Você me amando gostoso...
Oceana.
Sentada em uma cadeira desconfortável, observando médicos e enfermeiros guiarem seus pacientes e familiares para lá e para cá, estou eu, a espera do meu nome ser pronunciado, para a minha terceira consulta nesta mesma semana. Olho para o lado, e vejo uma criança perto de uma máquina de café, com um olhar indeciso entre pegar o café, ou ir até sua mãe, que lhe chama entre os dentes.
Seus cabelos sedosos em cor clara, caindo sobre seus olhos e suas bochechas rechonchudas avermelhadas, me faz ter vontade de voltar para infância, onde eu não tinha preocupações com nada, só me importava em comer e brincar, sem me preocupar com o dia de amanhã. Reviro os olhos ao perceber que meu nome é o próximo a ser pronunciado, eu não aguento mais esse lugar, mas ao mesmo tempo, já o considero como minha "segunda casa".
— Oceana Moore Brown? — Escuto a voz grave do Dr. Will, ao final do corredor branco e gélido.
Levanto lentamente, me agarrando aos apoios da cadeira desconfortável e sigo em direção da sua sala, onde sua porta também branca, se encontra encostada. Sentado atrás de uma mesa de carvalho escura, Dr. Will, aponta com o queixo quadrado e barbudo em direção de uma cadeira há sua frente, sigo até ela e me sento, encarando o homem de cabelos grisalhos, na faixa etária de seus quarenta á quarenta e cinco anos.
— Boa tarde Oceana, o que lhe traz aqui pela terceira vez, só nesta semana? — Questiona o mais velho, com seus olhos castanhos cansados olhando em minha direção.
— Passei mal outra vez, e creio eu, que o remédio que estou usando a quase dez anos, não está mais fazendo seus devidos efeitos. — Respondo, em tom de voz baixa, pois minha cabeça está prestes a explodir.
— Hum... o que sentiste desta vez? Náuseas?
— Não, pior. Dessa vez veio o pacote completo, senti náuseas, dor de cabeça aguda, que estou sentindo até agora, e tonturas.
Vejo Dr. Will me avaliar, com uma das suas mãos em seu queixo, ele pega o seu bloco de notas e escreve algo, que acho ser um novo "coquetel" de remédios, que irei ter que tomar. Estendendo sua mão, vejo que só há um nome escrito. Anti-hipertencivo. Leio mentalmente.
— Você toma o Anticoagulante a bastante tempo, então de um ano para cá, seus sintomas estão ficando cada vez mais intensos, quero que você tome o Anti- hipertensivo junto ao Anticoagulante. Ok Brown? — Diz e me fita com seus olhos pequenos.
Balanço a cabeça em concordância, observando-o marcar algo em sua agenda, Dr. Will é como um tio para mim, ele era muito amigo do meu pai, então após a sua morte, ele me amparou e cuidou de mim, pois minha mãe, não ligava para mais nada depois de perder meu pai e os movimentos de suas pernas, em um acidente de carro, onde ele foi a óbito, e ela sobreviveu, mas ficou com sequelas, e simplesmente, se esqueceu que eu existia.
— Bom, sua próxima consulta está marcada para o dia 24, iremos fazer outra Angioressonância.
— E vamos torcer para meu aneurisma cerebral não estar prestes a romper. — Digo e dou um sorriso amarelo, cansada dessa batalha a quase dez anos, onde eu passava pela ressonância magnética com medo dos meus vasos sanguíneos estarem prestes a explodir.
Dr. Will apenas acena com a cabeça, e me dá um meio sorriso carinhoso e acolhedor, ele sempre esteve ao meu lado, foi ele quem descobriu que algo não estava certo comigo, pois desde muito nova, sofria com dores de cabeça agudas e náuseas, e com apenas doze anos, fui diagnosticada com aneurisma cerebral. E para a minha surpresa, estou durando até hoje.
Infelizmente.***
Em frente a casa que morei por vinte e dois anos e moro até hoje, respiro fundo ao colocar a chave na fechadura e girar. Entro e fecho a porta, dando de cara com a sala vazia, vou até a cozinha que é logo em frente, sendo dividida da sala somente por uma bancada branca de mármore. Olho em volta e não vejo ninguém. Ela deve estar no quarto, como sempre. Penso.Dobro para a direita ao sair da cozinha, e sigo para uma das três portas que contém no corredor a seguir. A primeira é meu quarto, que fica ao lado direito, ao lado dele o banheiro, e um pouco mais afastado, ao lado esquerdo, é o quarto de dona Estela.
— Mãe? A senhora está aí? — Ah, que pergunta a minha, ela nunca sai do quarto.
Bato na porta duas vezes, não obtendo respostas ao bater novamente, decido entrar. Observo o quarto escuro e com as janelas fechadas, juntamente as cortinas. Mamãe teve outra recaída. Penso ao observa-la de cabeça baixa, segurando a foto de casamento dela com o papai. Já se passou dez anos desde a morte dele, mas todos os dias em algum momento, ela chora.
— Mãe, cheguei. A senhora precisa de alguma coisa? Está com fome? — Falo baixinho, a olhando secar suas lágrimas.
Ela apenas balança a cabeça negativamente, dando umas fungadas e respirações entre cortadas.
— Ok...bom, vou fazer um lanche para comer, e vou trazer para senhora.
E como resposta, ela me dá apenas seu silêncio. Saio do quarto e vou para o meu, troco de roupa e sigo para o banheiro para um banho rápido, preciso me livrar desse cheiro de hospital. Após o banho, já vestida com algo leve e de cabelos lavados, sigo para a cozinha, faço um sanduíche para comer e pego um pouco de suco. Enquanto como mando uma mensagem para meu chefe, dizendo que estou bem e que amanhã logo cedo estarei lá para trabalhar.
Pego um prato e coloco um sanduíche, junto com um copo cheio de suco. Apoiando o prato e o copo na mão esquerda, com a direta livre abro a porta devagar do quarto de mamãe e entro. Dona Estela olha do prato para eu, mas sua expressão continua a mesma, demostrando tristeza, desolação, e raiva. Tristeza por perder seu amor, desolação por estar presa em uma cama sem conseguir se levantar sozinha, e raiva, principalmente, de mim, por eu não estar aproveitando a vida, como ela me disse uma vez, mas sim ficar pressa a ela. Ela acha que é um estorvo para cuidar dela, mas...o que ela ainda não entendeu, é que eu faço isso por livre e espontânea vontade, e por amor, apesar de tudo, ela sempre será minha mãe.
Enquanto ela come devagar fitando a tv desligada, sigo para fora do quarto indo em direção ao banheiro, onde pego sua cadeira de tomar banho e a abro, posicionando abaixo do chuveiro, volto para o quarto e separo toalha, roupas íntimas e um vestido de mangas florido largo. Após deixar tudo em cima da cama, pego sua cadeira de rodas e vou até ela, que já me observa após ter terminado seu lanche.
— Você sabe que não precisa fazer isso todos os dias. — Diz se referindo a sempre eu fazer esforço, para tirá-la da cama e levá-la para o banheiro.
— Eu sei, eu não preciso, eu quero. — Vejo seus lábios se curvarem levemente em um sorriso, que se não prestasse atenção, não poderia perceber.
Chego perto dela e me abaixo, respiro fundo e a ergo em meus braços, mamãe sempre foi magra e baixa, ao contrário de mim, que puxei ao meu pai, que era alto e forte. E com o tempo, já me acostumei a pega-la no colo sem esforços. A coloco na cadeira e a levo para o banheiro, levanto ela de novo que se segura em pé em uma barra de ferro na parede, que foi posta no banheiro para ajudá-la á se manter em pé, enquanto tiro suas roupas.
Após despi-la, a coloco em sua cadeira específica para banhos. Ligo o chuveiro e lhe entrego sabonete e shampoo. Saio do banheiro e a deixo ali, tomando seu banho sozinha, e sigo para seu quarto para trocar as roupas de cama. E entre um minuto e outro, vou até a porta do banheiro sem que ela me veja, para saber se está ocorrendo tudo bem.
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Com amor, da eternamente sua, Oceana.
ChickLitEu te amei, desde a primeira vez em que te vi. PLÁGIO É CRIME.