❥ Capítulo 42

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Victoria Freitas - segunda feira.

Intercalo meu olhar entre a cliente a minha frente e a chuva forte que caía do lado de fora e escorregava pelos vidros do prédio onde eu trabalhava. Era difícil chover por aqui e quando acontecia, era uma chuva intensa e com muita ventania.

- Você acha que consegue fazer algo por mim? - Jussara me olha com esperança.

- A sua causa é um pouco complicada e vai depender do viés a jurisprudência norteará o caso concreto. Eu nunca mexi com algo parecido, posso pegar o caso e estudar por uns dias para saber como proceder. O que você acha?

- Eu acho ótimo. Muito obrigada, Victoria. Vou aguardar seu retorno.

- Eu quem agradeço. Qualquer coisa eu te aviso.

Jussara dá um sorriso fraco e se levanta segurando sua bolsa e a pasta com documentos, a acompanho até o elevador e aproveito para pegar uma xícara de café. Eu não havia dormido a madrugada inteira.

Desde quando havia parado com os meus remédios para ansiedade as madrugadas eram insones. Não conseguia pregar o olho e muitas vezes só conseguia dormir quando o meu despertador já estava para tocar, me deixando frustrada e estressada o dia todo. Mas era melhor para mim e como eu não era formada nessa área, não poderia dar a minha opinião sobre remédios controlados.

Antes fosse que eu não tivesse conseguido por insônia, mas a real causa do meu sono era uma pessoa muito teimosa e fofoqueira: Jéssica.

Eu sabia que ela não estava bem há semanas, até esperei para que ela me contasse o que havia de errado mas não obtive resposta alguma. Uma virose não duraria semanas, não caía cabelos e não a deixava fraca como reparei nos últimos dias. Conhecia Jéssica desde muito pequena e o fato de ela não confiar em mim dessa vez para me contar o que de fato aconteceu, me deixou triste e sem esperanças de que ela não confiasse em mim como antigamente. Foi aí que tive a brilhante ideia de descobrir sozinha, evitando o fato de que se ela soubesse que eu sabia, ficaria mais chateada ainda porque eu não respeitei o seu momento e a oportunidade de contar.

Eu estava vivendo essa linha tênue.

No sábado de manhã, quando acordei para correr na orla da praia e não a encontrei na cama me chamou bastante atenção. Uma vez que Jéssica não levantava antes das onze nos finais de semana e nem que se tivesse fazendo uma open no quarto, ela não levantaria. Já tinha deixado claro o quanto Jéssica era bagunceira e nunca arrumava a sua cama pela manhã, por isso ela sempre levantava depois de mim para que eu não brigasse e chamasse a sua atenção. Logo depois de abrir a janela e sentir a brisa do mar nas minhas narinas, resolvi começar a faxina no nosso quarto e foi quando tirei as fronhas do seu lençol que vi uma grande quantidade dos seus fios cacheados sobre o travesseiro.

Ali foi como se algo me tirasse da realidade e me levasse em outra dimensão para que eu tivesse uma noção exata do que estava acontecendo. Jéssica sempre teve um cuidado grande com o seu cabelo e eu nunca vi aqueles cachos ter uma ponta dupla sequer, então se ele estivesse caindo com certeza não era por algo relacionado a falta de cuidado. Pensei na probabilidade de ser falta de ferro no seu corpo, mas ela está tão saudável e por mais que não parecesse, se alimentava muito bem.

Como eu tinha conhecimento em medicina por ter assistido dezesseis temporadas de Grey's Anatomy algo pareceu iluminar a minha mente e então pensei na probabilidade de ser algo relacionado a câncer. Era algo que eu temia, mas por ser bastante intuitiva e todos os pontos ligarem entre si, não consegui tirar essa ideia da mente.

Portanto, resolvi que iria tirar essa dúvida a limpo com Jéssica quando chegasse em casa. O final de semana foi monótono e sem graça e eu não tirei isso da cabeça durante os dois dias. Lua havia perdido a mãe logo depois de voltar de uma viagem que foi justamente para vê-la e a única lembrança que tinha da sua genitora, foi de um ano atrás. Ela não estava bem e eu pior ainda por ver seu sofrimento de perto, era como se eu tomasse todas as dores das minhas amigas e sentisse com elas.

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