Anoitecer

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Capítulo XXV

Rubi narrando:

—O que?! –Pergunta sério e sorrio de lado, encaro o feérico antes de colocar a lamina flamejante de lado, encravado-a na terra.

—Eu perderei essa guerra para que vençamos!

—Mas isso não tem cabimento!

—Tem sim, mas você ainda não percebeu. –Rio esticando a mão e tocando seu rosto, já não sentia mais dor,  a maldição de minha irmã ja fluio para fora de meu corpo. Toco com delicadeza suas orelhas pontudas com carinho.—Eu tenho um servo, o nome dele é Josh, é um ômega fragil que só quer carinho e proteção, ele ficou na alcatéia. Quero que cuide dele, pode fazer isso para mim?

—Por que isso esta parecendo uma despedida?–Seus dedos envolvem minha mão estendida e ele apoia sua bochecha contra a minha palma.

—Porque tenho medo de não conseguir pedir isso depois do dia de amanhã.

—Rubi...seja la o que esteja inventando, não o faça!–Pede, seus olhos brilhando com medo, medo por mim.

—Oh, querido...–Murmuro passando as mãos em seu rosto –Eu ja fiz.

—Majestade...–Uma voz sibila a nossa frente e sorrio me virando para Ioha que se curvava com minha espada em suas mãos, o invoquei ao cravar a arma no chão, o último guardião, o ciclo está completo.

—Meu amigo...–Comprimento e aceito minha espada de suas mãos. –—Está chegando a hora.

—Rubi...–Chama Thoren, o ignoro pois sei que talvez vacile sobre seu olhar, estendo minhas mãos para Ioha que as pega e me puxa para cima com calma. Sorrio novamente para ele que me reverencia.

—Faremos o que for ordenado–Me diz e concordo com a cabeça, ótimo.

—Quero privacidade quando for a hora, conto com você para isso.– O homem suspira, mas concorda com a cabeça.

—Sua vontade é a minha, deusa...– Dou batidinhas em seu ombro e me viro, Thoren ja estava em pé e me olhava como se me implorasse, meu sorriso é fraco, feito de vidro, mas o seguro e estendo uma mão lhe tocando a face,  em resposta ele inclina seu rosto contra minha palma.

—Por favor...Não faça isso, por favor, por favor...Não posso te perder, não de novo...–Pede com a voz estrangulada; eu seguro forte minha parte mortal; a torço e prendo firme, não posso, sei bem disso, ceder. Me aproximo dele e o puxo para mim, encostando nossos lábios, não nos movemos, é apenas um encostar de lábios.
   Seus lábios estão quentes, ou eu que estou fria demais, suspiro demoradamente, nossas testas estão coladas como nossos lábios, abro os olhos e ele o olho, ele está frisando os olhos com força.

—Ao anoitecer...–Sussuro contra seus lábios e ele, enfim, abre os olhos, me encarando profundamente.

—O quê...–Me afasto bruscamente, ainda sorrindo levemente.

—Mantenha o flanco direito firme, majestade...–Digo antes de estender a mão para o guardião que a pega, enlaço nossos braços e nos afastamos, fecho os olhos, firme, firme.

—Vai dar tudo certo...–Diz pra mim, dando um pequeno aperto em minha mão sobre seu braço bronzeado.

—Eu espero que sim...

  Os tambores haviam começado logo antes do amanhecer, acordando a todos que dormiam e assustando os mais jovens e inexperientes . Observo o outro lado do campo de batalha, lembro-me bem desses tambores de guerra de Treva, feito dos ossos de seus primeiros inimigos e envoltos de magia para que nunca envelhecam, tocar um dos tambores é a mesma coisa que tocar em morte, dá agonia, medo e tristeza para os mortais que a tocam,  a mim da repulsa, a minha irmã, prazer. Balanço a cabeça para me livrar dos pensamentos e levo o instrumento que levo nas mãos a boca, Treva tem seus tambores, eu tenho uma corneta. Corneta não é bem o nome correto, o Jugo é feito com o chifre de minha primeira caça, um enorme cervo dos canios que tinham os chifres tão altos que me ultrapassa duas vezes em tamanho.
    Quando assopro o cifre, o som que sai faz a terra tremer e continua ressoando muito depois de eu parar de assoprar. Minha irmã pode ser manipuladora, cruel e sanguinária, mas ela não entendeu o conceito dos instrumentos de guerra.
    Quando tocado, uma alma maculada e suja fara seus inimigos temerem a morte, enquanto isso, uma alma limpa e pura fará o chão estremecer com tamanho poder e moverá montanhas.

Minha irmã só deve ter prestado atenção no "temerem" e "morte"...Não seria nenhuma novidade.

—Tudo pronto!–Diz o supremo aparecendo a minhas costas.

—Fique de olho nos céus durante a guerra, não sabemos o que pode cair dele.–Digo antes de me virar, sorrio para ele e dou batidinhas em seu ombro fazendo o chifre sumir.—Está na hora, essa será nossa última vez nesse campo de batalha contra minha irmã...Perdendo ou ganhando.
   Ele me olha contemplativo ao me acompanhar, cada passada minha é firme novamente, minhas energias estão  restauradas, finalmente .

—Preparem!-–Brado, minha voz ressoando no acampamento todo, lobos, ninfas, feericos, vampiros e muito mais seres correm de um lado para o outro, se preparando para o impacto do encontro com os inimigos. —Ioha, sabe o que deve fazer, Sif, Garat, flanco direito e esquerdo, Turo, quero você nos céus junto das ninfas e as bestas! – Um por um eles respondem com uma reverência e somem, Ioha por último depois de me lançar uma piscadela.

Os preparativos não demoram muito mais e logo estamos prontos, eu estou no meio do flanco central dessa vez, meu alvo não é os soldados de Treva, pelo menos não agora, olho para o céu, ja anoitecia, os tambores do outro lado param, assim como o ressoar de minha corneta.

—Nós lutamos pelo nosso mundo!–Brado alto com minha espada em mãos, sei que prestam atenção em mim — Pela nossa paz, pela nossa familia e amigos, por nós. Para que não tenhamos mais medo do escuro e nem do que se esconde nele, para que nossas crianças cresçam em um mundo livre onde não precisam temer o desconhecido e nem correr dele. Se vencermos, venceremos gloriosos, mas se perdemos, perderemos com honra! Pois sabemos o verdadeiro significado de honra, mostraremos a eles todo nosso saber! –Espadas são batidas contra escudos, devagar no começo até que duas batidas ritmizadas como um coração começa a soar por todo o campo. Fecho os olhos deixando meu próprio coração se ajustar nas batidas de meus guerreiros e termino ainda de olhos fechados —Eu os ilumino, e repreendo qualquer mal que ousar tocar em meus guerreiros, eu os protejo com minha alma, enquanto eu viver, seus ferimentos irão se curar , enquanto eu lutar, eles lutarão, enquanto eu aguentar, suas forças serão renovadas. Que assim seja. ATACAR!

  Avançamos como um só, juntos em passadas longas, não me deixo pensar no que estou prestes a fazer, não posso hesitar nem fraquejar, meu povo depende disso, meu mundo depende disso. Olho para o céu uma última vez antes de batermos de frente com nossos inimigos.

Ao anoitecer
Quando a última batalha for declarada
E guerreada
A lâmina flamejantes se levantarão
No mesmo momento que as lâminas da morte
E elas deixarão mortos pelo caminho
Para encontrarem os seus destinos.

   Levanto minha espada acima da cabeça e giro meu corpo para o lado acertando meu alvo, a cabeça do ogro cai no chão, sinto um estremecer pelo corpo e sei, sei muito bem. É o fim.

Entardecer ⊶Rejeitada Pelo Alpha⊶ 𝑳𝒊𝒗𝒓𝒐2Onde histórias criam vida. Descubra agora