Ocean eyes

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Não dissemos uma palavra desde que eu o obriguei a sentar na pia para que eu pudesse dar um jeito em seus ferimentos. Aquele cara o acertou com uns dois socos no rosto e um no estômago. E isso foi só o que eu consegui ver.
Ele tem um corte em cima da sobrancelha que está sangrando e a mão também está, para variar.
Pego o algodão molhado e coloco de vagar em seu rosto para tirar o sangue e começo a limpar. Quero saber quem é aquele homem e porque ele começou uma briga com Pedro, ele estava com tanta raiva e foi lá só para bater nele.
Mas por mais curiosa que eu esteja, estou envergonhada, bebi como a adolescente patética que repudio e fiz a maior cena com Pedro. Eu estava com tanta raiva porque ele escolheu ela, ele podia ter me ligado ou só conversado comigo, me contado como se sente mas ele escolheu estar com ela. Talvez a companhia dela seja mais agradável porque ela oferece à ele coisas que eu não ofereço. De qualquer maneira, não é da minha conta porque não tem nada que o prenda a mim. Mas dói, meu coração está doendo e eu quero que pare. Quero que ele apenas confie em mim e me conte o que está acontecendo, estou entrando em um barco furado que não sei quantos metros vai afundar, e mesmo assim continuo entrando.
"Vai doer um pouco, então vê se aguenta firme." Eu digo antes de passar o antisséptico em seu corte, não é profundo, graças a Deus ou a mim que pedi socorro de pressa.
"Ai, porra."
"Eu avisei."
"Olha, desculpa por gritar com você e agir que nem um idiota com a Rafaela. Mas quando eu disse que ela não significa nada pra mim eu estava falando sério." Ele finalmente diz algo, estávamos em um silêncio dolorido, eu o prefiro gritando do que em um silêncio absoluto. Mas não sei o que dizer, não sei o que fazer e nem pensar, esses últimos dias foram mais intensos do que meus dezesseis anos de vida.
"Relaxa. De qualquer forma, eu não tenho nada a ver mesmo, então não precisa se preocupar em pedir desculpas." Digo de forma seca, e ele não ousa fazer cara feia porque sabe que tenho razão.
"Você já está sóbria, né? Por que bebeu tanto? Não pensei que curtisse."
"Não curto, mas foi o que encontrei para aliviar as coisas." Dou de ombros.
"Aliviar o que, exatamente?" Ele pergunta como se não entendesse. Eu sempre imaginei que os homens fossem mais devagar do que as mulheres, mas nem tanto.
"Tudo, Pedro. As brincadeiras da Rafaela, eu não sei o que fiz à ela para ser tão odiada assim, eu me senti humilhada, Pedro. E ver todo mundo dando risada, até você, foi demais para mim, entende? Não sou boa de fazer amigos, tenho duas melhores amigas que arranjei no fundamental e depois disso não fiz tantas amizades, moro em um bairro pequeno, não vou à festas, não saio beijando qualquer um e não bebo, mas desde que cheguei aqui tenho feito coisas das quais não entendo, as coisas só estão acontecendo sem que eu entenda." Eu finalmente olho no fundo de seus olhos e lágrimas escorrem nos meus. Droga.
"Essa última semana foi uma droga. Me senti deslocada e cheia de ansiedade por sua culpa, fiquei preocupada com a possibilidade de você ter um surto e eu não estar por perto e eu nem sei o que acontece com você, não sei porque você anda brigando tanto, não sei quem é aquele cara, não sei nada! Porque você não me conta nada!" E quem surtou agora foi eu. Mas não tinha outro jeito, precisava colocar para fora o combo de sentimentos guardados em mim.
"Poxa, eu...Eu não sei o que dizer..." Ele diz e abaixa a cabeça.
"Não precisa dizer nada, você já ficou uma semana curtindo enquanto eu quase morri de preocupação, acho que essa já foi uma boa resposta. É ela e não eu."
"O que?" Ele diz rindo. Não posso acreditar que ele está rindo enquanto eu choro falando dos meus sentimentos.
"Escuta, Sarah. Só escuta, ta legal? Olha, quando eu disse que não era o cara para você aquele dia, meu coração doeu para um caralho, eu queria estar com você mais que tudo. Porra, como eu queria, mas é por isso mesmo que não sou o cara para você, porque não mereço seu carinho por mim. Eu estou com você à alguns minutos e você já está chorando, você não tem noção de como me dói ver você chorando e saber que não posso fazer nada porque é por minha causa. Eu não sou o cara que tira boas notas, não sou o cara que vai te levar para o cinema, e nem o cara que vai fazer você suspirar ao ouvir meu nome porque eu faço muitas merdas, eu vivo magoando as pessoas mesmo sem querer, uma hora ou outra eu acabo machucando alguém. E eu prefiro sentir a dor de ficar longe de você do que me ver te machucando." Ele diz e eu continuo chorando. Não sou capaz de dizer nada, não tenho forças.
"Desde que você chegou já me ajudou em mais brigas do que sua vida toda, eu tenho certeza. E você ainda está aqui por mim. Não quero que faça parte do furacão que minha vida é, eu sou uma tempestade, Sarah." Ele continua dizendo mas estou em transe, como se uma cena estivesse passando em minha mente, revivendo todos esses dias.
"Foi por isso que fiquei fora uma semana, minha mãe não precisou mais dos meus cuidados depois do segundo dia e eu não podia voltar porque não queria que você fizesse parte disso e não quero, minha vida é um abismo, Sarah. Uma hora eu vou cair, e não quero trazê-la junto comigo. Seria demais para mim ver você tão doce, tão gentil e amorosa sendo corrompida pelos meus problemas." Ele pega minha mão e com a outra coloca meus cabelos atrás da orelha, ele está olhando em meus olhos agora, são profundos e claros, como se eu pudesse enxergar sua alma, da mesma forma que o oceano em águas claras quando nós vemos os peixinhos. Nesse momento eu vejo sua alma.
"Por isso nunca mais diga que eu preferi ela à você. Eu quis você todo o segundo daquela maldita semana. As coisas que me imaginei fazendo com você, caralho. Você nem imagina. Rafaela estava lá só esperando eu estar vulnerável, eu a toquei imaginando tocar você. Eu sei que isso é uma coisa horrível de dizer, mas você precisa entender o porquê não te mereço." Meu peito inflama, estou prestes a cair no chão, minhas pernas estão fracas, meu corpo paralisado e meu coração vai sair do meu corpo. Suas palavras me afetam como nunca outras afetaram. Agora eu entendo. E começo a ter ideia do quão fundo esse barco está. Ele me ignorou por uma semana porque acha que não me merece, porque tem vergonha de quem ele é e medo por me machucar. Confesso que também estou com medo, mas já entrei no barco e molhei meus pés, estou disposta a molhar o resto do corpo, não vou o abandonar para viver dessa forma.
Pensar em Rafaela tocando seu corpo me dói, mas não é com ela que ele quer estar, não é com ela que seu coração está. Ele se abriu para mim, enxerguei sua alma e seus medos. Estou aqui por ele agora, e não vou à lugar nenhum.
Ele está nervoso e vulnerável. Eu toco suas mãos para terminar de cuidar dos ferimentos e ele não recua mais, ele precisa do meu toque. Não sei o que dizer, quero falar para ele ficar calmo porque podemos dar um jeito, quero dizer à ele que não importa o que aconteça eu estarei aqui para ele, mas não consigo dizer, ou por medo ou por insegurança, apenas não consigo, as palavras não saem. Olho para ele e enxergo a imensidão em seus olhos, nunca admirei tanto os olhos de alguém como admiro os dele. São tão profundos e tem tantos significados e sentimentos que eu me perco neles.
"Está tudo bem agora, Pedro. Eu estou aqui e não pretendo sair, então você pode arranjar quantas distrações quiser, eu estou no barco agora, e não sei se ele vai navegar de volta ou vai continuar afundando, mas estou disposta a descobrir." É o que consigo dizer, mas acho que ele entende que quero dizer muito mais do que consigo porque me abraça, é um abraço forte e amoroso, expressa o quão fragilizado ele está, e cada vez que penso em quantas vezes ele desejou um abraço assim e não teve, mais meu coração dói. Quero dizer que não deixarei ninguém machuca-lo de novo, mas não posso. Nossos corações se tocam agora.
"Por que você ainda está aqui?" Ele pergunta se desmanchando de meu abraço e eu o encaro.
"Não, desculpa, eu não quis dizer o que você pensou, não quis ser grosso. Só estou perguntando porque depois de tudo o que aconteceu você ainda ficou para cuidar de mim. Qualquer um no seu lugar teria ido em bora depois daquele lance com a Rafaela."
"É o certo a fazer eu acho, nós cuidamos uns dos outros e é assim que as coisas são. Pelo menos para mim."
"Nunca vi ninguém com o coração tão doce como o seu. Quer dizer, você fica e enfrenta os problemas sejam eles quais forem, eu gostaria de ter um por cento da coragem que você tem para fazer isso. Em poucos dias você lutou mais por mim do que qualquer outra pessoa."
E mais uma vez eu enxergo vergonha em seu olhar, é por isso que ele não fala de seus sentimentos, porque sente vergonha. Ele se sente vulnerável se abrindo assim para as pessoas.
"Está tudo bem agora, ok? Estou aqui por você agora e não pretendo ir embora." Digo tocando seu rosto.
"Agora toma um banho pra você poder dormir, eu estou exausta e gostaria de tomar um banho depois de você." Estou exausta e não só fisicamente, mas mentalmente. Sentir fúria, vergonha, medo, dor por ver Pedro apanhando daquele jeito e ver ele abrindo seu coração e alma para mim em poucas horas me levou à um nível de cansaço que raramente senti antes. Só preciso de um banho quente e minha cama, ainda quero saber o que ouve e quem era aquele cara, mas não tenho forças para essa conversa agora e acho que ele também não.
Ele tira a camiseta e tem uma mancha roxa em sua costela.
"Jesus, Pedro! O que é isso?" Pergunto com os olhos arregalados e assustados, é um hematoma e tanto, deve doer pra caramba. Ele levou tantos socos que provavelmente esse não deve ser o único hematoma em seu corpo.
"Merda, não é nada. Eu só preciso tirar esse sangue em volta."
Ele olha pra mim e eu entendo. Ele precisa da minha ajuda. Merda Sarah, onde é que você está se metendo, em? Mas não dá, preciso ajudar as pessoas, não consigo ver elas em situação de vulnerabilidade e simplesmente deixá-las, é assim que sou. Ele precisa de mim e está acostumado com todos o deixando. Mas não mais, eu estou aqui agora e vou ficar por ele.
"Vem, entra no chuveiro e eu te ajudo" Pego seu braço com calma para que ele se sinta confortável.
E ele tira as calças. Meu Deus. Ele veste uma cueca branca um tanto justa e tem um tanquinho dos Deuses. Ver o Pedro assim, tão vulnerável, tão calmo, dependente de mim e tão lindo me deixa em transe. Até que me dou conta do que está acontecendo, tem um cara semi nu na minha frente. A antiga Sarah teria ficado horrorizada, mas não me conheço mais e não sei o que acontece com essa nova versão de mim. Eu poderia ficar aqui admirando seu corpo lindo por horas e horas, mas me dou conta que estamos no meio da madrugada, no meu banheiro e na casa de meu pai, então saio do meu transe.
"O-o que está fazendo?"
"Tirando a roupa para tomar banho, ou você toma banho de roupa também?"
"N-não, é..."
"Você nunca viu ninguém assim na sua frente, não é?"
Faço que não com a cabeça cheia de vergonha, ele é tão experiente e deve estar acostumado com meninas experientes também, e eu não sei absolutamente nada.
Ele pega em minha mão.
"Tudo bem, Sarah, eu tomo banho de cueca se for mais confortável pra você, ok?" Ele coloca uma mecha atrás da minha orelha e me olha com calma e carinho. Essa é uma das versões mais calmas e carinhosas que já conheci de Pedro, eu sempre soube que ele poderia ser menos idiota se quisesse, o problema é ele querer.
"Você não precisa tomar banho comigo, só tira os sapatos e fica de vestido mesmo para me ajudar a limpar isso aqui. Mas se não quiser fazer isso eu entendo."
"Tudo bem, eu entro com você, mas de roupa e só para te ajudar com o machucado." Eu queria ser mais experiente e entrar com ele naquele chuveiro para tomarmos banho juntos, queria ter coragem para fazer muitas coisas, tem algo nele que faz eu me sentir diferente e corajosa.
Minha mãe é enfermeira e sempre insistiu em me ensinar curativos básicos para o caso de eu precisar um dia, nunca pensei que realmente precisaria, mas cá estou eu e agradeço aos céus por isso.
Me aproximo com calma e entramos no chuveiro, é uma sensação incrível. Ter a alma lavada por água quente é o remédio para tudo.
"Vem, vira de lado pra eu dar um jeito nisso aqui." Digo me esforçando para não babar diante desse monumento.
Ele se aproxima e eu o toco delicadamente.
"Ai" Ele recua.
"D-desculpa, eu...Eu vou mais de vagar."
"Não, está tudo bem."
E eu passo uns cinco algodões até tirar todo o sangue de sua costela. É um machucado bem feio, provavelmente vai deixar alguma marca. Ele tem um ombro tão firme, um corpo lindo, não canso de admirar sua beleza, poderia ficar horas olhando para esse tanquinho dos Deuses. E quando vejo já estou com as mãos nele. Ele se vira de vagar e nos encaramos. Mergulho na profundidade de seus olhos e me afogo neles.
Nossos lábios se tocam e me entrego à eles, nos beijamos com fervor e vontade, é como se houvesse vida em meu corpo novamente. Ele desce as mãos para minhas coxas e ergue um pouco o vestido, eu amo isso. Não sei o que aconteceu comigo, mas com certeza essa versão de mim é bem diferente da que fui durante os dezesseis anos da minha vida. Quero entender o que está acontecendo comigo e porque raios eu estou tomando banho com um garoto, coisa que eu não faria nem em sonho a um mês atrás, mas essa é a nova Sarah, uma Sarah da qual estou descobrindo e uma Sarah que não resiste a esse homem, ele domina meus hormônios e não pretendo lutar contra isso.
Meu corpo entra em chamas quando ele beija meu pescoço e me prensa contra a parede, suas mãos estão em minhas coxas e ele sobe cada vez mais. Eu desejo mais e mais. Me sinto como uma mulher perigosa e corajosa e eu gosto dessa versão de mim.
Solto um gemido conforme suas mãos vão subindo e tocam minha calcinha, já estou entregue à ele. É uma sensação nova e incontrolável, eu quero mais e mais.
"Você já foi tocada aqui, Sarah?" E ele toca o centro da minha calcinha, me causando um impulso, e eu gosto do que sinto.
Apenas faço que não com a cabeça e solto outro gemido quando sinto seus dedos gélidos em minha pele. Não penso muito no que estou prestes a fazer, só desejo que ele nunca pare.
"Você quer?" Ele para e me olha profundamente.
Faço que sim com a cabeça. E não me reconheço mais.
"Você precisa dizer, meu bem. Preciso que permita para eu possa fazer você se sentir como nenhum outro fez."
"Eu quero" "Por favor, Pedro." E eu quase imploro por seu toque, vou ter um treco se ele parar agora, preciso de seu toque, preciso que ele continue. Quero mais.
"Pode ser um pouco desconfortável no começo mas vai ser bom, entendeu? Diga se quiser que eu pare."
Eu só faço que sim com a cabeça, não sou capaz de dizer uma palavra. Estou em chamas. Nesse momento não há raiva nem dor, só eu e Pedro.
Ele investe e eu bato a cabeça na parede. Meu Deus.
"Calma. Preciso que se controle, senão vai acordar seu pai e eu vou ser morto aqui mesmo."
E ele vai mais fundo. Com mais força e mais velocidade. Me tortura entrando e saindo de mim com seus dedos. É desconfortável, mas nada comparado ao prazer que sinto nesse momento, estou no sétimo céu.
"Pedro, eu..." Eu quero gritar, nunca senti nada parecido em minha vida.
"Shh, eu sei, meu bem, eu sei. Relaxa, Sarah. Deixa eu te fazer sentir como ninguém fez."
E não sou mais capaz de corresponder aos meus sentidos, estou inerte e vendo estrelas. Eu definitivamente nunca senti nada parecido, mas acho que não sou mais capaz de viver sem.
"Você não tem noção do que faz comigo." Ele enterra o rosto em meu pescoço. Estou ofegante e minhas pernas tremendo. Nem preciso de um espelho para saber que estou vermelha de vergonha.
"Você não precisa sentir vergonha de quem é ou do que faz. A vida fica melhor quando deixa as coisas rolarem."
Assinto.
"Você é tão linda. Onde você esteve esse tempo todo?" E eu fico agradecida que tenha sido tão bom para ele como foi para mim, as meninas devem ter lhe proporcionado muitos prazeres, e eu até hoje nunca tinha estado com ninguém em uma intimidade tão grande e tão forte.
"Procurando."
"Bom, eu estou aqui agora, e espero que você não precise mais esperar por ninguém." Ele diz e dá um beijo em minha testa. "Vou deixar você tomar banho direito agora, tudo bem?"
"Sim."
Ele se enrola em uma toalha branca que favorece seu tanquinho lindo e sai.
Meu Deus. É tudo o que consigo pensar, Meu Deus.

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