França, 1885
Poseidon cuidadosamente encostou ao máximo a porta da primeira sala vaga disponível, sem efetivamente fechá-la, antes de virar-se novamente para ela.
- Não acha toda essa preocupação com uma questão de decoro seja um tanto irrelevante agora?
- O quê?
- Não é como se fossem nos obrigar a fazer algo diferente do que você e meu pai já estão negociando.
- O seu tato com a nossa relação me comove, sabia? Mas não é com um possível casamento que estou preocupado, Atena. Estava apenas tentando lhe poupar de um escândalo, mas se sua honra significa tão pouco para você, realmente sou um tolo, porque compreendi tudo errado.
Atena vacilou sua pose fria e estremeceu.
- Me desculpe. Foi... bastante atencioso da sua parte preocupar-se com isso, obrigada.
- Não tem de quê. Agora vamos ao que me fez querer falar com você, em primeiro lugar. - Como se finalmente relaxasse, permitiu que um sorriso largo se espalhasse por seus lábios - Admito que tem sido interessante observar você fingindo naturalidade e adotando essa postura cortante comigo, mas preciso confessar que sei seu segredo, loira. Estava guardando para mim, mas para evitar futuras situações como esta há pouco, acho importante falarmos.
- E o qual é esse mistério que você julga ter descoberto, Sr. Legrand?
- Seu secreto nome do meio. Caitria.
Poseidon optou por ser direto e, em defesa de Atena, seus olhos se arregalaram só um pouquinho, especialmente nos cantos e praticamente ninguém teria notado, mas ele sim, e foi extremamente prazeroso.
- Parabéns. De fato suas habilidades investigativas são impressionantes. - Retorquiu a jovem, tentando retomar a compostura. - Se isso fosse algo relevante, claro.
Por que o coração acelerado como se eu houvesse sido pega cometendo um crime? É só um nome, por deus!
- Ah, mas não é só isso... Além de ele jamais ter sido mencionado, o que por si só já considero deveras interessante, você não vai acreditar o que esse seu nome esclareceu para mim.
- E o que isso seria?
Se ela recuasse um passo a mais sequer, encostaria na mesa de madeira maciça e se veria totalmente encurralada.
- Que você é uma dama absolutamente virginal. – Revelou enquanto tocava-lhe o queixo numa provocação que não pode evitar.
- Não sei nem o porquê estou me dando o trabalho de responder-lhe após uma indelicadeza dessas, mas isso não seria meio óbvio? Estou praticamente me tornando sua noiva. Não o seria se já estivesse manchada.
Ela afastou o toque dele e cruzou os braços, torcendo para que não ficasse evidente o quanto suava frio.
- Não, não é isso que estou falando e você não precisa fingir esse ultraje todo com a sugestão em minha frase anterior. A afetação não combina com você, querida. O que quis dizer é que não é uma situação temporária, como as demais debutantes: você foi criada para ser virgem, e não uma esposa. Não sei o porquê, seria tolo em fingir compreender toda a amplitude desta situação, mas explica basicamente tudo que há de diferente em você.
E, num instante, de apreensiva ela passou a ser dominada pela raiva. Como ele se atreve?!
- Ah, fico grata em ter tido minha personalidade reduzida a essa questão, mas quer saber? O senhor tem razão. Atena, a virgem. Há! Está em busca de entretenimento, monsieur? Então acomode-se e deixe-me lhe contar a minha história.
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Amarras
RomanceMadeira é o destino de Poseidon. Duro, seco, oco. Pérolas são as aparências que Atena e os Hugh insistem em manter. A altiva frieza e distância que ela colocou entre si e o mundo. Conchas são um presente singelo e significativo. É a quebra de barrei...