Dois meses depois...
Victoria Freitas
20 de junho
Rio de JaneiroOlho para a tela do meu celular com a foto do Jonas na capa, abaixo o volume dele e ele fica mudo, indicando que iria tocar mudo. Mamãe coloca os pães de queijo em cima da bancada e a coca cola.
- Não vai atender? É a quarta vez que te ligam. - Dou um sorriso amarelo balançando a cabeça.
- É de São Paulo. - Invento uma mentira e ela me encara semicerrando os olhos.
- São Paulo agora tem nome de Jonas? - Sinto minhas bochechas corarem. - O que houve agora? - Senta do meu lado nas banquetas, pego um pão de queijo e enfio dentro da boca para não falar nada, mas tiro na mesma hora que ele queima minha língua.
- Merda. - Murmuro. Pego o copo de coca e tomo um gole para refrescar.
- Fala logo, Victoria. - Resmunga passando uma faca com requeijão no pão e leva até a boca.
- Aí, eu estou exausta dele, mãe. Ele toda hora fica me controlando, fica enchendo a porra do meu saco, eu não posso sair com as minhas amigas que ele surta, eu não posso postar foto do meu corpo que ele surta, eu não posso ir em festas da faculdade que ele surta, não posso ir ao shopping que ele surta, não posso ir trabalhar que ele surta. - Desabafo sentindo um peso sair das minhas costas.
- Termina. - Ela diz, simplesmente.
- E tu acha que eu já não tentei? Não adianta mãe, ele sempre faz alguma coisa para eu perdoar ele e eu sempre volto. - Passo as mãos pelo meu rosto e respiro fundo.
- Victoria, olha para mim. - Viro o rosto e encaro seus olhos claros. - Tu é uma mulher independente, tem seu emprego, sua casa, seu carro, dona de si mesma, o que te prende a ele? - Reflito sobre suas palavras. - Você não precisa dele e nunca precisou, não vai ser agora que vai precisar. - Eu queria que fosse tão fácil assim, porque na minha cabeça eu preciso dele sim, ao mesmo tempo que ele tem esses surtos, eu o amo, a gente tem uma história por trás.
- Eu amo ele, mãe. Eu queria muito odiar ele por tudo isso, mas temos uma história por trás. - Confesso a ela já chorando litros, não é fácil ser canceriana.
- Você ama os tapas que ele te dá? - Arregalo os olhos me perguntando como ela sabe disso - Eu nunca levantei a mão para te bater, filha. Eu te criei com tanto carinho, passei por tanta coisa pra chegar um vagabundo sustentado pelos pais e te encher de porrada e você não fazer nada, filha. - Ela me olha chorando e pega minha irmã mais nova no colo.
- Eu não queria te decepcionar assim,mamãe. Eu falhei quando disse que nunca aceitaria tal coisa, e hoje estou aqui, passando por isso. - Passo o dorso da mão no meu rosto para limpar as inúmeras lágrimas que desciam - Eu escolhi ser advogada. Eu disse que defenderia as mulheres dos homens maus quando pequena,mas não consegui me defender quando levei o primeiro tapa. Eu o perdoei, e então ele fez novamente.
- Você não merece passar o mesmo que eu, Victoria. Prometa para mim que vai terminar esse relacionamento abusivo e procurar um psicólogo. A menina forte que enfrentava o padrasto para eu não apanhar,não tá mais aqui na minha frente. - As palavras de mamãe ferem meu coração, mas eu sabia que tudo o que ela dissera era para meu bem. Não queria que a sua filha passasse pelo mesmo inferno que ela.
- Eu prometo, mãe. Me perdoa por te decepcionar assim, eu não queria. - Levanto da cadeira para abraça-la. O colo da minha progenitora era tudo que eu precisava naquele momento.
Converso mais um pouco com a dona Patrícia enquanto lavo as poucas louças que sujamos tomando o café. Meia hora mais tarde, Vivian, minha irmã do meio, chega do seu trabalho reclamando de dor na coluna e das cantadas que recebia tanto de homem quanto de mulher. Começo a me perguntar se ela é bissexual por ter falado que mulheres davam em cima dela. Sigo ela até o quarto, bato a porta atrás de mim e ela se assusta.
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Melhor Pra Mim [PAUSADO]
RomanceLivro 1 da série: Segredos da Vida Nada nessa vida é fácil, Jéssica, Lauren e Victoria são a prova viva disso. Depois de passarem por situações difíceis e tomarem decisões que mudariam suas vidas, as três decidiram que era hora de recomeçar e dar a...