Renda & Maresia - Capítulo 27

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França, 1885

Atena se encontrava muito acomodada em uma das confortáveis poltronas da biblioteca de sua tia depois de retornar para a propriedade dos Gareth e informa-lhes que a data escolhida para o enlace matrimonial seria no início da primavera. Estavam ainda na primeira quinzena de março e aparentemente aquele era tempo suficiente para providenciar todos os detalhes necessários. Graças a um comentário pouco sutil do padre, a data havia sido curiosamente sugerida por seu próprio sogro em algum momento anterior, então quem era ela para discordar, não?

Sabia que seu pai saíra para encontrar-se com signor Ferrari e também para ter com o próprio Jacques para discutirem quaisquer termos do noivado que lhe competissem. Ela mesma não sabia determinar com exatidão quais eram, mas sinceramente tudo que desejava era relaxar por uns instantes.

A verdade é que seu humor estava infinitas vezes melhor do que podia imaginar e era um alívio tão grande não ser soterrada por aquele peso nas costas. Não ter mais de contrair o estômago à mera menção da aristocracia russa, imagine só! Quem diria que um dia agradeceria tanto por ter conhecido Poseidon...

Ele próprio não era nada mal por si só, teve de admitir a si própria enquanto retomava um parágrafo inteiro que lera sem prestar atenção. Um homem esperto, que vinha mostrando-se capaz de lhe entender de modo surpreendente, ainda que fosse impossivelmente distinto, e ademais muito bonito e charmoso... Havia uma infinidade de jeitos piores de imaginar seu futuro, então resolvera se permitir ficar contente.

É, "contente" parecia bom. Inofensivo.

Poucas páginas depois ela percebeu que tinha companhia na biblioteca.

Por cima da lombada do livro observou que Artemis e Héstia haviam se aproximado e se acomodado próximas, cada uma com um livro para si, ainda em silêncio.

Hum...

Não foi preciso muito mais tempo para que a loira desistisse de vez da própria leitura, fechando o exemplar e repousando as duas mãos em seu colo, observando atentamente as duas irmãs.

- Vamos, podem me dizer logo o que querem perguntar.

Héstia riu e fez um sinal de rendição, as duas palmas abertas na altura dos ombros, tudo aquilo lhe sendo muito divertido.

- Só estou aqui de companhia e apoio moral, é Artie quem tem um questionamento.

- Héstia!

- O que foi? Só disse a verdade...

- Quem precisa de inimigos com uma irmã assim? – A morena murmurou, embora não estivesse ressentida de fato. Seu espírito ranzinza era muito mais fruto da confusão que lhe atormentava há dias.

Atena olha para sua irmãzinha caçula, em um instante notando como crescera tanto. Somava já dezesseis anos – dezessete em poucos meses – e agora a diferença de idade entre elas se fazia cada vez mais irrelevante. Apesar disso, sente uma mansidão e um carinho quase maternal ao observar suas duas melhores amigas, confidentes e parceiras diante de si, naquela proximidade cúmplice tão boa e isso serve como um lembrete para aproveitar tanto quanto possa a companhia das duas enquanto as tem junto de si.

Sabe racionalmente que sempre serão irmãs, mas aquele é o primeiro momento em que se dá conta de que algo certamente vai mudar quando deixar o conforto conhecido da família Hugh para unir-se a Poseidon. Será que voltariam para a Rússia na sequência, deixando-a sozinha? Quanto tempo até vê-las de novo?

Seu coração se aperta um pouquinho, já com saudades, e é decidindo fazer cada um daqueles preciosos instantes durar na memória, que carinhosamente ajeita uma das mechas rebeldes de seu cabelo atrás da orelha e lhe indica que está toda ouvidos.

AmarrasOnde histórias criam vida. Descubra agora