Chronos - O deus do Tempo

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Cronos era o deus do tempo, sobretudo quando visto em seu aspecto destrutivo, o tempo inexpugnável que rege os destinos e a tudo pode devorar.
-  autor desconhecido

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Quatro anos se passaram desde a morte do Senhor José, e eu posso dizer que fui "devorada" pelos dias que foram se transformando em meses e depois em anos, nem pude sentir os efeitos do tempo! Quando me dei conta, estava em frente ao espelho com vinte e nove anos.

Nunca mais ouvi falar sobre aquele menino, e optei por deixá-lo no passado, se Thiago ou a mãe dele, souberam de mais alguma notícia sobre as investigações da morte do senhor José, decidiram por não compartilharem comigo. Eu sentia imensa saudade daquele velho tolo, as coisas mais corriqueiras faziam-me lembrar o quanto ele fazia falta em minha vida. Há um ledo engano em acreditar que o tempo pode curar todas as nossas feridas, ele apenas nos ensina a viver com elas. E foi isso que fiz por todos esses anos, aprendi a conviver com minhas cicatrizes.

Meu marido Thiago, transformou-se em um médico cardiologista de grande sucesso, e passava a maior do tempo dedicando-se a essa profissão. Há anos já tínhamos dinheiro suficiente para comprar nosso próprio apartamento, mas não podíamos deixar a Senhora Margarida sozinha. A vida para mim, continuou a mesma maneira; trabalhando na loja, passando meu tempo com Dick e estudando piano, o que até surtiu algum efeito e eu atrevo a dizer que meu desempenho foi bastante aprimorado nos últimos anos. Terminei o meu livro, mas o guardei na gaveta, talvez por covardia, insegurança ou anseio. Mas quem sabe um dia eu possa resgatar esse sonho, mostrá-lo ao mundo e tocar o coração de alguém com a minha história.

Nos anos em que se passaram, Thiago nunca voltou a ser a mesma pessoa, e mesmo com todo o esforço que fizemos, acabamos por nos perder um do outro. Assim como ele perdera o brilho que tinha nos olhos, com o tempo deixei de ter esperanças e acostumei a me sentir sozinha novamente. Por vezes cheguei a pensar que ele tinha outra pessoa, até me peguei cheirando as camisas dele e vasculhando o telefone celular, mas nunca encontrei uma prova concreta de traição... apenas um nome registrado no telefone: Amanda, com quem Thiago trocava várias mensagens (com conteúdo estritamente profissional) e várias ligações recebidas e discadas.

Aquele nome ficou em minha mente por meses, e por alguma razão fiquei cismada. Se eu ainda amava Thiago? Todos os dias procurava dentro de mim a resposta... mas eu estava inteiramente envolvida com aquela família, por isso não podia simplesmente ir embora!
Se eu ainda pensava no Rafa? Só enquanto eu respirava...

Minha doença mental, aparentemente estava controlada, continuei meu tratamento com o doutor Eduardo e segui ministrando as medicações injetáveis. Também comecei a experimentar Yoga, e essa prática foi muito efetiva para minha mente, para o meu corpo e para o meu espírito. Com o tempo passei também a estudar sobre o assunto e conhecer mais acerca dessa filosofia milenar. O principal significado da palavra Yoga é união, e tem como o objetivo fazer que nos reconectemos com a nossa essência, por meio da respiração e da meditação. O que em minha condição foi especialmente eficaz, pois todas as práticas que entretinham a minha mente, eram sempre bem-vindas!

Pode parecer pouco convencional, mas sexo era uma coisa que ainda tínhamos em nosso casamento. De certa forma parecia ser algo que nos mantinha conectados, embora o desejo e a paixão não fossem como antes, tínhamos uma estranha necessidade do corpo um do outro, como se nossos sentimentos estivessem canalizados.

Na manhã daquele dia, acordei me sentindo diferente, e não tenho maneiras de explicar isso, ao tomar banho até a água do chuveiro tocou minha pele de uma forma peculiar. Olhei-me no espelho, o mesmo reflexo, mas de alguma forma eu não era mais a mesma Helena.

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