❥ Capítulo 33

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Kaique Neto - 01:23am.
Hospital São Vicente

- Kaique, preciso da sua ajuda. Agora. - A Doutora Aline grita no início do corredor.

Corro até ela quase caindo de tanto cansaço, eu estava de plantão há dois dias e só precisava deitar em uma das camas para cochilar. Vejo uma mulher quase desfalecida na cadeira de rodas.

- O que aconteceu? - Pergunto tirando meu estetoscópio do pescoço e checando seus sinais vitais.

- Ela foi picada por abelhas, não está respirando direito. A minha filha vai ficar bem? Por favor, diga que sim. - Uma senhora grita aos prantos enquanto um homem de aparência jovem tenta acalmá-la.

- Várias picadas pode surgir uma coisa chamada C e D, que é uma síndrome que impede a coagulação e... a melhora do paciente. - Digo a sua mãe. - Pressão 190/70 e frequência cardíaca 135

- Isso é ruim?

- Tá elevada por causa da dor. Da quatro miligramas de morfina para ela. - Peço a uma das enfermeiras.

Aplico epinefrina no tubo que levaria até seu corpo, sabendo que ela só quebraria o galho. Eu precivasa de asteroides e anti-histamínicos, que a deixaria muito grogue, mais do que já estava.

- O nível de oxigênio dela tá caindo. - Uma das enfermeiras alerta.

- Eu vou ter que intubar ela. Vamos dar mais duas unidades de sangue. - Peço. - Coloca ela no respirador, prepara a intubação.

Meia hora depois estou saindo da sala de espera após dar a notícia aos seus familiares que a jovem de 19 anos ficaria bem. Tiro as luvas descartáveis jogando no lixo, lavo minhas mãos e higienizo com álcool em gel antes de me dirigir até os dormitórios. Precisava descansar ao menos um pouco, até mesmo as quatro xícaras de café não me aguentava acordado e eu faria uma cirurgia daqui quatro horas.

[...]

Entro em casa tirando a regata que eu usava para correr todo fim de tarde quando não estava trabalhando, puxo a toalha da porta do banheiro e seco meu rosto molhado. Ligo a televisão na Record e vejo o jornalista Luiz Bacci falar de um caso que eu acompanhava, a mulher até hoje não havia sido encontrada e já estava desaparecida há seis dias e os familiares já tinha perdido a esperança.

Passo maionese nos dois lados do pão antes de acrescentar presunto, mussarela e queijo prato. Enfio o pão na sanduicheira e aproveito para fazer um suco natural de laranja. Escolho algumas frescas na fruteira, descasco e coloco no espremedor, despejo o líquido no copo com gelo e acrescento duas colheres de açúcar.

Sento no sofá com o prato do lanche e o copo de suco na mão, desbloqueio meu celular com a minha face e entro no aplicativo de mensagens vendo as trezentas e vinte uma conversas. Tento sair do WhatsApp correndo quando vejo que Larissa estava digitando, mas os meus dedos estavam molhados por causa do suco e eu acabo abrindo a sua mensagem. Bufo em frustação ao ver que ela me chamava para sair mais tarde.

Larissa era uma menina muito legal, crescemos juntos e namoramos na adolescência. Mas acho que esse namoro foi um equívoco, eu gostava dela como amigo e acabou se confundido esse sentimento. Terminamos tranquilo e seguimos amigos, mas transavamos quando sentia vontade. Um erro. Pois ela estava confundindo tudo novamente e eu estava me afastando justamente por esse motivo.

Deixo o celular de lado e vou tomar o meu banho pois entrava no trabalho às sete da noite e pegaria mais um plantão. Eu amo a minha profissão, o sentimento de salvar vidas e contribuir para que as pessoas vivem mais me deixava com um sentimento de gratidão todos os dias. Era claro que eu perdia alguns pacientes, mas nada que se comparava a vidas que eu e meus colegas de profissão salvava.

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