Mar Tirreno, 1885
O Olympique oscilava ao sabor das ondas e, em sua proa, a movimentação era intensa. A tripulação faria sua primeira viagem em um bom tempo e todos estavam mais que ansiosos para retornar ao mar, o chamado da água salgada mais potente do que o de qualquer sereia.
Além disso, uma excitação dobrada dominava cada homem à serviço de Poseidon: corria em boca miúda que teriam a permissão para realizar serviços "extraoficiais" durante o percurso. Fobos e Deimos, sempre muito fãs de ações potencialmente mais violentas, comemoravam com um comprimento próprio e um sorriso largo.
- Almirante, fique à vontade para dar o sinal caso aviste qualquer barco com potencial para saque, menos o Stella De La Sera. – A recomendação ia além do medo. Qualquer um identificaria uma profunda admiração em sua voz. – Não é prudente mexer com os Barbieri.
Era chegada a hora. A noite anterior, tão agradável, lhe dando ainda mais motivos para se empolgar. Embora, é claro, estivesse tentando não pensar muito no fato de que talvez tivesse começando a apreciar demais a companhia de Atena, mas essas questões ele resolveria depois, quando retornasse. Agora era o momento de assumir o papel que fazia melhor. Precisava se concentrar e deixar que o conhecimento adquirido ao longo de anos de prática lhes conduzisse a mais um sucesso.
Postou-se no deque atrás do leme, com Hermes ao seu lado para ajudá-lo com o que fosse preciso. Respirou fundo e começou a checagem:
- Intendente, provisões a bordo?
- Todas devidamente armazenadas, senhor.
- Timoneiro, tudo certo?
- Sim, capitão.
- Mestre, a tripulação está pronta?
- Marinheiros em seus postos e preparados.
- Montador?
- Tudo okay com os cabos, chefe.
- Velas?
- Içadas.
- Âncora?
- Subindo.
Até seus olhos sorriam, ao proferir as próximas palavras:
- Sendo assim... – Cada par de olhos estava vidrado em si, e um deles reluzia de modo ainda mais especial. Ícaro, mal podia crer que, após tantos anos, sentiria o chão não tão firme sob seus pés, da melhor forma possível, enquanto cruzava o oceano. – Tripulação... zarpar.
O horizonte era uma obra de arte e, quando a calmaria se estabeleceu, todos executando suas funções como em um relógio, sua mente viajou para certos olhos que, tal qual o mar encontrando o céu, eram igualmente azuis.
Em uma das danças da noite anterior, recordava-se do momento em que ela lhe questionara a respeito de sua profissão, pois tudo o que sabia era que trabalhava com barcos, e ele buscou elucidar lhe da melhor forma.
- Então você é uma espécie de pirata?
- Pode-se dizer que sim. Isso ou corsário, marinheiro também serve, como preferir...
- Pirata então será. – Ele teve a impressão de que, junto com o sorrir maroto, Atena também apertara-lhe o ombro suavemente. – É mais emocionante.
Poseidon não conseguia parar de pensar nessa conversa que tivera com sua quase noiva no baile de máscaras, bem como na ponderação acerca da velocidade com que deveria tirar o "quase" da frente daquele substantivo, considerando o interesse que vários cavalheiros demonstraram nela. Cerrou os punhos jurando que a irritação era por mera questão tática, por medo de seus planos serem frustrados depois de tanto esforço. Por Deus, não era ciúmes. Não podia ser.
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Amarras
RomanceMadeira é o destino de Poseidon. Duro, seco, oco. Pérolas são as aparências que Atena e os Hugh insistem em manter. A altiva frieza e distância que ela colocou entre si e o mundo. Conchas são um presente singelo e significativo. É a quebra de barrei...