E você quebra as minhas pernas
Oceana.
Daqui de onde estou, consigo ver o pôr do sol, deve passar das seis horas da tarde, em pé com os pés afundados na areia branca e fofinha, fecho os olhos e tomo uma respiração profunda. Olho para trás e vejo Asher, sentado na areia, com uma grande folha sulfite branca, apoiada em um caderno vermelho de capa dura, contemplando a bela vista que temos a nossa frente.
Creio que ele está fazendo mais um de seus lindos desenhos, levanto a câmera pesada em minha mão e tiro fotos discretamente suas, vendo como ele muda as expressões, a cada linha feita com o lápis carvão em sua mão.
Vejo como ele franze o cenho, quando não consegue de primeira, colocar no papel o que vê á sua volta, vejo como ele bufa e revira os olhos, ao sentir alguém passar ao seu lado em movimentos bruscos. Ou até então, como ele faz um grande bico, ao ver o vento soprar areia em sua direção. Perfeito.
Caminho até ele em passos leves, sento ao seu lado na areia e olho para frente. Ficamos em silêncio por um bom tempo, e ao eu conseguir ver pelo canto dos olhos que ele terminou o desenho, e guardou cuidadosamente sua folha dentro do caderno, me viro para ele.
— Eu estou doente, Asher.
Fecho os olhos e quando os abro, vejo um par de esferas verdes me analisar calmamente.
— Como assim? Você pegou algum resfriado? Quer que eu compre um remédio para você?
Vejo-o fazer menção de levantar, e apenas nego com a cabeça, com um leve sorriso nos lábios.
— Não Asher, eu não estou resfriada.
— Então me explica, não compreendo.
Respiro fundo outra vez, tomando coragem para abrir a boca novamente, e olho para ele, que preocupado pôs a me observar.
— Eu sou uma pessoa doente, Ash. —Vejo ele tentar argumentar, mas apenas levanto a mão, em forma que ele espere e faça silêncio. — Asher, eu sofro de uma doença a dez anos, chamada aneurisma cerebral.
— Porque...porque você não falou disso comigo antes, Oceana?
— Por medo, eu tinha medo. — Puxo as pernas até o peito e apoio a cabeça nelas, ficando em silêncio e começando a chorar baixinho.
— Medo de que porra? Fala comigo Oceana.
Escuto sua voz entre cortada, após passar alguns minutos.
— De você desistir de mim, de você desistir de nós. Eu... eu te amo Asher, e não suportaria se você me deixasse.
Sinto os soluços me sufocar.
— Eu...eu não sei o que falar. Você mentiu para mim, Oceana, você mentiu sobre algo tão sério. — Olho para ele que levanta com os olhos cheios de lágrimas, as deixando escorrerem por sua pele clara, agora meio rosada por passar a tarde no sol.
— Eu não sei nada de relacionamentos, mas eu sei que nada pode começar com mentiras, era por isso que você tomava os remédios, era por isso que quando eu perguntava, você ficava calada, trocava de assunto e fingia que nada aconteceu. Eu te perguntei tantas vezes, Oceana, eu te perguntei tantas vezes...Nesse momento os soluços que eu tentava segurar, já saiam a todo vapor, sem controle das minhas próprias emoções, lágrimas escorrendo de meus olhos fazendo minha visão embaçar, fazendo meu nariz entupir, e por um momento, queria não ter falado nada, queria não ter chegado nele sem o preparar antes e lhe dizer que, está ao lado de uma pessoa que a qualquer momento, pode fechar os olhos e não abri-los mais. Se eu não falasse nada, estariamos deitados na areia, rindo de seu palavreado baixo, e das pessoas que passavam e tentávamos adivinhar com que nome elas combinariam.
— Me desculpa, desculpa... — Enfio a cabeça entre as pernas. — Você pode ir embora se quiser, é assim que todas pessoas fazem ao saber que ao seu redor, tem uma pessoa doente, que por carência, acaba ficando dependente de qualquer um que lhe da mais que alguns minutos de atenção.
Silêncio, é tudo isso que ouço até agora, o céu já está escuro, os garotos já tinham ido embora muito antes da minha iniciativa de contar a verdade para Asher, e as poucas pessoas espalhadas conversando pela praia, estão longe o suficiente para se importar conosco.
— Eu não vou embora, porque, eu amo você. E eu não abandono quem amo. Mesmo que essa pessoa tenha mentido para mim, sobre algo tão sério, que está fazendo meu coração dilacerar no peito, só ao pensar que em qualquer momento, posso perder a pessoa que mais amo, que mais amei e que, desde o início, só me fez bem.
Sinto meu coração no meu peito aquecer, e ao mesmo tempo, se partir, ao saber que magoei a pessoa mais importante para mim.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Com amor, da eternamente sua, Oceana.
ChickLitEu te amei, desde a primeira vez em que te vi. PLÁGIO É CRIME.