Epílogo

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Dias atuais

"Se os romances duram mais que o tempo

Nada poderia separar seu coração do meu"

- Mais que o Tempo, Taryn

Qualquer um que já houvesse se deparado minimamente com uma estrutura hierárquica na vida saberia quem estava no comando daquela turma. Não, não era a professora, ainda que a posição de liderança aparentasse ser dela.

A loira não era refém das aparências, e por isso não se importava. O que era realmente relevante para si era manter seu histórico impecável como melhor aluna e, se por vezes isso implicasse em inclusive superar seus mestres no domínio das disciplinas, muito que bem. Ela passara a aceitar o fato "inevitável" quando o passar dos anos apenas ampliou sua esperteza infantil, ao invés de desvanecê-la gradativamente como era esperado.

Era Atena quem ditava o ritmo da classe, com suas perguntas e provocações espertas. Mal haviam iniciado o ano letivo – uma semana de aulas completas, apenas – e novamente era essa a realidade que se estabelecia. Tudo como de costume.

Chegara cedo na sala, aproveitando-se daquela vantagem para escolher seu lugar favorito – a primeira carteira ao lado da janela, de onde podia enxergar perfeitamente tanto a lousa quanto o calçadão cujo destino final ela sabia ser a praia. – e distraíra-se das conversas ao seu redor organizando impecavelmente seu material sobre a mesa.

Afrodite falava sobre a série de moda que maratonara nas férias e Ares marcava uma partida de futevôlei com os colegas quando ouviu o som de alguém aproximar-se correndo seguido da indiscutível voz de Hermes reclamando com alguém à porta:

- Ei, cara, que tal sair do caminho da próxima vez, hein? Eu quase me esborracho no chão!

- Talvez porque a sala de aula não seja local de apostar corridas, senhor Costa. – A professora, que acabara de adentrar a classe, se dirigiu diretamente ao piadista da turma sempre envolvido em travessuras.

Revirando os olhos, Atena nem se digna a olhar a cena, sabendo que o colega certamente se dirigira para o fundo da sala, emburrado por ter sido advertido.

Aquela cena era tão comum que a estudante já conhecia cada um de seus detalhes de cor e o restante da aula segue normalmente até o instante que a sala é questionada à respeito de um evento particular da história do Brasil e, se normalmente já seriam poucos os alunos a se arriscarem a responder, agora, logo após as férias, o fato era ainda mais raro.

Sabendo ser a única a levantar a mão, Atena nem espera a permissão da professora e discorre sobre o tema com precisão.

- Parabéns, Atena! Precisa como semp – A professora não foi capaz de finalizar sua fala, porque um riso abafado se fez ouvir, seguido de um único comentário feito em voz baixa, mas perfeitamente compreensível vindo da voz potente que o proferira:

- Humpft. Patético.

A interrupção no elogio que a professora dirigia à prodígio da sala despertou uma espécie de frenesi silencioso nos demais alunos e, um a um, todos voltaram-se para o colega recém-chegado que sentara-se no fundo com as pernas cruzadas despreocupadamente por cima da mesa escolar e dirigia um olhar zombeteiro a qualquer um que ousasse encará-lo.

Atena foi a última a virar-se – os ombros muito tensos – sem saber muito bem o que esperar. Não associara a voz a ninguém que conhecia, embora ela lhe soasse familiar. Seria ele apenas um engraçadinho tentando se enturmar? Um adversário intelectual à altura? Um inimigo desagradável?

Quando os olhos cinzentos fixaram-se nos verdes, entretanto, não houve animosidade ou repulsa. A mente da jovem permaneceu em absoluto silêncio por mais um momento e com uma única piscadela, o moreno mostrava-lhe que igualmente a conhecia (e reconhecia) muito mais do que a situação dava a entender.

Atena franziu as sobrancelhas, mas no fim não foi capaz de conter a gargalhada que despontou de seu âmago, ainda que todos os colegas de classe observassem sem entender.

(A professora, entretanto, estava sorrindo. Seus olhos impossivelmente verde-água, quase como... mágica.)

A questão é que existem coisas que não são para serem compreendidas, uma velha bruxa proferira muitos anos atrás. Estamos todos cercados. Por energias e vislumbres da realidade que representam algo a mais. Por mistérios que completam-se e convergem uns para os outros. Por verdadeiras forças da natureza.

Já se foi o tempo da crueza e distância. Venceu-se tudo de frágil e estabeleceu-se o compromisso cíclico de atingir o etéreo e a liberdade.

A partir disso, o desvelar místico do destino é um mistério.

Eterno reencontro, afinal.

"It's a love story.

Baby, just say 'yes'."

- Love Story, Taylor Swift

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