequena, Helena.
- Eu já devia imaginar que o doutor Eduardo era seu cúmplice!
- Sim, durante a gravidez, quando ele suspeitou que você estivesse abandonando a medicação, entrei em pânico. Não sabia o que fazer para ajudá-la, de que maneira poderia abordar esse assunto, eu tinha medo de magoar você novamente ou de deixá-la ainda mais assustada! Então, decidimos pela monitorização de intensos cuidados, com a ajuda do doutor Pessoa!
- Que é claro já sabia de tudo desde o princípio... como fui ingênua!
- Era uma situação bastante complicada, nosso objetivo era fazer com que você se sentisse segura!
- Ninguém sabe o quanto foi difícil passar por tudo isso sozinha...
- Eu imagino que sim, mas você foi muito corajosa! Eu não posso mensurar o quanto erramos ou acertamos no momento, eu juro que tentei estar o mais presente possível, tentei cuidar do seu bem estar, mas infelizmente tive uma emergência no hospital hoje... Jamais deveria ter deixado você sozinha!

Thiago segurou em minha mão novamente.

- A culpa foi toda minha... se eu tivesse te contado antes sobre a minha doença... se eu não tivesse saído de casa...
- Talvez as coisas não acontecessem da forma como aconteceram, mas também o desfecho poderia não ser você com nosso filho nos braços!

Thiago então pegou Hugo do meu colo, e era uma bela visão vê-los juntos. Cuidadosamente, colocou-o no pequeno berço, e depois sentou-se ao meu lado.

- Você teve uma ruptura prematura da placenta! Foi muita sorte que estivesse tão perto do hospital!

- Mas e se eu não tivesse feito tanto esforço...
- Sua pressão arterial estava muito alta e eu acredito que isso tenha sido a causa!
- Você acha que um dia será capaz de me perdoar? Por tudo...
- Não há o que perdoar, meu amor! Se tudo que a gente passou até aqui, foi para nos guiar até esse dia... eu não faria nada diferente!

- O simples bater das asas de uma pequena borboleta, mudaria toda a nossa história...
- E talvez o efeito seria não termos o nosso pequeno Hugo!!! Não importa o passado, o nosso presente e futuro é cuidar e amar o nosso filho! O importante agora é você voltar a medicação o quanto antes...
- Mas e a amamentação?
- Hoje em dia podemos contar com o leite artificial, não é o mais indicado, mas não podemos continuar arriscando a sua saúde mental!
- Seis meses... Deixe-me amamentar por seis meses, eu já fiquei sem medicação por quase nove meses, acho que consigo um pouco mais... principalmente se você estiver ao meu lado!
- Eu não sei Helena!!! É uma decisão muito complicada...
- Pelo bem do nosso filho!
- Mas e quanto a você Helena, e o seu bem?
- Você sabe que sempre tive problemas em me conectar com as pessoas, quase não sinto afeto. Mas, a sensação de amamentar é a melhor coisa que já senti em toda minha vida! Por favor, não me tire isso... Tenho medo de não conseguir amar o meu filho...
- Isso é loucura...
- Fique ao meu lado, me ajude! Você me deve isso!!
- E se você perder a razão de vez?! Você não pode trocar todos os momentos que poderá ter com seu filho por esses seis meses!
- Eu lhe imploro Thiago! Sei que ficarei bem...

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