Intensidade

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A campainha toca.
"Atende a porta por favor, Sarah." Esther pede da cozinha.
"Claro." Nosso condomínio é seguro o suficiente para não termos portão em casa. Abro a porta e Laura já vem entrando, eu amo como ela se sente a vontade aqui, ela é minha versão de Mari e Liz.
"Até que enfim, precisei vir ver se você estava viva." Laura diz passando por mim e indo na cozinha. Está com uma roupa de caminhada que define seu lindo corpo.
"Bom te ver, Esther." Ela sorri.
"Bom te ver também, Laura." Digo por que ela passa reto por mim.
"Sarcasmo não combina com você, Sarah."
Rimos.
"Estava caminhando e passei aqui para dar um oi."
Sei que na verdade tem algo a mais que isso, sempre tem algo para se esperar dela.
"Diz logo, Laura."
Ela revira os olhos.
"Como você e Pedro estão? Você não me mandou uma mensagensinha."
"Quanto drama."
Ela cerra os olhos e me olha repreendendo.
"Estamos bem, eu estava até pensando na possibilidade de ficar."
"Não acredito." Ela se levanta.
"Pois é."
"Então temos o que comemorar amanhã."
"Como assim?"
Ela me dá um beijo na bochecha.
"Amanhã tem festa no Hugo e não aceito não como resposta." Ela sai e fecha a porta sem que eu consiga responder, é a Laura, é assim que ela lida com as coisas.
"Até mais, Esther."
Ela grita lá de fora.
Eu e Esther rimos.
"Ela é intensa como a mãe dela, difícil de lidar, não é?"
"Coloca difícil nisso."
Almoçamos os três juntos em um clima bem agradável, meu pai contou das reuniões e dos problemas com o trabalho.
"A escola ligou hoje, a formatura deles será um dia após o Natal."
"E as inscrições para faculdade, como estão?" Esther pergunta.
"Vão bem." Meu pai responde.
"Vou sentir falta dos três todo o tempo me enchendo o saco." Esther diz rindo.
Ano que vem tudo será diferente.
Vou para meu quarto depois do almoço. Passo um bom tempo entretida no livro que leio e escuto a porta do quarto de Enrico bater. Abro a minha e não vejo ninguém, mas sinto um calafrio, sei quem é no exato momento, só ele provoca tais sensações em mim, mas lembro que estou brava com ele no exato momento em que me viro. Ele está vestindo preto e seu cabelo é o mais desarrumado e lindo possível.
"Com medo?" Ele me olha de cima a baixo, estou com meu pijama de calor, talvez vestida de menos e nesse momento agradeço por isso. Me assusto com meu próprio pensamento. Sigo seus olhos, Pedro tem muitos olhares e eu sou perita em decifra-los.
"Não, só achei que ninguém voltasse tão cedo, vocês vivem saindo por aí." Olho para o chão, não sou capaz de olhar em seus olhos sem me perder neles.
"Relaxa, Sarah." Ele pega em minha mão.
Entro para dentro do quarto e encosto na escrivaninha, preciso de um apoio para começar isso, sei que quando começamos não tem fim tão cedo.
"Eu sei, é que é tudo tão intenso, até a raiva que senti por ela hoje."
"Eu não respondi a mensagem, e você só viu porque foi xereta." Ele me fuzila com o olhar e eu devolvo, sinto tanta raiva que podia bater nele nesse momento.
"Se fosse ao contrário você estaria surtando." Ergo minha sobrancelha, eu sei que ele odeia. Ou ama, talvez a linha entre ódio e amor seja tênue quando se trata de nós.
"Qual é, Sarah, Você está sendo neurótica." Isso me dói, não deveria doer porque na verdade, ele não é minha propriedade e não me deve tantas satisfações assim, eu sabia no que estava me metendo quando entrei, e sei também que ele consegue ser mais gentil quando quer.
"Pois então sai do meu quarto e volte para a Rafaela, que dá a você o que você quer, não é assim? Ela manda mensagem e você vai correndo?" Cruzo os braços.
"Você está sendo ridícula." Ele não está ajudando no meu processo de compreensão.
"Ridículo é tudo isso, Pedro! Eu me importo com você, não percebe? Se pretende me fazer de idiota já me fala logo." Estou chorando, pra variar. Não sou capaz de trocar três palavras em uma discussão sem chorar.
Não queria ser assim, passa uma sensação de fraqueza, sentimentalismo, mas é assim que eu sou e nesse momento não sei se sou capaz de lidar tão bem com minhas emoções. Ele para ao me ver chorar e ao escutar minhas palavras, acho que toquei em seu ponto fraco, tudo bem, porque ele também tocou no meu.
Ele se aproxima e toca meus braços gélidos com as mãos, dessa vez é ele quem me traz conforto. Coloca meu cabelo atrás da orelha e enxuga minhas lágrimas, cada toque em meu corpo é sentido com a mais alta intensidade, meu corpo se sente completo novamente.
"Por favor não diz que vai me abandonar de novo." Ele me olha nos olhos, sinto o medo em suas palavras.
"Eu não disse que iria te abandonar, você que me deixou aqui pensando sobre tudo depois daquela mensagem." Olho para a profundidade de seu olhar.
"Olha, eu fiquei irritado quando você mexeu no meu celular e fui dar uma volta com os caras, só isso." Ele está apreensivo.
"Não me abandone, Sarah, um dia sem sentir seu olhar sobre meu corpo é uma eternidade." Ele diz me olhando fixamente e eu me derreto, ele domina as palavras e me faz querer correr para seus braços. Como ele consegue ser tão bom com as palavras e tão lindo de tantas formas?
Muitas perguntas pairam sobre minha mente nesse momento mas não sou capaz de pensar nelas quando seus dedos tocam minha boca, sinto o gosto metálico de seus anéis e seus dedos quentes sob minha pele gelada. Somos o fogo e o gelo, em grande intensidade e fervor. Não sou capaz de pensar em nada quando nos aproximamos, ele toma conta de toda minha mente e corpo. Ele me tem por inteira.
Nos beijamos com fervor, não há romance nem calmaria, há vontade e intensidade. Ele coloca suas mãos em minha nuca e firma suas mãos em meu cabelo, puxando de leve como sempre faz, envolvo meus braços em seu corpo e ele nos afasta até encostarmos na escrivaninha. É um beijo rápido e intenso, é do que precisamos nesse momento, ele me ergue e me senta na escrivaninha se colocando entre minhas pernas, nesse momento ele é todo meu, e não há nada que possa tira-lo de mim.
Todo o meu corpo se arrepia quando ele desse seus dedos sobre minha blusa, cada toque é sentido com intensidade e eu desejo mais. Suas mãos percorrem toda a minha blusa e tocam minha barriga, ele faz tudo com o mais lento e preciso movimento, ele sabe o que faz.
Seus dedos tocam meu sutiã e me estremeço, são muitas sensações a serem sentidas, e eu desejo a eternidade para poder decifrar cada uma delas a serem proporcionadas por Pedro. Ele desprende sua outra mão dos meus cabelos e desce lentamente até alcançar meu shorts, nesse momento me entrego inteiramente, não respondo mais por meus sentidos. Sou levada ao sétimo céu pouco tempo depois, tudo o que Pedro faz é intenso.
"Mais calma agora?" Ele ri.
"Não tem graça." Balanço a cabeça negativamente olhando para ele.
"Não era isso que você estava dizendo há dez segundos."
"Pedro."
Ele ri mais ainda e dou um tapa em seu braço.
"Onde você foi hoje cedo?" Ele me questiona, e penso sobre fazer um suspense, só fui tomar uma água de coco depois que mil teorias sobre a mensagem da Rafaela passaram em minha mente. Mas seria legal vê-lo desesperado, sempre sou eu a preocupada.
Ele me olha com curiosidade, mas gosto de dificultar as coisas.
"Só se você me disser onde foi com os caras." Ergo minha sobrancelha.
"Se erguer mais uma vez essa sobrancelha para mim não respondo por meus atos." Ele ri e me puxa para perto.
"Bom, então acho que vou ter que erguer muitas vezes." Rio e mordo os lábios.
"É sério, onde você foi?" Meu semblante se fecha.
"Não fiz nada demais, só passei na casa do Arthur para conversarmos um pouco."
"Entendo."
"Depois passei na minha mãe." Ele diz seriamente.
"Por que?" Franzo o cenho, não gosto dele por perto daquela casa sabendo o que seu padrasto é capaz de fazer.
"Porque ela continua sendo minha mãe, Sarah, não posso abandona-la."
"Mas e seu padrasto?"
"Não estava lá."
"Entendo"
"Está cansada?" Ele apoia as mãos em minha coxa.
"Um pouco, ser uma boa namorada é um tanto cansativo." Sorrio.
"Ser uma boa namorada para mim é um tanto cansativo." Rimos.
"Vem, deita aqui comigo." Ele diz me carregando no colo e me deitando na cama, ele se posiciona ao meu lado e deito em seu peito. Era tudo o que eu precisava depois de uma manhã cansativa, é por esse Pedro que me apaixonei e é por ele que vou lutar.
Seus dedos acariciam meus cabelos e em instantes pego no sono, tudo é mais intenso conosco, desde a raiva, ao carinho.
Acordo com um barulho de clique. Abro os olhos e ele está na minha frente com uma câmara.
Franzo o cenho.
"O que está fazendo?" Me sento na cama.
"Você estava no ângulo perfeito, a luz da janela sobre você, que parecia um anjo dormindo."
"Desde quando você tira fotos?"
"Às vezes tiro. Vem ver a obra de arte que você é dormindo." Ele sorri.
Ual. É estranho me olhar assim, sobre outros olhos e outra perspectiva. Gosto do que vejo, da forma como ele me vê, como ele me sente, sob os olhos dele.
"Gostou?" Ele me olha.
"Gostei. Por que não me disse isso antes? Que gostava de tirar fotos."
Ele dá de ombros.
"São realmente lindas." Meu cabelo castanho é iluminado pela luz que o crepúsculo traz. Pareço angelical.
O jantar é calmo, me sento ao lado de Pedro e meu pai conta dos problemas no trabalho. A comida de Esther é sempre divina, ela diz que pensa em abrir um escritório em casa para poder trabalhar aqui mesmo e eu dou total apoio.
"Faltam só alguns dias para o Natal." Esther diz animada. É o primeiro Natal que passo longe da minha mãe, me sinto mal de deixá-la sozinha.
"Podemos fazer um jantar em família esse ano já que nossa família está completa com a Sarah." Meu pai diz.
"Pode ser." Natal nunca foi uma data muito comemorativa para mim, meu pai nos abandonou próximo ao Natal e o primeiro Natal sem ele foi o pior de todos, mas não vou entrar nesse assunto agora que as coisas estão indo bem.
"A obra da escola está nos acabamentos finais, provavelmente a formatura vai acontecer logo depois do Natal.
Esther diz animada.
"Eu nem lembrava mais dessa palhaçada." Enrico solta.
"Nem eu." Pedro completa.
"Vamos lá, meninos, é só uma colação, não é o fim do mundo."
"Não conte comigo para isso."
"Nem comigo."
Esther suspira, ela ama uma festa e não ver o filho fazendo formatura do último ano escolar deve ser o fim do mundo para ela, embora eu ainda ache que ela vai acabar o convencendo de ir.
Pedro coloca sua mão em minha coxa subindo de vagar causando um arrepio em todo o meu corpo.
Como a beterraba sensacional que a Esther fez e quase engasgo quando sua mão toca onde não deveria.
Talvez ele devesse.
Pigarreio e me endireito na cadeira, olho para seus olhos e ele levanta a sobrancelha, ele sabe que acaba comigo fazendo isso.
"Alda nos chamou para tomar um vinho hoje, o que acha?" Esther pergunta, acho legal a amizade que eles têm, meu pai ama assistir futebol com o pai da Laura e Esther faz comidas divinas com Alda.
"Acho ótimo, hoje tem campeonato." Meu pai sorri. "Vocês vão ficar bem?" Ele me olha, sei do que ele está falando.
"Claro." É só o que eu digo.
Levanto para colocar meu prato na pia.
"Amanhã podemos colocar uns enfeites de Natal, o que acha Sarah?" Esther vem dizendo em minha direção.
"Acho ótimo." Sorrio, nunca fiz esse tipo de coisa com a minha mãe, nós só usamos os mesmos enfeites sempre, não temos muito o que comemorar no Natal.
"Vamos enfeitar uma arvore linda esse ano." Ela toca em meu ombro.
"Claro." Sorrio.
"Deus me ajude a sobreviver com tanta coisa brega." Enrico diz.
"Se tivesse ido à catequese saberia que não se fala o nome de Deus em vão."
Esther diz, estou rindo com tantas ironias.
"Não sei se ainda há salvação para mim."
"Nem para mim." Pedro completa
Rimos muito.
Vou em direção ao meu quarto e fecho a porta, coloco meus fones e escuto minhas músicas no último volume, escutar música me acalma. Geralmente eu escuto umas músicas mais calmas, mas gosto de tudo um pouco, com tanto que eu tenha uma música para escutar, qualquer coisa me anima. Me olho no espelho e me admiro, ganhei uns quilinhos nessas férias, mas estou me sentindo bem mesmo assim, nunca liguei muito para o meu peso. Meu cabelo está a poucos centímetros da minha cintura, gosto dele bem grande.
Ouço passos.
"Se admirando?"
E meu corpo se arrepia todo, a forma que meu corpo reage à sua presença é satisfatória. Olho para o espelho e ele está atrás de mim.
"Privacidade não é uma das coisas que se preza nessa casa." Digo o encarando através do espelho, ele se aproxima mais e me abraça por trás.
"Se eu tivesse essa beleza toda ficaria o dia todo me admirando." Ele encosta a cabeça em meu ombro e coloca sua mão levemente em minha barriga.
"Cada detalhe seu é perfeito, seu único defeito é ter demorado tanto para aparecer em minha vida." Ele diz e nesse momento já estou entregue à ele.
Seus lábios tocam minha orelha, ouço sua respiração e sua mão desce cada vez mais, estou observando toda a cena pelo espelho, o que é um tanto estranho, mas eu gosto. Meus batimentos aceleram a cada centímetro que sua mão desce e a cada respiração.
"Quero que veja o que só eu sou capaz de fazer com você, quero que veja como seu corpo reage à mim, eu sei que você quer, posso sentir." Ele diz quase como um sussurro. E eu quero pular em seu colo, nunca vou me cansar dele. "Você quer, não quer Sarah?" Seus dedos gélidos tocam o elástico da minha calcinha e tenho um sobressalto. Mas ele para quando vê que eu não respondo, ele gosta desses joguinhos que me torturam.
"Por favor." Eu imploro, não vou suportar que ele pare nesse momento.
"Boa menina." Meu corpo todo se arrepia em segundos ao ouvir e sentir sua voz. Ele me toca e eu vou ao sétimo céu em milésimos, só ele me causa tal sensação. Minha respiração está fora de ritmo e meu coração quer sair do meu corpo, meu corpo o deseja mais que tudo. Estou viciada nele, em seu toque e nos sentimentos que ele me causa.
"Não me deixe, Sarah." Ele sussurra. "Eu preciso de você." Eu quero desmaiar em seu colo com as sensações que ele causa em mim.
Me viro para encará-lo, seus olhos são águas calmas que eu desejo mergulhar profundamente sem me preocupar se vou me afogar, nada há para me preocupar agora, apenas ele, tudo é sobre ele.
Meu coração transborda sempre que ele me toca.
"Eu poderia morar nesses seu olhos de mel." Ele me envolve pela cintura e me encara de volta.
Eu olho para baixo. "Você trocou olhares com tantas meninas, não sei o que faz o meu ser tão especial assim." Eu jogo como uma pedra no vidro, ele odeia esse assunto e eu amo provoca-lo.
"Sarah, as meninas que eu fiquei me deram experiência, você me ensina mais que isso, você me invade de carinho e amor." Ele coloca meu cabelo atrás da orelha.
Nesse momento sei que não desejo voltar para São Paulo, é aqui que quero ficar, ao seu lado.

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