Acordo com meu subconsciente me lembrando que é hora de acordar. Me sinto descansada depois dos últimos dias confusos que tive. Quando pego meu celular tenho duas ligações perdidas da minha mãe, e vão continuar perdidas porque não tenho cabeça para ela agora. Sua mania de controle está me sufocando.
Pego o celular e deito de volta na cama tentando entender as coisas, não funciono muito bem de manhã antes do meu café. É meio dia e minha ansiedade está atacada. Meu peito arde e a angústia vem. Esqueci de tomar meu remédio ontem e levando em consideração tudo o que tem acontecido já era de se esperar que ela viesse fazer uma visita mesmo. Crio forças para levantar e vou em direção ao banheiro para tomar um banho. Cenas de mim e Pedro no chuveiro vêm em minha mente. Um calor cresce no estômago. Olho para minhas mãos e estão arranhadas de novo, é espontâneo, não consigo controlar, quando vejo já arranhei e estão machucadas, maldita ansiedade.
Saio do banho e me sinto renovada, coloco uma saia jeans e uma camiseta justa, gosto dela pois realça meus peitos sem os mostrar. Deixo meus cabelos molhados para me refrescar, faz uns 40 graus, o Rio de Janeiro não brinca em serviço.
Desço as escadas e sinto cheiro de almoço, tudo o que eu preciso.
Pelo jeito Esther não dormiu porque está com uma cara péssima e olheiras gigantes.
"Tudo bem querida?" Ela pergunta em um tom calmo e carinhoso. Eu é quem deveria estar perguntando, ela é a gentil demais.
"Muito bem, obrigada. E você? E Enrico?"
Ela desvia o olhar.
"Não durmo direito desde ontem." Ela diz como se estivesse decepcionada. Algo realmente está acontecendo.
"Bom, eu posso te ajudar com o almoço se você quiser." Digo tentando mudar o assunto.
"Claro, querida. Eu adoraria." Ela tem uma tentativa falha de sorrir.
Montamos uma lasanha em uma travessa florida, ela tem uma coleção delas, não tem nada mais que seja tão sua cara. Colocamos a lasanha no forno e ela se senta do outro lado do balcão na minha frente. Encosto meu peito no balcão apoiando com os braços e jogo meu corpo para trás. O silêncio é constrangedor. Não entendo o que ela está sentindo pois não sou mãe, mas posso imaginar. Ver o filho nesse estado deve ser dolorido, e julgando pela reação que ela está tendo, não é a primeira vez. Por isso não quero ter filhos, são bonitinhos quando pequenos, mas crescem e resolvem agir dessa forma. Passos atrás de mim quebram nosso silêncio. Pedro vem ao meu lado e olha disfarçadamente para minha posição e eu me dou conta que estou em uma posição não muito favorável considerando que estou de saia. Ele para ao meu lado. Meu coração dispara e meu corpo incendeia, a reação que ele tem sobre meu corpo é inacreditável.
"Bom dia, Esther. Você está bem?" Ele diz e vai diminuindo o tom conforme se aproxima, ela o olha com olhares repreensivos. Não participo dessa troca de olhares e provavelmente não estou incluída mesmo. Algo está acontecendo. Por que eles estão trocando olhares?
Ela pigarreia e diz:
"Estou bem, querido, obrigada. E você, dormiu bem?"
"Muito bem, obrigada." Ele sorri.
Ela se aproxima e toca sua mão.
"Você sabe que essa casa é sua, não é? Pode morar conosco se quiser, não precisamos rotular nada. Só quero que se sinta bem." Ela diz e lágrimas brotam em seus olhos.
"Aah...Muito obrigada, Esther. Não sei o que faria sem vocês." Ele não recusou a proposta, mas também não aceitou, seria estranho demais ter ele morando sobre o mesmo teto que o meu. Bom, ele já quase mora, mas não temos nada rotulado ou algo do tipo. Acho que ele pensa o mesmo que eu, e por isso não diz nada.
O celular de Esther toca perto do fogão e ela se vira para atender. Somos só eu e Pedro, lado a lado e hormônios gritando.
"Você deveria usar essa saia mais vezes." Ele diz próximo ao meu ouvido. Todos os pelos do meu corpo se arrepiam e meu corpo fica rígido. Ele tem um poder incrível sobre meu corpo. Estou paralisada, não consigo reagir quando se trata de Pedro. Ele se aproxima mais, suas mãos me tocam. Estão acima dos meus joelhos, em minhas coxas, tocam minha saia e quanto mais ele sobe, mais meu corpo é amortecido. Agradeço aos céus por estar de saia.
Me dou conta de meus pensamentos perversos e me sinto mal por isso, a antiga Sarah jamais pensaria algo do tipo.
Mas suas mãos me tiram de meu delírio em segundos. Esther está do outro lado da cozinha e o balcão nos esconde, e a ideia de fazer algo escondido me arrepia a espinha e me dá mais vontade de fazer. É isso que dizem, né? Que o proibido é mais gostoso.
Suas mãos sobem e tocam minha calcinha. Ele está agindo rápido por medo de sermos pegos, mas para mim parece que cada toque leva uma eternidade. Não preciso de um espelho para saber que estou corada nesse momento, estou paralisada, incapaz de resistir a ele, cada célula do meu corpo é atraída por ele.
"Fica tranquila, meu bem. Ela não vai ver nada, só relaxa." Sua voz serena sussurra em meu ouvido. Esther continua no telefone e estamos sentados atrás do balcão como dois jovens tomando seu café da manhã.
Minha calcinha é colocada para o lado e seus dedos me tocam, cada parte do meu corpo se arrepia e eu desejo mais que nunca estar a sós com ele. Não sei quem é essa Sarah que me tornei, mas me assusta cada vez mais. Eu gosto cada vez mais.
"Fica bem quietinha." Ele investe com toda sua delicadeza e falta de vergonha. MEU DEUS.
Pigarreio e me endireito disfarçando, não tiro os olhos de Esther, mas meu desejo de ser consumida por ele é maior do que minha preocupação por ela.
Ele introduz mais fundo e aumenta o ritmo, mordo minha língua para não fazer barulho. Estou em constante preocupação com meu prazer e o medo de ser pega. Realmente é como dizem, o proibido é bem mais gostoso.
"Você gosta assim, não é?" Ele me tortura com suas perguntas e eu só assinto, sou incapaz de dizer qualquer coisa sem gemer antes.
Sua tortura continua.
"Me responde, Sarah. Ou eu paro." E a ideia de ficar sem seu toque parece a pior do mundo
"S-sim." Eu respondo bem baixinho, quase como um gemido.
Ele vai mais fundo, o ritmo aumenta e eu vejo estrelas.
"Uma boa maneira de começar o dia." Ele sussurra e tira as mãos de mim, estou completamente amortecida. Ele apoia os cotovelos ao meu lado no balcão.
Meu Deus. É tudo o que sou capaz de pensar.
Esther se vira me tirando de meu transe.
"Está com fome, Pedro?" Ela pergunta ao ver que ele lambe os dedos. Uma baita tortura, isso sim.
"Aah, pode apostar que estou." Ele diz e eu coro. A forma como ele lida com isso de uma forma tão natural me assusta.
Esther se apoia no balcão em nossa frente pensativa e diz: "O dia ontem foi bom?" Ela pergunta e eu paraliso. Mas os olhos dela desviam e vão direto em minhas mãos, ficam arregalados assim que ela enxerga meus arranhões causados pela ansiedade. Merda. Ninguém aqui sabe das minhas crises de ansiedade. Minha mãe e eu achamos melhor deixar isso entre nós já que o motivo das minhas crises é meu pai, seu abandono e suas consequências. Minha mãe se sente culpada por ter me sobrecarregado tanto quando ela desabou por causa do meu pai. Mas eu não a culpo. Nós mulheres estamos sempre juntando os caquinhos que os homens deixam ao passar por nossas vidas. Eles nos quebram e nos deixam para juntar os cacos. É assim que é.
"Querida, o que aconteceu com sua mão?" Ela olha desentendida para minha mão toda arranhada pela minha crise de ansiedade. Tentei fecha-la mas não adiantou.
"Ahh...Eu..." E o forno apita.
Obrigada, Deus! Fico te devendo essa.
Me recomponho e vou tirar a lasanha do forno. Estou rezando para que alguém mude de assunto. Estou mais faminta que nunca e preciso desviar dessa situação, não estou pronta para falar de meus problemas.
"Era seu pai no telefone, ele está vindo para casa almoçar com a gente." Ela diz mudando de assunto percebendo que não vou falar sobre minha mão.
"Que bom, espero que Enrico fique bem."
Pedro ficou parado no balcão desde que colocou os olhos em minhas mãos. Espero que ele esqueça, não estou pronta para falar sobre isso.
Acabo de colocar a mesa e a porta da frente se abre. Meu pai entra e Enrico desce as escadas, está com uma cara péssima, não parece que ele se recuperou de uma ressaca, que geralmente se cura apenas com um comprimido, água e um bom sono. Ele despencou ontem no chão, nunca vi ninguém tão bêbado a esse ponto.
O clima está estranho e Esther e meu pai não dirigem os olhos à Enrico.
Ele pega um copo d'agua e vai direto para o quarto de volta, o silêncio reina e meu pai tem os olhos vagos, Esther está nervosa, Pedro calado e eu sem entender nada.
Alguma coisa que eu não tenho ideia está acontecendo.
Sentamos na mesa para o almoço. Além do clima esquisito entre meu pai e Enrico, há um clima esquisito entre nós.
Há um silêncio dolorido e desconfortável.
"Filha, me desculpe por ontem, eu realmente estou tentando ser uma pessoa melhor em sua vida, e sabendo como sua mãe é, não deveria ter contado sobre vocês para ela sem antes falar com você." Ele me olha e paro de mastigar a lasanha.
"Tudo bem, pai, eu me resolvo com minha mãe depois, ela é exagerada, você sabe."
Sorrimos e a tensão se alivia.
"Pedro, você já sabe quando vai ser a formatura de vocês?" Esther questiona.
"Ainda não, mas provavelmente depois que a reforma da escola terminar."
"Entendi."
"Mas não vou participar." Ele responde secamente.
Esther suspira. Não imagino mesmo Pedro de beca e chapéu de formatura.
"E as inscrições para faculdade?" Ela sorri.
"Nós estamos cuidando disso juntos. Eu, Pedro e Enrico." Meu pai diz. Fico feliz que Pedro e Enrico tenham uma figura paterna como meu pai.
"Meus meninos na faculdade, sou uma mãe muito babona."
Pedro revira os olhos, sei que ele odeia sentimentalismo excessivo, a menos que venha de mim.
"Você ainda tem um ano para terminar, não é, Sarah? Esther olha para mim.
"Sim, esse ano faço dezessete e ano que vem é meu último ano." Sorrio.
"Vou me sentir só quando suas férias acabarem." Ele diz com sua doce voz.
"Você pode voltar quando quiser, filha. Já pensou que faculdade vai fazer?"
"Psicologia." Meu pai se espanta.
"Muito bom mesmo" Meu pai diz.
"Que legal, Sarah, você tem nosso apoio, sabe disso." Esther diz.
Pedro permanece calado.
"Se vocês quiserem subir fiquem a vontade, eu e Miguel cuidamos da louça." Acho que ela quer um pouco de privacidade com meu pai.
"Claro."
Subo e escuto os passos de Pedro atrás de mim subindo as escadas.
Ele segura meu braço, me parando no corredor. Eu o olho intrigada.
"Desculpe, não quis pegar dessa forma." Ele encosta na parede, com receio.
"Não me machucou." "Por está assim? O que houve?" Me aproximo, ele tem um olhar vago e confuso.
"Não tinha pensado no fato de que você vai embora."
Ouço um barulho na escada.
"Vem, vamos conversar aqui dentro."
Eu o sento na minha cama e seguro sua mão.
"Eu vim passar as férias aqui, Pedro. Precioso terminar meu último ano e você precisa ir para faculdade. Mas temos muito tempo para pensar nesse assunto."
Ele não responde.
"Tudo bem?" Pergunto.
"Tudo bem."
"Está tudo bem entre vocês e Enrico?"
Me sento em sua frente.
"Por que não estaria?"
Ele sempre tem ótimas respostas.
"Não sei, talvez por ele ter desmaiado de tanto ingerir sabe-se lá o que, senti um clima." Eu olho em seus olhos.
"Esquece isso, vai ficar tudo bem." Ele me encara.
Não respondo.
"Cheguei ontem e Esther disse que você foi dormir chorando." Ele se aproxima mais e as batidas do meu coração são diretamente proporcionais, quanto mais ele se aproxima, mais meu coração acelera e meu corpo reage.
"É, meu pai falou sobre a gente para minha mãe e ela me ligou surtando." Reviro os olhos.
"Ela sabe sobre nós?"
"Não, mas ela surta com qualquer coisa, aí acabei descontando a raiva no meu pai."
"E por que chorou?" Ele franze a testa.
"Por que fiquei confusa, nervosa, sobre tudo o que está acontecendo agora."
"E por que eu tenho a impressão de que você não está falando só do seu pai, e sim de nós também?"
"Porque também estou me sentindo assim sobre nós."
"Fala comigo, Sarah."
Eu o olho, sinto seu carinho nesse momento, sinto como ele está amolecendo seu coração aos poucos.
"É tudo diferente para mim, Pedro. Nunca gostei de ninguém como gosto de você. Nunca fiquei tão íntima de alguém como sou de você, a mudança me assusta, e o fato de eu não poder contar para minha mãe me faz sentir como se eu estivesse fazendo algo errado." Desabafo.
"É assim que você se sente, como se eu fosse algo errado em sua vida?"
"Não me leve a mal, por favor." Suspiro. "É só que é tudo diferente para mim, Pedro, à um mês atrás se alguém me dissesse o que eu estaria vivendo hoje, não acreditaria."
"Eu entendo." Ele se aproxima encostando seu corpo no meu, pega minha mão e aperta firmemente.
"Um dia você me disse que estaria ao meu lado independente se nosso barco afundasse ou continuasse a navegar. Continue a navegar comigo, Sarah."
Ele se aproxima da minha orelha.
"Se permita arriscar, Sarah. Você não vai se arrepender."
Fecho meus olhos e me permito sentir todas as sensações que ele me causa, ele é fogo e gelo, quente e frio, é tudo e tanto.
Nos beijamos com intensidade, vontade e com necessidade, preciso do seu carinho mais do que já precisei. Subo em seu colo e enterro minhas mãos em seus cabelos negros, sinto seu cheiro doce e seu gosto doce, quero possui-lo, quero ele por inteiro, sinto vontade dele.
"O que você está fazendo comigo, Sarah?"
"Eu te pergunto mesmo, Pedro."
E passamos a tarde toda juntos, rindo e falando sobre livros.
Deito em seu colo e ele me lê a parte preferida do nosso livro preferido.
"Você disse que foi o livro que fez você gostar de literatura." Digo me aconchegando em seu colo.
"E foi. Eu estava em um momento difícil com a minha família e tudo o que estava acontecendo. Resolvi dar uma chance para o livro e nunca mais parei, fiquei amarrado nas palavras. Foi como um refúgio de tudo o que estava acontecendo em minha vida. Depois li Orgulho e Preconceito, Agatha Christie, todos os livros de John Green.
"Você lendo John Green? Essa eu pago pra ver." Rio.
"O que? Não acha que sou digno de ler John Green?" Ele me olha.
"Claro que acho, é um dos meus autores preferidos, a forma com que os personagens são bem descritos e bem colocados, é o tipo de livro que faz meu coração bater mais forte, sabe?"
"Sei."
"Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade, do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca."
É através de sua voz que ouço ele ler uma das minhas partes preferidas de Dom Casmurro. Aqui, deitada em seu colo, observo através de sua doce voz, Machado de Assis descrever o encanto que Bentinho tem pelos olhos de Capitu, o quanto esses olhos profundos, impactantes e inesquecíveis o afeta. Será que Pedro tem ideia de que da mesma forma com que Bentinho se perde nos olhos de Capitu, eu me perco nos dele também? Eu o admiro e o observo, desejando ser imortal para poder olha-los por uma eternidade.
A cada momento que passa, sei que estou cada vez mais agindo pelo coração, a Sarah que criticava decisões tomadas por impulso e sentimentalismo agora está cada vez mais distante.
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Inefável
Romance"Dizem que as cartas de amor, se há amor, são ridículas. Mas eu escreveria centenas delas para que você se sinta amada." Ele me tira o ar, provoca em mim sentimentos e sensações das quais nunca senti na vida. Ele me traga como as ondas do mar traga...